recomeça o futuro sem esquecer o passado

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25 de fevereiro de 2006

A formiga e a Cigarra

A CIGARRRA E A FORMIGA
A versão clássica:
Era uma vez uma formiga que trabalhava de sol a sol, construindo sua casinha e acumulando alimentos para o longo Inverno que se aproximava. A cigarra pensou: "Que idiota!" E passou o verão a cantar, sempre a cantar. Assim passou todo o verão; ao chegar o Inverno, enquanto a formiga estava aquecida e bem alimentada, a cigarra não tinha um telhado, nem comida e morreu de fome.
Esta é a versão moderna:
Era uma vez uma formiga que trabalhava de sol a sol, construindo a sua casa e acumulando alimentos para o longo Inverno que se aproximava. A cigarra pensou: "Que idiota!" E passou o verão dando gargalhadas, cantando e dançando como nunca o havia feito.
Ao chegar o Inverno, a cigarra, tremendo de frio, montou uma tenda de capanha na entrada da toca da formiga e convocou toda a imprensa para uma entrevista e exigiu explicações:
- Porque é permitido que a formiga tenha uma toca aquecida e boa alimentação, enquanto as cigarras estão expostas ao frio e a morrer de fome?
Todos os órgãos de imprensa compareceram à entrevista; tiraram muitas fotos da cigarra que tiritava de frio e com sinais de desnutrição. As imagens dramáticas na televisão mostraram uma cigarra em deplorável condição, sentada num banquinho debaixo de uma barraca de plástico preto e mais adiante mostraram a formiga na sua toca confortável, com uma mesa farta e variada, roeada de todas as mordomias. O povo ficou perplexo e chocado com o contraste.
A notícia recebe apoio popular imediato, é exigido ao Governo que os recursos devem ser dirigidos à ONG Fome Zero e propõe uma Revisão Orcamental que aumente os impostos para as formigas e ainda obriga a comunidade formigueira a promover a integração social das cigarras. A formiga é multada por supostamente não entregar a sua quota de folhas verdes ao Ministério das Folhas e não tendo como pagar todos os impostos e contribuições que foram apurados retroactivamente, pede falência.
O Parlamento cria uma comissão de inquérito para investigar a falência fraudulenta de inúmeras formigas abastadas. O Ministério das Folhas nomeia uma comissão de auditores fiscais suspeitando de que as formigas tenham desviado recursos do FF5 (Folhas Frescas nº 5) do Banco Central e suspeitas de lavagem de folhas.
A cigarra decide invadir a toca da formiga e lá acampar. A formiga pede ajuda à polícia e esta informa que não dispõe de efectivo para atender ocorrências desta natureza e que também por orientação do Secretário de Segurança que deseja evitar confrontos com os "Sem Toca".
A formiga entra com uma acção na justiça para obter a devolução da toca, mas é negado, o juiz invocou um novo ramo do direito, "O Económico" e sentencia que a formiga não provou a produtividade da toca. O Ministério da Reforma Agrária desapropria a toca da formiga, por não cumprir a sua função social, e entrega-a à friorenta e desnutrida cigarra.
O Ministério da Justiça descobriu que a cigarra foi presa no passado, por promover algumas greves, assaltos e sequestros (aliás chamados de crimes políticos), e conseguiu a sua inclusão no grupo dos perseguidos políticos com direito à indemnização e pensão vitalícia. E o verão está de volta. As formigas trabalham e as cigarras cantam e dançam...

Por estas e por outras é que este blog vai estar encerrado cerca de uma semana. Mas não desitam de o visitar. Obrigado.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

24 de fevereiro de 2006

Um anúncio que me apetece


Vai realizar-se no salão nobre da Casa de Angola em Lisboa, a apresentação do segundo livro do autor angolano Fernando Teixeira (Baião) intitulado “Branco de Quintal”
A apresentação será às 18h no dia 3 de Março , feita pelo autor do prefácio o Professor Francisco Soares, docente da Universidade de Évora. Abrilhantará o evento o cantor angolano Paulo Flores, com algumas musicas, e no fim haverá um pequeno “Malavu de Honra”.O livro é co-editado pela Chá de Caxinde e pela Pangela Editores. Contamos com a V. presença!!
(Há estacionamento no Pátio Bagatella)
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

Uma estória verdadeira(66)


Embevecido de estar junto às naturezas mais belas que a natureza me deu o prazer de olhar, compartilho tudo isto com gente que é mesmo boa. Coração e alma de gente boa.
Seguimos rumo em mais visitas. Visitámos o local ideal e fizemos todos força para que seja mesmo aqui. Mas a força éramos todos num só. Cumplicidades sem serem pedidas. Naturalmente cúmplices.
Depois, cansados mas felizes e extasiados seguimos rumo à cidade. Amanhã vai ser o último dia aqui. Co-pilota que continua sem GPS tem muitas voltas a dar e conversas a ter. Encontros e reuniões. Voltas e afazeres. Termina assim um gratificante passeio na terra onde a minha placenta foi enterrada. Termina aqui, numa espécie de intervalo que se deseja curto, um período que estou mesmo feliz de o ter vivido. Amanhã é dia de novos rumos, rumos com cheiros a mar. Lá, no zulmarinho. No início dele mesmo. Lá onde bebi a primeira água, onde dei a primeira queda de mim. Lá no meu deserto do meu contentamento e desconhecimento. Lá onde estive já numa noite sem ser de luar e gasóleo.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

22 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira (65)


Já viste se eu estivesse a morar lá naquela casa que eu te disse, com VSat e computador e estivesse farto de ver a paisagem que me rodeia, fazia esta caminhada até aqui e daqui que avisto o morro maluco e tudo, logo recuperava as forças para me fechar no meu retiro e tentava arranjar as soluções para os males do mundo e dos arredores pois tinha tempo até de sobra.
Depois de ver isto ainda tenho dúvidas da existência do Arquitecto? Bolas que está a ser difícil manter-me assim neutro.
Aqui já gastámos mais do que uma máquina de fotos. Falo está claro nas pilhas que estas coisas de agora ser de cartão tem capacidade que nem eu sei de quanto. Se dispara e depois logo se vê.
Seguimos agora mais ou menos no mesmo caminho de regresso até ao casario da Estação Zootécnica. Mas aqui virámos logo na direita e mais num picada que parecia rodeada de floresta virgem. Mas não lhe perguntei se era ou deixava de ser que eu não tenho nada com essas coisas muito pessoais.
Caminhamos então para a divinal surpresa. Eu que noutras eras até tinha ido à estação zootécnica não tinha ido até aquele recanto que não só é divinal como é mesmo o centro do paraíso. Onde é que se viu poder estar sentado a petiscar atrás de uma cortina de água. Brigado senhor Arquitecto por me teres deixado apreciar agora com olhos de quem vê para além do umbigo uma beleza destas que nem tem postas para mostrar e estragar. Extasiado eu fiquei, se os músculos da boca não fosse de boa qualidade ainda agora não tinha conseguido fechar a boca. Deslumbrante. D. Fernanda estava mais ou menos assim como que nem eu. Ti e co-pilota nem falavam. Admiravam só. Era os verdes dos fetos com cada folha mais grande que nem eu. Eram as àrvores a transparecer felicidade. Desculpem lá parecer o vira casacas mas aqui é que é mesmo o centro do paraíso. A minha cabana vai ser mesmo aqui, a minha música vai ser a água a cair. Vou aproveitar essa mini-hidrica que está mais abandonada que o abandono que vou transformar no meu recanto de eterno sonho e contemplação. É aqui. Tem de ser aqui.
Calcorreamos cada centímetro. Admiramos cada folha., cada pedra. Até um sapo pintalgado que eu nunca vira nem em fotografia me saltou na perna. Aqui é a Natureza em toda a sua beleza.É aqui.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

