Vou passear na marginal. Vou fazer a recta curvada sobre o mar, em passo lento para saborear a brisa e perfumar-me de maresia. Se já tivessem inventado os fones eu ia a ouvir música para não me afogar nos pensamentos. Como ainda não tem essa coisa de só para profissionais e não me apetece andar de rádio ao ombro eu vou ouvindo o mar a bater nas pedras e cantando no meu silêncio as baladas de embalar.
Eu tenho saudades de fazer a marginal a pé e ás vezes ver o comboio a levar ou trazer coisas do porto e sonhar eu sou o maquinista. Eu tenho saudades de ver o pessoal a acelerar os carros pensam estão nas corridas porque é a única estrada citadina que não tem cruzamentos nem entroncamentos nem parecenças. Eu tenho saudades de olhar as traineiras a balouçar ao sabor das ondinhas que aqui são assim lentas que não tem calema. Eu tenho saudades de olhar daqui de baixo para cima e ver o palácio e a Igreja a mostrar que são grandes.
Me deixa só ir no meu silêncio mental vagabundear por lages do passeio faz de conta estou a jogar à macaca. Me deixa ir sonhar que ainda sou a criança que não sabe que a vida é um intervalo finito entre o nascimento e a morte. Me deixa olhar longe que a vista ainda não se estragou com a idade.
Vou na marginal que é o mais infinito que posso caminhar com as minhas pernas de criança.
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