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25 de agosto de 2023

vou andar de bicicleta mas já não vou outra vez

Me apeteceu andar de bicicleta ainda a manhã era quase madrugada. O sol estava já a mostrar ia ser de queimar e derreter torresmos que estivessem mal acondicionados. Mas mantendo-me teimoso e agarrado a um hábito de décadas, peguei na dita bicicleta e mandei-me à estrada. Não fui na estrada do deserto, não fui na Quipola nem nas Praias Amélia ou Azul. Fui mesmo aqui na tugália, num Agosto de verão.
Entre o lugarejo e a vila comecei logo a testar a capacidade férrea do meu coração, a sua capacidade de aguentar emoções. O trânsito era muito e de matrículas que não são daqui e os insultos eram com pronuncia doutros lugares. 
Entre o lugar e a vila não há passeios. Estrada é boa, larga e bom piso, sempre acompanhada por uma vala de cada lado. Se chovesse a estrada não fica com poços. Por questões de segurança eu pedalava por sobre a linha que dista uns 50 cm da vala. Os automóveis por questões deles passavam por mim num quase me arranhar. O tracejado do meio da via era lá distante e do outro lado também tem trânsito intenso. O elo mais fraco era eu e os peões que têm de usar a estrada porque outro caminho não há. Passeio não há e todos os elos fracos vamos por aqui na berma. Uma tangente quase me atirou na vala. Pensativamente vociferei e lá fui no meu pedalar cauteloso e já a começar a ser também medroso. Na subida, para além do esforço de subir ainda tive que me desviar de um TVDE que parava para pegar alguém que foi andando enquanto não esperou por ele no lugar que devia. Coisa sem importância para o elo mais fraco que levou com a bizinadela por ter que ir para o meio da estrada. O desporto é salutar pelo que estas contrariedades não me demoveram e lá fui em pedalada esforçada subida acima. Rotunda contornada como mandam as regras e novo xingamento que acho o meu avô lá no céu ouviu. Sorri e desligado do insulto fui. Esse mesmo me ultrapassa e mal acaba de fazer vira à direita e eu: pá! na porta do pendura. Risco com a manete do travão. 
- Bocê não bê por onde anda?
- Eu?! 
- Bocê tem de andar no passeio. As estradas são para os veículos...
como a paciência me estava a faltar interrompi 
- Desculpe. Tem os impostos em dia?
- Uquêi? numa pronuncia que não sei escrever. Qué que os impostos têm a haver com isto?
- Só para saber se o da estupidez está pago.
entrou no carro e nem disse nada mais. Eu fui na minha voltinha com o coração mais acelerado mas não era do cansaço ou do esforço, era mesmo só nervoso.
Na vila se encontrava engarrafado o trânsito e toda a gente a mostrar que tinha pressa. É, as férias se acabam e o pessoal não tem tempo para fazer tudo o que tinha pensado fazer. Acho esse pessoal precisa de tirar férias para descansar das férias corridas. Eles correm e ainda não sabem nem porquê.
Da vila à praia o trânsito estava intragável de carros e peões, de adultos e crianças, de idosos e outros que nem tanto. Mas passeios não há e aqui a estrada é mais estreita. Desliguei dos carros e agora vou a meio da minha faixa de rodagem. Os peões devem ser respeitados e salvaguardados.  Olha agora até os carros estão estacionados na estrada e onde antes havia duas faixas de rodagem, sem passeios, agora só passa um de cada vez e eu que me aguenta nos esses da gincana para continuar a minha voltinha. 
Num parque parei. Bebi um pouco da minha água e decidi voltar para casa e depois do verão voltarei a andar de bicicleta e talvez haja passeios. Na estrada para a Quipola ou para as Praias Amélia ou Azul também não havia passeios, mas também havia menos carros.


Sanzalando

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