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20 de novembro de 2020

intervalo de mim

E vou vagabundando pelas minhas ruas e vielas num solilóquio colegial. Gosto-me de conversar. Acho que tenho muito para me dizer nestes dias de outono. Já não sou a criança que brincava o ano inteiro feito verão, que corria os caminhos numa bicicleta sem travões ou num carro de rolamentos feito às três pancadas na minha garagem. Cresci e aprendi a dizer as palavras que não guardo para mim. 
Reparo que nesta vagabundagem eu tenho meditado profundamente nos intervalos de mim. Naquele espaço de mim que não é conhecido nem publica nem privadamente porquanto fica no meu eu interior mental.
Não acredito que, honestamente, alguém são, no seu juízo perfeito, se possa enamorar por mim como eu mesmo. Perdoo o tempo que alguém perde em tentar entender-me, quem procure em mim aquela canção que não toca senão no coração, aquela canção de amor que nem eu sei a letra apesar de a achar linda quando a toco. Sim, eu recordo-me de todas as canções de amor que cantei mesmo já não sabendo nenhuma de cor. Sim, eu conheço todas as paixões que tive porque não as guardei em palavras caladas ou silenciadas. Memorizei todos os meus sorrisos apaixonados e todas as cartas de amor que escrevi. Tudo está guardado nos intervalos de mim público e privado.


Sanzalando

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