Dá-me vontade de gritar... "A culpa é sempre do preto, neste caso do médico", mas não quero ser politicamente incorrecto, não quero ir contra a forma em que fui educado, a forma em que vivo a minha vida e a filosofia em que me tenho pautado.
Isto vem a propósito da medicofobia demonstrada por essa menos que meia dúzia.
O marcado interesse por encontrar sinais que levem o médico a descobrir a
patologia do corpo, controla o acto médico. Este interesse determina a
ocorrência de um ritual, assim será que o grande destino do intelecto médico,
neste pretendido acto, é instaurar o domínio da razão e a confirmação do poder
do seu saber. Na história fragmentada de todo um universo simbólico que se chama
paciente concentra-se só naquelas chaves codificadas na especificidade
biológica. A história clínica, pondo a descoberto o ser humano, intrincado
complexo de produção de vida, com traços biológicos, psíquicos, sociais e
culturais que dão sentido de totalidade ao mesmo tempo que da
individualidade
O facto é que, no entanto, esta abordagem dá que pensar.
É devido a esta abordagem que temos, todos os dias, pessoas que têm um avô de 91 anos, que sofre de insuficiência cardíaca do tamanho de umas casas em que o coração não cabe na caixa torácica, de insuficiência renal com um grau enorme, para além de ser diabético e hipertenso, e ainda se lembra de apanhar uma pneumonia e que o leva à morte, vão a correr para a TVI, Correio da Manhã ou 24 Horas, mesmo antes de porem o processo no Ministério Público (Título em letras garrafais: família pensa pôr processo a médico do Hospital X), porque, afinal, a culpa é do sacana do médico, que não soube diagnosticar a tempo!
É certo que, durante o curso de medicina, nos é impingida uma cultura de perfeccionismo. Cultura essa que nos segue em cada segundo em que estamos a exercer. Cultura que nos leva a fazer uma Medicina defensiva e por isso mais onerosa quer para o Estado quer para a condição física e psiquica do médico. Somos educados para não falhar, mas o certo é que, como seres humanos que somos, não podemos evitar certo e determinado tipo de erro, ainda que sob condições de funcionamento "ideais" - ou seja, haver bom ambiente de trabalho e os médicos estarem em condições perfeitas de saúde física e mental .Claro que, como em tudo na vida, hoje em dia ninguém, é 100% santo (nem os Santos Padres... quanto mais uma classe inteira...) e os erros com negligência, e, até mesmo, com dolo, acontecem. E há mecanismos para isso. Há meios ficazes para combater isso. Mas não há pachorra é para estar constantemente, minuto a minuto, ouvir a mesma música qual martelada constante e ritmada. Se têm complexos socorram-se de psiquiatras e psicólogos, mas não esteja a chatear quem dá o seu melhor. Cansei-me de ouvir o Angola é Nossa!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Continuo ler-te deste lado, mais limpo e sereno!
ResponderEliminarObrigada! :-)