A Sala de Espera estava à pinha. Acho hoje todos resolveram ficar doentes ou sem nada para fazer vieram fazer companhia a quem da Urgência precisava. O barulho era mais que muito. Todos falavam e todos protestavam. Todos estavam piores que todos e todos tinham prioridade.
Na verdade ninguém sente a dor ou a doença de outro. A minha doença é a pior que eu tenho. Como vou explicar àquela amalgama de gente que eu tenho de fazer escolhas. Não há capacidade de ver todos em simultâneo. Por isso inventaram essa coisa da triagem. É verdade que quando não havia triagem, cada um esperava a sua vez e era ter fé. Ter fé e não ser honesto não ficava bem.
Como Chefe de equipe lá me enchi de coragem e enfrentei a manifestação. Mal entrei na sala fui logo ouvindo gritos imperceptíveis. Tantos eram ao mesmo tempo que o melhor que fiz foi ficar calado a olhar para lado nenhum. Literalmente eu tinha os olhos abertos mas não via nada. As bocas mexiam mas eu estava como que nem lá. Silêncio no meu cérebro.
- Se eu morrer quem é que me vai acudir?
ouvi isto no meio de toda a gritaria que eu transformara em silêncio
- Quem é que está a morrer? perguntei retoricamente sem esperar resposta
- Eu. Há uma semana que estou com anginas e febres altas...já não aguento mais.
- Ok. Não vai morrer hoje pelo que pode esperar. Respondi e virei-me para outro lado.
- Dr. Sou diabético e falta-me os comprimidos. Preciso de fazer análises para ver se estou descontrolado.
- Ok. Escreva num papel a medicação em falta e marque consulta no centro de saúde porque aqui não vai fazer análises, pelo menos hoje.
E assim fui fazendo 360 graus e reduzindo as urgência a 3 casos que ordenei que entrassem.
- Até que enfim que alguém dá a cara - diz um dos pacientes
- E os tomates - acrescenta uma idosa que nunca se havia manifestado
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