Se era madrugada, dia alto ou noite, não me lembro. Apenas sei que a minha boca ficou calada, desconseguia pronunciar palavras ou até emitir sons que poderiam ser gritos ou apenas sons impróprios para consumo diário. A cidade parou, o mundo da minha mãe parou, a minha família chorou. Era o peso da perda, ponto alto de uma vida que estava a começar. Se eu fosse mais velho muito teria para dizer, mas eu era criança e pouco sabia o que se estava a passar. Me devem ter contado contos de fadas e outros sonhos. Minhas mãos não deviam tremer. Era só o meu silêncio e o choro dos que me rodeavam.
Se fosse hoje eu compreenderia, diria palavras de circunstância, de apelo à compreensão e era mais um adulto nos adultos que choravam. A cidade, me disseram mais tarde, faz pouco tempo, parou. O silêncio da cidade era assim como que o meu. Descompreendiam o que tinha acontecido. Meu pai partira no auge da sua vida a começar.
Ele devia ter defeitos, porque da perfeição estou tão próximo que a distância daqui à lua nem parece centímetro, mas ainda não ouvi um. Virtudes todos dizem era era um poço.
Mas eu não sabia nada e nada me disseram e o que disseram foi distração. Cresci a lhe honrar, penso eu.
Não tem dia especial, foi só porque acordei e pensei no meu pai. Lhe gosto muito mesmo não tendo tido tempo de lhe conhecer de cor e salteado.
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