Uma estória verdadeira(64)



Noite alta e hora de voltar para a caminha. A noite estava serena. A trovoada parece tinha desaparecido. Bom dia vai estar amanhã para o Pic-Nic.
Mais uma noite que foi curta, mesmo não sendo curta como as outras. Mas há muito que ver e ver com olhos de estar acordado. Não ver só porque ver faz bem e coisas dessas. É ver com o sentimento todo. Mas o raio da manhã continua cinzenta. Esse gajo que controla a chuva está a gozar comigo ou quê? Perguntei eu dentro de mim sem esperar resposta mas a se notar pelo tom eu estava mesmo zangado. Estava assim como a cair as gotas de um vaporizador e se a gente pensa que não molha é tolo porque ela acaba por molhar mesmo. Alguém toma a rápida decisão de almoçamos aqui, o pic-nic, sim porque lá com esse molhar não vai haver formigas e pic-nic sem formigas não vale, e depois agente se manda em busca de frescura para os olhos. Ver e ver o que se conseguir ver. Porque eu queria ver era mesmo tudo. Os três carros se põem em fila indiana, que raio de nome para se estar aqui, mas pronto foi assim que seguimos viagem. Destino inicial a divina Humpata. Terra de recordações, mesmo que rocambolescas, com casamentos sem convites, metades de bodas saídas pela janela para mais tarde enfardar. Coisas de putos que noutras eras eram assim como frequentes e davam, o que agora dizem, que era adrenalina mas que naquele tempo era mesmo só malandrice. Passeio na vila. Igual ao que a memória tinha registado. Seguidamente o destino passou por uma estrada alcatroada e ladeada a espaços mais ou menos certos por eucaliptos que se não são seculares pouco devem faltar. Seguimos por meio deles sentido toda a humidade do lugar. Divinamente belo este caminho. Onde é que vai dar mesmo? Tem calma. Vive o agora e deixa o depois para depois. Conselho seguido e lá fui apreciando a paisagem e dizendo se houve paraíso esse lugar é aqui. Parámos num portão fechado com um guarda à porta. Para entrar tem de pagar. Sim senhora. E quanto é? 200 e toma o recibo. Pensas que é esquema? Não é não. É organização para não virem aqui estragar este paraíso. Gostei pois claro que gostei. Estávamos a entrar assim na estação zootécnica, Entrámos com recibo em papel timbrado e tudo. Turista mas não vandalista. Novas recordações de outras eras. A azáfama agora é que era diferente. Vais ver que é por ser domingo. Umas cabeças de boi vistas daqui não deram para contar mas eram assim como que poucas depois em comparação com as que íamos encontrar mais lá na frente. Passamos o casario onde perduram as tabuletas a dizer o que é cada casa. Currais e canteiros com aspecto de qua há quem anda aqui a dar o litro. E nós seguindo viagem. Andámos já sem alcatrão. Poças de água indicavam que a noite também tinha sido boa aqui. Caminhávamos nos trilhos ou fora deles conforme dava mais jeito por causa não só das possas mas também das pedras. Aqui é mesmo o paraíso. Já me estás a ver ali, numa casinha no cimo daquele monte, um VSat, um telefone, um computador e eu estaria a ser um candidato ao Nobel da literatura. Aqui era mesmo onde eu queria ficar e para sempre. Já sei que vais dizer que eu assim parecia um fóbico social e coisas dessas. Mas não. Há alguma coisa melhor que a paz de espírito? Acho mesmo que é que eu estou a precisar e aqui eu sei, sinto, que encontraria isso. Olha só aquela represa pequenina. Olha só como ela se enquadra na paisagem e parece que sempre fez parte dela. Continuámos por mais uns saltos e desvios até que se parou. Outra grande obra do Arquitecto está aqui a meus pés. Grito para todos ouvirem que é muito mais bonito que a Tundavala. Talvez seja fruto de que eu aquela já conhecia e esta desconhecia por completo. Bimbe se chama esta fenda. Grandiosa.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

21 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(63)



tentando voltar ao ritmo
Convidados mais de 50 é que nem vinte eram. Poucos mas bons disse logo alguém e com toda a certeza que tinha razão. Porque quem disse que vinha e não aparece é mesmo porque não é amigo e portanto não conta. Se inventaram explicações mas uma sempre pior que outra pelo que se deixou de fazer de conta com os outros e se acabou mesmo por ficar a gente que estava e mais nada. Servido o jantar, que bem se como no Lubango, pensei eu com os meus botões não dizendo nada para não pensarem que eu era um esfomeado, com anedotas e gargalhadas no meio chegou a hora de alguém ir num carro não sei quantos buscar o bolo e se apagar as velas. Não é que afinal havia dois bolos. A senhora directora, o Zé, o Ti e vais ver com a cumplicidade da co-pilota me haviam escondido que eu também fazia parte da festa. E havia dois bolos e tudo. Fui enganado e me parece que como se costuma dizer bem enganado. Se cantou por duas vezes os Parabéns a Você, primeiro para ele que é mais velho e por duas vezes se apagaram as velas dos bolos. O que me era destinado como não podia deixar de ser tinham-lhe desenhado um zulmarinho com um peixe dourado que não era mais que eu feito em estilo livre. Discursos e palavras amigas. Abraços e beijos. Me deram um presente. Um maravilhoso presente. Uma garrafa de cor verde que tinha lá dentro a resposta à carta que eu havia mandado desde o fim do zulmarinho até ao início dele dentro duma garrafa cor de âmbar. Num resumo a resposta dizia: Eu te Amo, assinado Angola. Escusado será dizer que a gota desse zulmarinho que estava prisioneira no meu olho se libertou e deixou marca na cara, um carreiro de sal. Recomposto da surpresa fiquei a escutar que Abraão cantava o fado à capela. Não é assim que se diz quando se canta sem acompanhamento? Se não for me desculpem que o meus conhecimentos de música não dá nem para cantar as Rosas que lhe dou. Lhe aplaudimos e depois começou o baile. Os Cd começaram a rolar no tocador e os corpos se rebolaram na ampla sala. Uma noite se sonho e alegria mesmo com os outros que não vieram e por isso não fizeram falta nenhuma. Poucos mas bons deu para farrar ao som dos redondos que alguém tinha levado já a pensar na farra.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

20 de fevereiro de 2006

2ª feira falhada

Pois. Prontos.
Termómetro que não é de mercúrio, marca 38ºC. Cabeça parece que quer sair da sua calote. Disposição menor que nenhuma.
Gripe que não é das aves porque ainda não 'botei' ovo.
Até já!

