"Fio": Prisões
carranca
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Sair da Escuridão Hoje, 19:43
Forum: Conversas de Café
Os humanos, enquanto manada, são lamentáveis. Individualmente, alguns prestam.
Uma de muitas minhas amigas disse que me admirava pela minha abertura. Que a coisa mais digna de nota na minha personalidade era essa capacidade de me abrir para as pessoas e para o mundo, não ter medo de me mostrar.
Claro está que me ri. Aquilo era como que um elogio por eu ter cabeça, tronco e membros, algo inerente a mim e totalmente fora do meu controlo. Ao que ela respondeu, sempre muito lógica e clara, que ela admirava não as minhas qualidades, que custavam ou não esforço, mas as minhas qualidades que ela, por mais que tentasse, não conseguiria ter.
Eu mostro-me porque preciso. Eu mostro-me porque é assim que eu sou. Mais do que tudo, eu mostro-me porque essa é a melhor maneira de conhecer quem está à minha volta. Escancarando-me num todo, até à transparência.
Quando eu era adolescente, meu grande sonho era ser actor só para poder sair do anonimato, entrar num éter espacial, numa vida seguida por mil olhos, ser público. Hoje, felizmente, esse sonho passou porque apenas consigo representar o meu papel, a minha própria personagem.
Algumas pessoas têm medo de se mostrarem. O que ela vai pensar? Será que ela vai achar de mau gosto, péssimo ou ...? E se eu perder amigos?
Mas o objectivo é justamente esse!
A melhor coisa ao te mostrares é livrares-te daquelas pessoas que nunca foram realmente tuas, aquelas pessoas que amam mais os seus próprios preconceitos do que a ti, aquelas pessoas que, por força das convenções vigentes, simplesmente não vão conseguir gostar de ti e aceitar-te. Deixa-as seguirem a sua viagem. Quem se vai importar com elas?
Eu tento me concentrar em quem vale a pena.
Em um primeiro grupo estão aquelas pessoas que gostam de mim e continuam a gostar, que me aceitam e sempre aceitaram tal qual eu sou.
Ainda mais valiosas são as pessoas que gostam de mim apesar dos seus preconceitos, que me aceitam apesar de eu ir contra quase tudo o que acreditam. Essas diferenças de opinião não são importantes para esses meus heróis. Este nosso amor transborda e cobre os preconceitos, inunda as normas vigentes, afoga as convenções, varre do mapa as mesquinhices.
Por fim, o meu grande prazer é descobrir iguais onde menos espero. Pessoas que eu nem conhecia, com as quais eu nem falava, por quem eu não dava nada e de repente se revelam, apertam a minha mão e oferecem-me o seu apoio irrestrito. E eu penso: mas como, tu também és assim?
As primeiras pessoas já eram e continuam a ser os pilares de sustentação da minha vida e da minha sanidade.
As segundas ensinam-me todos os dias lições profundas de maturidade e amor. Porque, ao fim e ao cabo, se existe maturidade e se existe amor, pouco importa quem é comunista ou capitalista, monogâmico ou poligâmico, ateu ou crente. Saibam é serem eles mesmo!
As terceiras enriquecem a minha vida. Por serem semelhantes a mim, são o espelho onde me vejo, a experiência em que me baseio, o padrão no qual me meço.
É ao revelar-me que descubro quem vai dançar comigo e quem vai ficar encostado à parede.
É ao mostrar-me que descubro quem vai dar-me as mãos nesta viagem e quem vai parar na encruzilhada da vida.
Não tenho medo da rejeição. Ser rejeitado pelas pessoas pequenas só me faz é bem. Os pequenos se afastam por conta própria. O que me poupa o trabalho de espantá-los.
Assim, se não for espantado voltarei, com este ou outro tema qualquer que me dê na gana
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
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