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22 de maio de 2024

eu, a sebenta e o medo das palavras

Agarro uma sebenta de capa vermelha e na minha lapiseira e desato a rabiscar. Não sei se a letra amanhã será legível ou precisarei de um egiptólogo para me decifrar. Também não é preocupação minha reler-me. Gosto mesmo de escrever para ficar escrito nas minhas palavras o que eu pensei. Importante? Cada palavra tem a sua importância e essa é uma variável indefinida.
Eu sempre amei o sol, amei assim assim a lua e amei a simplicidade de cada dia. Para mim sempre foi um mistério o cair da noite. Com o sol eu consigo ver o objecto e a sua sombra. Na noite eu desconsigo ver para lá da minha imaginação. A lua, romântica quando cheia, ainda vá que não vá. Aos quartos nem por isso. E quando a lua se esconde na neblina... sobra-me a imaginação pesada que transforma pensamentos em pesadelos.
À noite sem a luz do sol nem me apetece rabiscar na minha sebenta. Vivo a noite com a vontade de chegar o amanhã. Durmo para não sentir a noite, para não a ver sonolentamente passar.
Agarro a sebenta e rasgo a folha onde nem consegui escrever o luar de uma lua cheia que me ilumina em sombras de medo.
A noite fresca arrefece-me as palavras, tira-me o brilho de cada som. A escrita feita de sombras não me cativa.
Vou confidenciar à noite o amor que sinto em cada dia de sol.


Sanzalando

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