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

16 de fevereiro de 2006

Uma notícia de qualquer hora

É bem possivel que até à próxima 2ª feira este blog esteja parado. Não é que vá na revisão ou coisa parecida. É que vou estar mesmo longe e por isso impossibilitado de vos vir dar 'música'.
Bom fim de semana!

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

Uma estória verdadeira(62)


Ele fez anos e quer comemorar como deve que ser. Alugou ou pediu emprestado, que eu não quis nem saber, o Reino de Maconge, convidou para aí umas 50 pessoas e vamos lá comer e farrar até ser dia, pelo que temos de estar descansados. Enquanto fazíamos horas tentámos a net mas ela não dava porque o telefone só dava mesmo para ligar só para o local ou o mais longe era Namibe porque está com ligação com fibra óptica. A trovoada parece que deu cabo da central que liga lá ao satélite ou coisa que valha. Isto eu sei de ouvir conversa cruzada num cruzamento de gente. Também ouvi, no meio de muita gargalhada, que tinha havido uns cambas lá da cidade do Deserto ou arredores que essa parte eu não apanhei, mas tirei o retrato que devem ter sido mapundeiros que se foram estabelecer lá na beira mar, que tinham comprado um VSat, se não sabem o que é não perguntem a mim mas aproveitem para ver no site da SISTEC ou perguntem a outro, e que depois dos técnicos montarem tudo direitinho, antena posta e tudo, quiseram experimentar e eles não tinham computador. Que é isso? Aproveitei para ficar a saber que VSat precisa de computador numa ponta que na outra tem uma parabólica. Vais ver foi só mesmo falta de informação e já estão a aproveitar para fazer anedotas do incidente. E com estas coisas o tempo se foi passando, gravadas as músicas no tal de pen comprado antes, e está na hora das senhoras se irem arranjar porque como sabem elas demoram mais do que o tempo necessário para essa tarefa. Se alguém tivesse se lembrado de ir na oficina arranjar o cabelo então é que iam ver qual o tempo necessário. Mas a senhora directora não tem cabelo que precisa ir na oficina, lhe fica mesmo bem assim o cabelo curto lhe dando uma feminilidade fora do normal, mais não escrevo porque não quero parecer que estou a elogiar. Hora combinada lá fomos nós para os Reais Paços do Reino de Maconge que fica mesmo lá na Senhora do Monte, na curva do Garrafão. Já viram bem a combinação? Mesmo a calhar ou terá sido mera coincidência? Lá chegados pouca gente lá estava. Os poucos que não lhes conhecia fui apresentado e logo me deram de presente uma birra mais que bem gelada, estava no ponto. Uns chouriços da Mapunda assados à maneira e que delícia que eram. Conversa e há que visitar a galeria de fotos antigas. Em quase todas vi família por lá. Eles também são muito mais que as mães. Ai família grande. O camba dos anos ninguém sabia dele. Todos se perguntavam a todos e nada. Telefone chama mas ninguém do outro lado diz alô. Mais umas quantas birras geladas para matar o tempo e desenferrujar a língua. Aprendemos História, ouvimos contos e lendas, ficámos a saber de coisas mais em pormenores de outras eras que nos tinha passado ao lado porque na idade era o que menos importância tinha. O tempo passava e lá por fim o Abraão chegou.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

15 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(61)


Parámos no regresso numa pequena barragem bem antiga, num recanto excepcional para pic-nic, bem arranjadinho que até dá gosto e até parece que convida. Mas não é hoje o dia do dito cujo pelo que não vale a pena já estar a fazer novo filme. Mais umas quantas fotos, apreciar a natureza e ver que os patos estão ali que é o paraíso deles e não há como descrever toda a emoção que estou a sentir de estar a ver e tocar na obra do Arquitecto. Vais ver ainda acabas crente e depois como vai ser? Te preocupa isso? A mim não. Eu só estou feliz por ver que a natureza aqui está a meus pés, no alcance do meu olhar. Acabados de estar nesta difícil missão de apreciar a natureza tal e qual ela está, sem obra e graça dos Homens, lá seguimos nós para mais umas birras geladas e pastei de nata quentinhos na Casa Verde. Acho que já está a virar vício parar aqui. Seguimos nós para mais um lauto almoço feito pela D. Fernanda. Ou será que desta vez foi feito mesmo pela camba da senhora directora que hoje está para a cozinha virada? Me faz falta mesmo o caderninho de notas para apontar estes pequenos pormenores que afinal são grandes e agora fazem falta. O Adamastor continua atrabalhar o que quer dizer que ainda não conseguiram arranjar o tal do dito cujo cabo de tensão qualquer coisa que se foi se calhar naquela trovoada ou numa obra que estão a fazer ali na esquina. A verdade é que nos salva mesmo esse de Adamastor. Comida de mariscada que até apetecia dizer como é que aqui que não tem mar se pode comer destas coisas? Mas não se pergunta porque está bom e o resto é folclore. A senhora directora tem mão para fazer estas coisas, mas ela diz que não tem e não sabe para além de não gostar. Mas mãos de fada também de herdam. Meu pai não sabia cozinhar pelo que eu lhe herdei esse dote. Risada agravada porque co-pilota que não tem GPS ainda por cima arranja meu prato para eu ter só mesmo o trabalho de comer como gente fina. Não se estão a esquecer que eu estive uns dias bem largos na Cidade e ainda por cima passei muitas vezes na frente da Casa Amarela, apesar daqui frequentar por entrar na Casa Verde. À tarde ficámos na conversa desfiada e em repouso para o jantar que vai ser de arromba porque um camba conhecido por mais de meia cidade tem o azar de fazer anos no mesmo dia que eu pelo que fica sempre em 2º lugar nas lembranças. Esta frase anterior é só uma brincadeira minha para levantar o meu ego. Abraão é gajo de 5 estrelas e não merece que eu esteja aqui a falar inverdades.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

