Começaram as Festas da Nossa Senhora do Monte. Agora já sei onde vou todas as tardes até de noite. Já combinei que a Ana vai lá ter. O mano dela lhe leva e depois vamos andar nos carrosséis, nos carrinhos de choque, comer algodão doce e ver. Andar de barraca em barraca e ouvir os sons todos que tem para se ouvir numa feira. Não tenham ideias que ela não namora comigo e eu não namoro com ela. Somos seres pré-adolescentes que são sozinhados pelos familiares adolescentes. Assim se unem dois e vamos para a festa. Claro que às vezes os tios ou avós nos levam, mas a maior parte das vezes a gente vai mesmo no nosso pé, pelo carreiro. Acompanhado não tenho medo.
Mas tenho medo de quê? Sei lá. O escuro me mete medo e vou fazer mais quê? As folhas dos eucaliptos fazem barulho parece está a chover e não chove e isso assusta. A mim sim e sou eu que estou a falar e prontos.
Um dia destes a gente vai no pavilhão desportivo ver a Tonicha e noutro dia o Nelson Ned. É fixe ver ao vivo os cantores que a gente ouve na rádio. Não sei se me levam à tourada ou se fico só cá fora a ouvir os olés. O grupo de forcados deve ser o do Tchivinguiro com Cabedo Machado 'El carapau', que tinha sido forcado do Salvação Barreto nas terras da Europa, ou António Castanheira e outros tantos Charruas atrás, que eu disso não sei nada e nomes que não tenho aqui na ponta da língua.
Uma vez na minha terra quiseram fazer um campo de touros em madeira e a boizada com touros e vacas se libertou que a cidade até ficou virada do avesso, até lhes apanharem todos e guardarem outra vez. Mas aqui a praça é de pedra e tem, me disseram, grandes nomes que aqui passaram desde o Diamantino Viseu até ao não sei quantos Trincheira.
Mas eu e a Ana queremos é festa e algodão doce.
Quando o mano delas e os meus tios disserem a gente vai embora. Isto é, se eles não esquecerem da gente.
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