"Fio": Prisões
carranca
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Hoje, 19:29
Forum: Conversas de Café
Voltei porque me apeteceu. Deu-me ganas ao ler. Entristeci ao ler Quental, João. Mas depois sorri e disse-me: vais escrever!
Mas sobre o quê?
Sei lá. Liberta-te! retorqui em voz alta para eu mesmo ouvir.
Verdade?
Monogamia?
Medo?
Exacto, sobre o medo.
E eis-me aqui baralhando, novamente para não ser diferente, porque iguais há e muitos.
Neste processo de me libertar das minhas prisões, tenho-me livrado de incontáveis medos.
Um deles, o maior ou menor pouco importa já que sou livre para não fazer essa contabilidade, era justamente o medo de não ser compreendido, de não fazer sucesso como 'escri-sonhador' de estórias, de morrer sem aqui publicar nada que prestasse, nada que alguém, pelo menos um, ela, gostasse.
Coisas como essas paralisavam-me à noite, causavam-me suores secos e frios, impediam-me de ser feliz. Hoje, são só palavras. Antigamente, sei lá se há muito ou pouco tempo, eu amarrava o meu ego integralmente às minhas estórias. A minha razão de ser nesta sanzala era escrever. Eu não era o JC, eu era um escritor ou, pior, um projecto de escritor.
O principal escritor do movimento beat americano, escritor fluido e espontâneo, adorava passear pelos Estados Unidos, entre os mendigos, os sem-abrigo, os andarilhos. Eram pessoas sem futuro, muitas vezes sem passado, que viviam apenas para o presente. Não esperavam nada da vida. Ele admirava isso, não conseguia ser assim. Os andarilhos viviam sem esperança alguma, a não ser aquela secreta esperança eterna só obtida dormindo majestosamente ao relento na estrada. Quando me libertei dessa esperança, quando passei a, sinceramente, estar-me nas tintas se meus esforços escrivinhatórios seriam recompensados com protecção social ou não, pude experimentar um pouco da felicidade primordial, da liberdade profunda que buscava.
Descobri que minha única obrigação era ser um homem feliz e realizado. Se eu fosse isso, tudo já estava resolvido. O resto era sintonia fina.
Na prática, se quero alguma coisa (ser escritor, ganhar um milhão de euros, conhecer Paris, Joanesburgo, Londres, Quarteira, Luena, Dubay, tocar na Penélope Cruz, Jennifer Lopez, etc) é porque acho que isso vai-me fazer feliz e realizado. Mas dei conta de que não precisava de nada, literalmente nada, para me sentir feliz e realizado. Esse processo é puramente interno e 100% sob meu controle.
Então, em vez de querer ser escritor de sucesso para ser feliz e ser realizado, basta-me ser feliz e realizado.
Sei lá se voltarei a falar sobre o medo. Se voltar é porque voltei, se não, é porque não.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Rádio Portimão
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