14 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(60)




Sábado de manhã. Ti, Zé e co-pilota que não tem GPS vão mesmo no RoqueSanteiro aqui da terra que também é grande mas não tão grande como o verdadeiro, aquele que é só o maiopr mercado do mundo céu aberto. Mas este que lhe fica atrás deve andar por aí nos 10. Eu não vou que não gosto de shoopings e coisas similares. Fico mesmo em casa a fazer companhia a quem fica. Ali vou andando para trás e para a frente saindo da frente da azáfama, que não quero é atrapalhar a ordem da casa. Eles chegaram do mercado risotas e gargalhadas. Pelos vistos gostaram da passeata. Eles trazem galinha mas deviam ainda ter pago mais pois a galinha no caminho ainda lhes deu de presente um ovo. Portanto compraram galinha recheada, ao preço de normal. Descarregar compras, provar algumas coisas de lá trazidas e agora vamos mesmo onde? É, vamos na Tundavala, disse o Zé por detrás dos seus óculos. Há muito mais que 30 anos que não aprecio essa obra do Arquitecto. Meu rosto se iluminou de alegria. Parados no Café da Huíla para a bica matinal que sem essa bebida escura e quente não tenho cérebro para funcionar. Dali rumámos na Senhora do Monte passando pelos sítios do costume, mais um tempo para admirar o Grande Hotel da Huíla que na sua cor bem amarela estou certo que os astronautas lá da Estação Espacial se orientam pela passagem pelo Lubango na sua órbita e ficam a saber a quantas andam. Mais uma vez olho na direita e vejo o majestoso Hospital Central da Huíla como que em voz calada a me chamar. Me apetece deixar os cambas e ir para lá. Me seguram os pensamento e como que desisto por agora. Depois do bispado virámos na direita e seguimos para a Mapunda . Não vemos nenhum mapundeiro, mas que os há, há. A caminho parámos numas majestosas pedras que imitam as ruínas. Vais ver foi aqui que começou o mundo. Começo logo a ver o filme da minha imaginação a passar no ecran do pensamento. Só um grande Arquitecto conseguiria pôr esta ordem de coisas nesta disposição arquitectónica. Tirando nós só ali estavam os lagartos a se aquecer ao sol. Uns mais bonitos que os outros. Escaladas e fotos para mais tarde recordar foi a sessão. Rumo destinado é mesmo a Tundavala. Obra máxima da criação natural. Pensava eu até que amanhã me vou desmentir, mas isso fica para manhã que ainda estou no hoje e não me quero atropelar na ordem dos pensamentos e baralhar-me ainda mais. Não fosse a neblina e eu estaria aqui a descrever-te uma paisagem não só paradisíaca como também a fazer voo livre de pensamentos. Dá para ver mas não dá para sentir o muito longe que podia ver. A cortina está fechada pelo que a Bibala fica ali mas não se vê. Mais fotos, mais estórias contadas, umas de cores garridas outras bem cinzentas. Mas isso são contas de outro rosário, já ultrapassado e portanto que fazem parte da História e não contam neste presente. Chega uma outra excursão que pela cara são do outro lado do planeta que até ficam com os olhos em bico. Não sei se pelo que viram se já eram assim. O guia lhes dá uma pedra a cada um e eles se divertem a atirar lá para baixo e ver o tempo que demora a fazer o barulho da chegada. Se todos fizerem assim vais ver que um dia a Tundavala não tem fenda mas tem um monte de calhau empilhado. Vai para o guiness pelo monte de calhau feito pelo Homem na destruição da natureza. Mais fotos de muitos ângulos. É mesmo uma maravilha da natureza e merece ser fotografada como modelo dessas que estou a pensar neste momento mas não digo para ninguém se quer pensar em me atirar até lá no vazio que eu não trouxe o meu parapente. Eu não quero sair daqui! Fico mesmo já aqui que é aqui que eu estou bem. Mas me dizem que não pode ser e me chamam de novo à realidade e lá tenho que voltar nessa dura e crua realidade.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

13 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(59)


Quando a gente segue rumo ao início do Zulmarinho mesmo? Vai ter que ser só depois de segunda feira. Quê? Vamos ficar aqui a dar trabalho mais esse tempo todo. Não dão trabalho, disse ela logo assim sem pensar. Tas a ver, né, a gente vos gosta mesmo de vos ter aqui e tas a ver, vocês não podem ir embora assim. Yah! Então tá bem. Então vamos mesmo na segunda, porque eu quero mesmo ir lá no início do zulmarinho, lá onde bebi a primeira água, onde cai a primeira vez, onde entrei no mar, onde fui quase tudo, disse eu sem muita convicção. Estava a renamorar a tinha onde tinha nscido e mesmo que a gente viva noutra aquela é a que nos está no sangue, nos corre pela alma e ainda por cima é mais bonita porque a vejo com os olhos de gente madura.
Um dia destes vamos fazer um pic-nic na Humpata. Quer dizer vamos se não estiver como agora a chover, pois assim não vão aparecer as formigas e pic-nic sem formigas não é pic-nic. Mas esta chuva só molha mesmo devagar, mas o raio é que molha. Esta era a combinação ainda com outro casal amigo que já te contei lá para trás. Mas o hoje ainda estava a decorrer e porque é que já estou a falar em amanhã? Pois porque não tenho lembranças do resto do dia de hoje, porque achas que devia de ser? Não trouxeste a sebenta e agora estás feito que não te lembras.
Mas que vale é que há quem recorde que quando fomos lá no Cristo Rei ele estava fechado porque estava em obras mas o guarda com a sua simpatia nos levou até lá a cima e nos falou de tanta coisa que até disse que ali, no pé do Cristo Rei, pertinho da ruína da pousada que nunca existiu, vinha sempre nas onze da noite uma onça beber água. Procurei pegadas assim num olhar rápido e disfarsante e não lhe vi nenhuma, mas se ele diz é porque é verdade. Eu é que não vou lá nem às dez nem às onze, não vá ela não ter relógio e sou-lhe agarrado.Assim sem lembranças se passou o resto do dia. Vais ver bebeste cerveja demais que até esqueceste e depois vais lamentar ter esquecido. Mas quem conta a verdade fica mesmo perdoado. Né?
é isto que acontece quando se 'parte' o disco de um computador e não há uma cópia de segurança, há que reescrever tudo, apanhar o que está ecrito, re-localizar-se. Em resumo: uma trabalheira

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

12 de fevereiro de 2006

Passeando numa tarde de Domingo


A estátua mais perturbadoramente sexy que já vi. Reparem que os pezinhos dela estão a descansar sobre um pequeno apoio.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

