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22 de abril de 2005

Prisões 34 - Beethoven

"Fio": Prisões

carranca
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Mais uma que me prende Hoje, 19:10
Forum: Conversas de Café
Aproveitando a homenagem a Beethoven, aproveito para deixar este texto que me prende... a coincidência de nomes é mera dita cuja...
Podes dizer-me que não é fácil interpretar uma Sonata de Beethoven. É preciso sensibilidade, perícia e anos de muito de estudo.
Mas também poderás dizer que não é fácil "interpretar" O Grito, de Munch. É preciso sensibilidade, perícia e anos de muito de estudo.
Então, por que é que um falsário, que "repintou" O Grito exactamente como Munch o pintou, tendo sido necessário algum tempo para se verificar que era falsificação, não é considerado um tão grande artista quanto um maestro que executou exactamente a Sonata como Beethoven compôs?
Pior um é considerado um criminoso, o outro, virtuoso.
Aí tu argumentas: o maestro não se limita a reproduzir ou executar fielmente a obra de Beethoven. Ele interpreta. Ele impõe a sua própria visão.
Óptimo! Já posso até ver os cartazes: "Carlos Carranca interpreta Francisco Nóbrega, na Biblioteca Nacional".
Eu entro no palco, sozinho, luz directa sobre mim, e leio a minha versão modificada de Francisco Nóbrega. A minha visão. Tirei algumas vírgulas, para o texto ficar um pouco mais rápido, troquei algumas palavras, por estarem bolorentas, por outras que me são mais familiares, e até decidi que, afinal de contas, ele viu mal a estória e eu modifiquei mesmo o final.
O espectáculo dura somente umas duas horas e meia, sem direito a intervalo. Afinal, é um livro longo. E no final, sou aplaudido de pé.
"Carlos Carranca é o mais novo virtuoso da literatura, dizem as crónicas de arte dos jornais, ele trouxe Francisco Nóbrega ao século XXI com a mão firme de um mestre em sua arte".
Ah, quem me dera que se fosse assim tão fácil.
Para que eu, algum dia, seja considerado um bom artista, eu vou ter que de facto criar alguma coisa?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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