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13 de maio de 2005

Prisões 49 - Erro médico

Este texto é directa e originalmente colocado aqui. Desta vez não quis mostrar primeiro na Sanzalangola como habitualmente, pela simples razão de que lá tem havido menos de meia dúzia de RUIDOS que conseguem tirar todo o prazer de quem escreve estas linhas. Assim, uma pausa, um recuperar de energias, um arrefecer de ânimos, estou certo far-me-á bem, assim como àquelas que tinham, a pachorra de me ler por aquelas bandas.

Dá-me vontade de gritar... "A culpa é sempre do preto, neste caso do médico", mas não quero ser politicamente incorrecto, não quero ir contra a forma em que fui educado, a forma em que vivo a minha vida e a filosofia em que me tenho pautado.
Isto vem a propósito da medicofobia demonstrada por essa menos que meia dúzia.
O marcado interesse por encontrar sinais que levem o médico a descobrir a
patologia do corpo, controla o acto médico. Este interesse determina a
ocorrência de um ritual, assim será que o grande destino do intelecto médico,
neste pretendido acto, é instaurar o domínio da razão e a confirmação do poder
do seu saber. Na história fragmentada de todo um universo simbólico que se chama
paciente concentra-se só naquelas chaves codificadas na especificidade
biológica. A história clínica, pondo a descoberto o ser humano, intrincado
complexo de produção de vida, com traços biológicos, psíquicos, sociais e
culturais que dão sentido de totalidade ao mesmo tempo que da
individualidade

O facto é que, no entanto, esta abordagem dá que pensar.
É devido a esta abordagem que temos, todos os dias, pessoas que têm um avô de 91 anos, que sofre de insuficiência cardíaca do tamanho de umas casas em que o coração não cabe na caixa torácica, de insuficiência renal com um grau enorme, para além de ser diabético e hipertenso, e ainda se lembra de apanhar uma pneumonia e que o leva à morte, vão a correr para a TVI, Correio da Manhã ou 24 Horas, mesmo antes de porem o processo no Ministério Público (Título em letras garrafais: família pensa pôr processo a médico do Hospital X), porque, afinal, a culpa é do sacana do médico, que não soube diagnosticar a tempo!
É certo que, durante o curso de medicina, nos é impingida uma cultura de perfeccionismo. Cultura essa que nos segue em cada segundo em que estamos a exercer. Cultura que nos leva a fazer uma Medicina defensiva e por isso mais onerosa quer para o Estado quer para a condição física e psiquica do médico. Somos educados para não falhar, mas o certo é que, como seres humanos que somos, não podemos evitar certo e determinado tipo de erro, ainda que sob condições de funcionamento "ideais" - ou seja, haver bom ambiente de trabalho e os médicos estarem em condições perfeitas de saúde física e mental .Claro que, como em tudo na vida, hoje em dia ninguém, é 100% santo (nem os Santos Padres... quanto mais uma classe inteira...) e os erros com negligência, e, até mesmo, com dolo, acontecem. E há mecanismos para isso. Há meios ficazes para combater isso. Mas não há pachorra é para estar constantemente, minuto a minuto, ouvir a mesma música qual martelada constante e ritmada. Se têm complexos socorram-se de psiquiatras e psicólogos, mas não esteja a chatear quem dá o seu melhor. Cansei-me de ouvir o Angola é Nossa!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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