11 de fevereiro de 2006

Um poema ao Sábado

ANTÓNIO JACINTO

VADIAGEM
Naquela hora já noite
quando o vento nos traz mistérios a desvendar
musseque em fora fui passear as loucuras
com os rapazes das ilhas:
Uma viola a tocar
o Chico a cantar
(que bem que canta o Chico!)
e a noite quebrada na luz das nossas vozes
Vieram também, vieram também
cheirando a flor de mato
- cheiro gravido de terra fértil
-as moças das ilhas
sangue moço aquecendo
a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria.
Uma viola a tocar
o Chico a cantara vida aquecida com o sol esquecido
a noite é caminho
caminho, caminho, tudo caminho serenamente negrosangue fervendo
cheiro bom a flor de mato
a Maria a dançar
(que bem que dança remexendo as ancas!)
E eu a querer, a querer a Maria
e ela sem se dar
Vozes dolentes no ar
a esconder os punhos cerrados
alegria nas cordas da viola
alegria nas cordas da garganta
e os anseios libertados
das cordas de nos amordaçar
Lua morna a cantar com a gente
as estrelas se namorando sem romantismo
na praia da Boavista
o mar ronronante a nos incitar
Todos cantando certezasa
Maria a bailar se aproximando
sangue a pulsar
sangue a pulsar
mocidade correndo
a vida
peito com peito
beijos e beijos
as vozes cada vez mais bebadas de liberdade
a Maria se chegando
a Maria se entregando
Uma viola a tocar
e a noite quebrada na luz do nosso amor...
(Poemas, 1961)

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

10 de fevereiro de 2006

Curiosidade

Encontrada esta foto numa vadiagem pela net não resisti em aderir a ela. Jogando futebol preservando a natureza.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

Uma estória verdadeira(58)


Levantados como habitualmente, depois dos que têm mesmo que ir trabalhar que as férias não é para todos, lá matabichamos principescamente, não só na comida como na sempre simpatia acompanhante. Co-pilota lá teve que ir em Serviço com uns cambas. Andaram nem sei por onde que eu e Ti fomos na nossa vadiação que a gente tem poucos momentos de liberdade condicionada. Passámos na SISTEC, estivemos mesmo sentados no PC para saber notícias e se calhar dar algumas mas como estamos mesmo embriagados com a visita que nem uma ideia surgiu assim na mente. Aproveitámos e comprámos uma pen, daquelas coisas que guarda as coisas assim como um disco e que ainda por cima tinha leitor de mp3, pelo que foi combinado logo se gravar música para a viagem que havíamos de fazer até Luanda e descarregar as fotos que a capacidade estava esgotada na máquina. Saber a data é que a gente não sabia. Se estava ali tão bem que ninguém, acho, estava a pensar sair dali. Dali fomos mesmo visitar uma carcamana lá na fábrica da N’Gola e nos foi servido café porque lá dentro não se pode beber bebida com álcool. Até parece visitar Roma e não ver o Papa. Coisas! Nos disseram que a fábrica vai ser aumentada, falámos de coisas da vida e da família, bebemos o café e dali fomos outra vez na Casa Verde beber uma imperial da N’Gola que é mesmo boa para caramba.
Voltámos ao ponto de partida para ir buscar a co-piloto que havia saído em serviço com a Senhora Directora de qualquer coisas que não vem aqui ao caso já que eu não fui e não sei mesmo onde foram. Fomos ainda no Governo Civil para falar com um camba mas o que a gente acabou mesmo por ver fui um Espanhol, mesmo de Espanha, que andava há 3 anos de bicicleta e saíra de Madrid e rumo à cidade do Cabo, e queria era descansar. Tem gente que tem mesmo doideira na tola. Com avião, carro, vai fazer essa coisa de bicicleta cujo o motor é mesmo só duas pernas que a gente tem e que serve é para andar não é para fazer força assim a dar voltinhas numa pedaleira. Mas bicicleta toda artilhada, ele era mochilas, GPS e água. Homem do catano. Mas ele escolheu bom sítio para repousar. Quantos dias não nos disse só mesmo porque também ele não sabia. Eu e Ti andámos por aí. Fomos ver perto de onde eu havia apanhado vacinas nos tempos em que avó obrigava a isso, uma avilos a fazer estátuas em pedra sabão e outros a fazer pinturas. Assim mais ou menos como uma feira, cooperativa de artesanato. Mas chamar pedra sabão mesmo porquê? Mais uma pergunta que ficou por fazer lá no sítio. Escolhi um Pensador e dali fui pôr o selo para mais tarde transportar. Mas apetecia comprar mesmo uns quadros, assim como colecção, de Imbondeiros. Até tinha imbondeiro de biquini azul. Mas a grana não dava pelo que se ficou mesmo só na vontade. Meti conversa com menino de venda na rua. Falámos para aí uma hora ou coisa parecida. Conversámos e fiquei mesmo a saber muita coisa da vida dele. Há uma vontade de mudar de vida mas ainda há uma vida para mudar que ele é novo. Pensamento rápido, resposta rápida. Falámos e nos gostámos uns do outro e mais nada que eu já lhe tinha dito que comprar era coisa mesmo que eu não queria e ele aceitou conversar. Ele é do Bailundo e foi ali na grande cidade tentar a sua sorte mas sem cansar. Mas não pode ser. Pode, tem tempo mais lá para a frente para trabalhar. Conclui que estava à frente de mim um filho da luta, uma pessoa que ainda tinha muito que pedalar na frente da vida para aprender que a guerra acabou e que agora há que arregaçar as mangas e dar o corpo ao manifesto.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

9 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(57)












