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14 de dezembro de 2004

Cajoão5 - pescador se confessa

Eu pescador me confesso...

Mermão, hoje é dia de acto de contrição. Quando cheguei a esta esplanada, pedi-te desculpa pelo abuso de sentar sem ser convidado. Na tua mesa. Como se precisasse. Mas m'inducaram assim. E fui ficando, de abuso. Sem arranjar mesa própria, cambulando cada dia uma diferente. Bebendo umas e outras. Trouxe amigos e estórias. Tentei trazer sons, cores e cheiros. Às vezes tento contar causos e acontecências mas faltam-me as forças... Apetece-me falar sem parar do tudo e do nada. Principalmente do nada para o transformar em tudo. Porque dizemos sempre menos do que queremos. Porque fica nos dedos uma sensação de secura que nem as loiras amaciam. E ficamos com raiva de não podermos emular mais facilmente o que sentimos. Só a escrita não chega. Falta o olhar que denuncia e ilustra nossas estórias. Alguns ainda conseguem. Mas eu... Desconsigo. Vamos mergulhar os lábios nessa espuma gostosa que transborda dos copos e transbordar os corpos na espuma desse zulmarinho gostoso. Talvez amanhã já me sinta melhor. Há dias assim...MARzé
__________________Entre o Mar e o Deserto há gente.


Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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