Se janta cedo porque hoje tem bola aí na televisão. Joga mesmo o Benfica com não sei quem porque a minha memória não dá para tudo e tem que guardar espaço para coisas mais importantes. Afinal mesmo devia era ter decorado o nome da outra equipe já que o Benfica saiu assim como águia depenada que até parece galinha, e pelos vistos o outro é que era importante. Má opção, foi mesmo isso. Gargalhámos porque senhora directora é toda ela do Benfica e ficou assim parece tem muito ácido no estômago e outros tantos muitos só lhe davam música para a desanimar. Coisas de quem gosta de sofrer. A culpa ainda foi do Ti porque mexeu no galináceo que estava em cima da televisão e deu azar. Ainda hoje acho que se acontece alguma derrota no Benfica a culpa foi de alguém ter mexido no galináceo de cristal e ele nem com água do Cunene, Caculevar ou Bero se vai desembruxar mais. Mas isso não é para aqui nem achado nem chamado porque não quero nem lembrar quanto mais recordar as caras que lhe vi fazer. Também com o nevoeiro que tem esses dois que nem param de fumar, eu incluído, como é que alguém ia mesmo ver a baliza do adversário?
Mais umas horitas de conversa, mais umas trocas de impressões e ideias. Amanhã é dia de trabalho. Assuntos importantes que me trouxeram aqui não podem ficar colados só num papel porque eu quero ver aquilo que já vi e aquilo que eu agora gostava de ver pela primeira vez. Porque quando a gente tem mesmo aquela idade de parvoíce quer lá saber se a natureza está bonita ou assim como mais não sei quê. Quer é saber se elas olharam na gente com olhos de ver e coisas mais a dar para isso. Agora, que as baterias estão mais fracas já quer ver a obra que esse dito de Arquitecto andou por aqui a fazer. Já vi obras que dizem que são dele que são um espectáculo, como já devem ter reparado e se não o fizeram voltem atrás e leiam tudo outra vez. Agora dá esta mistura de trabalho e ver coisas. E o tempo foge de entre os dedos que parece passador de leite. Me esquecia de dizer que hoje a gente tem que deitar mais cedo porque ali a Adamastor vai dormir também e depois não tem luz para ver o caminho até ao quarto. É verdade que andaram a fazer umas obras aí na rua e a luz se foi pelo que o gerador que dá luz na padaria do lado também dá aqui e como hoje houve futebol ele deu mais um bocadinho, senão faz maia hora e já estávamos à luz da vela. Se eu pudesse escrever o barulho que ele faz vocês que nem conseguiam de ler o que eu tento escrever. Por isso lhe baptizaram de Adamastor, e acho que lhe fizeram mesmo bem. Vamos a correr para a cama que o barulho dele está que a sumir. Assim fizemos e foi mesmo a tempo. Mais ou menos 3 da manhã parecia a guerra tinha começado outra vez. Co-pilota dá um salto parecia tinha mola no corpo. Era só mesmo trovoada que estava a cair mesmo em cima da cabeça que é como quem diz na cidade. Se o Tico na estrada da Lucira andasse como o coração dela está agora te vou dizer que a gente tinha mesmo voadao. Mas te vou contar que não tem barulho mais igual que nem esse. Se fosse dia eu ia na rua apanhar com essa chuva no lombo e lavar até na alma. Mas na noite tem muito parece é fotógrafo e fica assim como que arrepiado com medo, noite de discoteca com a luz faz a gente parece está a andar aos saltos e som da bateria a parecer entrar assim dentro do ouvido que até parece o timpano está a estalar. Portanto esta noite ainda foi mais curta que as outras. Vais ver que ainda te habituas a não deitar, pelo que se vai ficar com mais tempo para ver o mundo.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

8 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(56)


Não é por devoção, é mesmo para ver a vista. É mesmo só para matar saudades dos tempos em que o kota avô nos metia no seu machimbombo de trazer a família nos levava a passear. E lá fomos nós atravessando a cidade de uma lado, dando a volta e parece fazer um círculo de mais alto um dos lados. Estão a construir um hospital americano ou coisa parecida lá em cima. Depois a base militar que nem espreitei que eu não sou desses de andar a fazer espia e ainda me podiam fazer perguntas que eu não sabia a resposta. Medo só mesmo dos mugimbos de coisas de ouvir falar que depois na realidade real da vida se vai vendo que foi mesmo só vaselina nos ouvidos que nos estiveram a pôr. Não serve mesmo para nada. Antenas da SISTEC a apontar no céu. Lá em cima delas deve que ser o ponto mais alto de Angola. Esqueci de perguntar mas um dia destes eu vou saber.
Está em restauro e está bonito. Só falta mesmo limpar ele mesmo o Cristo Rei porque tudo o resto está limpo e pintado que nem novo. Nos abriram a porta e lá fomos caracolando até chegar nos pés do referido dito cujo. Fotos e fotos. Ahs de espanto. Mais ideias surgem na cabeça que está aqui está a explodir de tão cheia delas. Ainda vou apresentar uma aí no dono dessas antenas e eu sei ele vem aqui em baixo discutir comigo e vai fazer o que eu lhe estou a pensar. Infelizmente tudo isto estava a passar só dentro da minha cabeça pelo que não passou a mensagem para quem de direito e ficámos por aqui. Mas quem sabe um dia… Descidos de lá de cima é hora de voltar e então parámos num bar assim como discoteca pertinho da feira do gado e ficámos a beber umas e outras que o calor não é muito mas a sede aperta e sabe sempre bem uma birra loiramente gelada. Bar bonito este que está aqui, decorado com madeira daqui. Simples mas eficaz. Gente boa vai entrando e saindo que até o soba da Chibia aqui veio e nos rimos com esse vendedor de petróleo das arábias sem nunca ter sido árabe. Como é bom estar aqui mas há mais «capelinhas» para visitar. Vamos na SISTEC que a senhora directora nos quer por lá. A gente vai que nem protesta porque ela não é protestável. Mandou está cumprido e mais nada. Tas a ver, né? YAH! Enquanto alguém trabalha outros aproveitam para ir na Florida, ver a Tirol, espreitar a Catedral, ver a sede do Benfica e recordar os bailes das noites antigas, numa palavra, andar e bisbilhotar. Aproveitar enquanto é tempo que ele anda a fugir como que por entre as mãos. Hora de voltar na casa, nosso quartel general, onde D. Fernanda nos espera com toda a simpatia, e sem esforço nos prepara o jantar que a gente sente tem prazer e o comerá como se fosse a última refeição. Mais uma vez estava divinal e a gente parece é sapo de barriga cheia. Ai Tico que não vais ter molas para tanto peso.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

7 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(55)




Vamos então, estamos mesmo à espera de mais o quê? E lá fomos nós. Directos ao Santo António que cresceu que até parece uma cidade dentro da cidade, antes de chegar no aeroporto, que depois deste tempo todo sem lhe ver até parece ficou mais perto, virámos mesmo na direita assim como quem vai na Chibia. No dezasseis, rotunda ainda lá está, bem como a carcaça da casa que tinha uns bifes até altas horas da noite e que os jovens maus das famílias boas vinhas mesmo comer depois das malandrices, virámos novamente na direita e lá seguimos. Como podia eu ter esquecido esta maravilha. Ainda me falam das sete maravilhas do mundo e coisas e tal. Mas se eles estivessem onde eu estou nem queriam mais saber dessas coisas fabulosas porque estas são ainda bem mais que isso. Tem chovido pouco pelo que a cascata tem quase água nenhuma e mesmo assim é bela que nem tem palavras para fazer o desenho do deslumbramento. Agora imagina só se ela tem água como vai ter daqui a uns dias? Ficavas de boca aberta que até enxame de abelha fazia ninho lá dentro e tu não davas por nada. Andámos por ali. Todos os ângulos eram ângulos de espanto. Tudo registado até as tabuletas. Alpinismo e trambolhanismo a gente fez. Tem que não tem GPS para escolher sapatos e vem aqui de chinelos que desliza parece pista de gelo? Agora te aguenta e vai te curar com a beleza da natureza. Umas fotos para mais tarde recordar. Acho mesmo que é melhor ficar aqui a contemplar o mundo, ficar aqui a arranjar no pensamento soluções para o mundo. Não apetece mais sair daqui. Na cabeça fervilham ideias e sonhos. Vamos continuar no passeio e ver mais coisas. Não vamos na Chibia que a estrada não está boa e a gente vai demorar muito mesmo para ir e voltar. Vamos ver o Cristo Rei.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

6 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(54)


Lá regressámos nós até pertinho do Colégio da Madres. Pensava eu ter uma refeição assim que ligeira mas qual mesmo o quê! Ai, Tico, que vais sofrer muito para levar estes três marraficos de regresso. Mas eu já disse que isso é outra estória. Vem um gajo para a terra onde há fome e sai gordo?
Fome mesmo que não há nas zonas todas que visitei. Pode ser que tenha lá nos interiores, nos campos de refugiados e coisas que eu não tive possibilidade para ver porque o tempo não é assim como eu de elástico. Mas na linha litoral só mesmo tem fome quem quer, quem não tem inteligência ou possibilidade de se mexer. Mas isso hoje aqui não importa pois eu não fui fazer esse levantamento e não posso falar de ouvir falar. Vi eu conto, não vi eu não conto porque já te disse que as estórias comigo são mesmo verdadeiras mesmo que não tenham acontecido.Mas retomemos o carreiro se não a gente se perde e nunca mais almoça que é a hora que eu te estou a contar. Senhora Dona Fernanda é mesmo mãos de fada. Se comeu e se repetiu. Todos que não fui só eu, como já estavam aí a pensar. Claro que também bebi e foi mesmo N’Gola que é daqui e está melhor que nunca. Acabado o repasto fomos mesmo na SISTEC, não só ver as montras e novidades, também gastámos lá combu porque comprámos duas daquelas coisas que guarda a memória do computador, não a minha que essa já deu o que tinha a dar, e além do mais dá também para gravar umas duzentas músicas que chamam de mp3. Pois que o Tico não dá música e há que lhe ligar qualquer coisa pois se não ainda acabo mesmo por cantar e lá vamos nós sem vidros. No caso de ele não se recusar a andar com esta voz de parvalhoti em dia de vento num caniçal. Lá mesmo na SISTEC me deixaram sentar e escrever uma carta de duas ou três linhas sem destinatário. Só mesmo para dizer que estava sem palavras porque as estava a guardar para agora poder te contar todas as aventuras e coisas boas e más que tive a felicidade de estar a viver com gente que merece um apartamento apalaçado no meu coração, que é coisa que eu também tenho. Gente boa ali encontrámos a bulir e ver a gente que estava ali para ver o tempo passar e filmar na memória as vidas que tínhamos vividos e a as vidas que ainda queremos viver. Vamos na Huíla? Mas a gente não está na Huíla? Perguntou a caluanda que não tem GPS na carola. Filha, tem Huíla que é a província que é onde que a gente está e tem Huíla que é uma aldeia onde parece que foi que nasceu a minha avó.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

5 de fevereiro de 2006

Porque hoje é Domingo


Senti sempre um fascino pelas coisas que se manifestam ao contrário do habitual, às correntes de ordem definidas, às linhas rectas de pensamento. Sempre senti uma predilecção pelo lado que não importa, que não interessa. Sabendo que é certo que o principio e o fim são também, ao fim e ao cabo, lados. O único exemplo que conheço que não tenha princípio e fim é a circunferência. Porém esta tem lados. O de dentro e o de fora.
Não só gosto de explorar a perspectiva não habitual do mundo, se não descobrir o desassossego que às vezes se parece encontrar em coisas que não seguem as regras e que aparentemente o nosso cérebro se nega aceitar.
Em terminologia da física, gosto do equilíbrio instável.Também encontro o desassossego naquilo que escapa o nosso conhecimento. Quem mais e quem menos sofre? Interessa quantificar o sofrimento ou importa somente que se sofra? Qual a origem do Universo? Teve ele um princípio?
Hoje é domingo!

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

4 de fevereiro de 2006

Porque hoje é 4 de Fevereiro


O oceano separou-se de mim
enquanto me fui esquecendo
nos séculose eis-me presente
reunindo em mim o espaço
condensando o tempo.

Na minha história
existe o paradoxo do homem disperso

Enquanto o sorriso brilhava
no canto de dor
e as mãos construíam mundos maravilhosos

john foi linchado
o irmão chicoteado nas costas nuas
a mulher amordaçada
e o filho continuou ignorante

E do drama intenso
duma vida imensa e útil
resultou a certeza

As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de chão.

Agostinho Neto

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

3 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira (53)



Caminhámos para o grande lago. Árvores enormes continuam a guardá-lo dos ventos e brisas. Flores nos canteiros mostrando as vistas de memória. O grande lago para tristeza minha estava seco. Se viam as lajes cobertas de capim, a profundidade que nos outros tempos me parecia grande era agora mesmo ali à mão de secar. Caminhámos nas suas margens, tristes, profundamente tristes recordando sonhos passados, namoros namorados na relva que ainda o continua a servir de descanso. Água mesmo só perto da prancha de saltos. Todos os bagres que estavam naquela piscina estavam agora ali concentrados. Até quando perguntei eu a ninguém, pelo que não tive resposta. Subi a prancha donde nunca tivera coragem para saltar. Agora mesmo que a tivesse era-me impossível. Uma lágrima quis sair dos olhos mas a força de vontade fê-la recuar, era uma lágrima salgada num lago de água doce. Desci pelas escadas. Fui à Carreira de Tiro. Intocável. Ainda há quem a use. O Estádio, onde a gente se distrai a ver de longe a cidade em vez de ver a bola que rola na relva ali estava, majestoso como sempre. Mas o meu pensamento não saia do grande lago que fora outrora e que agora parecia apenas um buraco lajeado e esverdeado. Até quando, perguntei-me novamente? Calado não me respondi. Passeámos pelos jardins que continuam a ter as suas roseiras. Olhámos de longe o Casino, traça e cor originais. Intocável pelo tempo. Recusei-lhe visitar. Conhecia-o de um ou outro baile, de uma ou outra festa em que lá fui em trabalho. Não o quero conhecer agora. Dali, daquele passeio pedestre seguimos até ao miardouro, onde há poucas horas, noite dentro eu havia visto a cidade, as luses da cidade grande, maior que a recordação. E é. Em plena luz do dia consegui ver que era bem maior que na noite que lhe tinha visto. Acho mesmo que os meus olhos já não conseguem ver onde termina a cidade e começa o mato. Ali é o Hospital, Ali aquilo e aqueloutro. Daqui de cima quase me lembrava de todos os seus cantos e encantos. Daqui de cima é a minha cidade. Descemos. Parámos na curva do garrafão. Revi os filmes das muitas 3 horas do Lubango que eu havia visto. Demos a volta à pista. Passámos na meta depois de fazer a curva do João de Almeida, substituído por uma estátua que não sei o quem representa agora mas está bonita de bem feita. Parámos na curva do Casino, no fim da recta da meta para ver se me lembrava da árvore onde batera o Corte Real Pereira na última corrida que fez. Fui atraiçoado pela memória. Era uma daquelas ali, pensava eu, que estava ali perto no dia a fazer reportagem para o rádio lá da cidade do deserto. Seguimos o nosso passeio de reconhecimento. Um kartódromo com ar de bom aspecto e funcionalidade. Não parámos para eu fazer o gosto ao dedo, que é como quem diz, ao pedal. Passámos no Pavilhão, onde vi bons jogos de basquetebol e outras coisas mais tais como a Tonicha a ser puxada pelo marido que era empresário ou vice-versa, vi o Nelson Ned do alto dos seus 50 cm de altura e voz de deixar cair o tecto de forte que era., e onde parece que continua tudo a funcional na perfeição. Logo depois dele virámos na esquerda e vimos um empreendimento turístico com gazelas e tudo, em grande ampliação. Cidade em crescimento. Depois de por esse caminho termos reentrado na recta da meta, logo depois das boxes virámos à direita e fomos até ao Colégio Português. Não é que a cidade está a crescer naquela direcção com casas de fazer inveja? Pois é, se me distraio um dia não vou conhecer a minha cidade. Só espero mesmo que ela não venha a ter o trânsito da capital. Aqui se anda de carro, não se passa o dia sentado no carro. Mas curioso é que a maioria dos carros tem volante na direita, mas que agora está proibido comprar mais assim. È difícil conduzir assim com o trânsito a correr como que no sentido contrário, alem de que é perigoso pois um gajo sai do carro em pleno meio da estrada. Com isto tudo é hora de ir no almoço.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

2 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(52)


Conversa servida à volta da mesa alguém diz que amanhã é dia de trabalho e todos respeitamos essa coisa pelo que lá para as duas fomos para a cama. Para variar seria uma noite curta. Mas não é que a gente já estava mesmo habituado? Levantados depois dos que iam trabalhar, esperava-nos um lauto matabicho. Hum, acho que o Tico vai ter que ter reforço no regresso à selva Luandina, por levar carga a mais. Mas isso é mesmo problema do Tico e ele que lho resolva quando for hora disso que agora nem pensar. Saídos de casa, outro casal de ventos novos, que arrumaram as bicuatas e regressaram à terra que lhes viu nascer, nos foi buscar para andar por aí pelo que primeiro fomos mesmo que direitinhos à casa que me viu nascer. Está em obras de melhoramentos assim como a loja que lhe ficava colada e onde eu muitas vezes cortei o bacalhau com aquelas facas que estão presas no balcão e que mais parece guilhotina. Fotografia para marcar o feito e seguimos para beber uma bica no Café da Huíla. Café que está na moda, que fica ali para os lados da casa onde que eu nasci, antiga estrada da Mapunda. Será que ainda se pode ir por aqui? Esqueci perguntar e hoje ainda não sei. No café, que me parece é novo, gente conhecida de outras épocas. Abraços e cumprimentos. A família como está? E fulano? E Fulana? E assim sucessivamente que até parece que foi ontem que eles não sabiam que muitos já não estão aqui para me ler ou me ouvir contar as estórias. Agora vamos direitinhos na Lage que era onde morava o patriarca da família e onde o respeito ficava sempre muito bem, porque ele era kota mas não era burro para ir nas nossas conversas de adolescentes inconscientes. Eu sei que várias vezes ele foi na oficina porque o carrão dele gastava bué combustível. Mecânico sacana lhe ensinou a marcar os quilómetros à noite e confirmar de manhã e ia ver que o carro até parado onde ele deixava andava que se fartava. Assim terminou de forma abrupta umas inocentes saídas à noite. A casa está que nem antes, só mesmo o telhado foi mudado. Ao lado lhe construíram uma sede de um clube e como o apontamento cerebral foi levado pelo vento das emoções posteriores já não lembro. A bomba de gasolina do Vasco Gouveia ainda lá está e a funcionar. O Muro da esquina que era assim como que o ponto de encontro de vários cambas que dali partiam ou para sítio nenhum ou para a Senhora do Monte ou para outras vadiagens estava também em obras pelo que não pude matar as saudades de estar sentado à esquina debaixo da mangueira que ainda lá está a dar de borla a sua sombra. Para os lados da casa do Leitão cresceu uma outra cidade de barro e zinco impedindo de fazer o caminho até à Senhora do Monte como nos antigamente na vida. Mas agora também tem o Tico para levar a gente. Nos outros tempos era mesmo o caminho que mais dava jeito. Até para ir na Pousado do Turismo ver alguma garina, algum carro de corrida ou mesmo para jogar à bola no campo inclinado que lhe ficava ao lado. Assim sendo lá fomos no Tico ver a minha amada Senhora do Monte. Parámos onde eu nunca havia parado. No parque de estacionamento da piscina. Nunca lá me tinham levado antes de carro, era sempre a butes que o físico era outro e ela também ia a pedantes. Ela que morava um bocado abaixo da casa do meu grande kota, na descida que ia dar na Igreja da Lage onde um padre de cabelos compridos e motoqueiro dava missa com conjunto de música rock e tudo. Não sei se iam à missa pela música, se pelas garinas se pelo que fosse ela estava cheia nos sábados à tarde.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

1 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(51)


Parabens Cristina por este teu aniversário



Assim num repente me lembrei que também me tinham ligado dum telefone fixo a quando das combinações. As novas tecnologias têm a capacidade de memorizar as coisas pelo que liguei eu para o referido número fixo. Se tivesse confiado na memória era o relento que nos esperaria. Quando perguntei pelos cambas que deviam de estar à nossa espera, à espera do nosso telefonema, voz simpática do outro lado nos disse que foram ter com vocês, estavam aqui em pulgas. Eu não disse isso? Parece que sou bruxo. Pois é, nós estamos aqui e o que fazemos? Sabem onde é o Colégio das Madres? Se eu não soubesse me dava uma coisa má, pois não foram as poucas vezes que eu saltei aquele muro para ver as garinas nos tempos em que era mais novo e consequentemente menos racional. Sei sim senhora! E lá deu as indicações de vira aqui, segue para ali e eu, servindo de verdadeiro co-piloto, fui guiando o homem do leme até mesmo à porta. Perdemo-nos uma vez porque esquecemos que a primeira não contava porque era sentido proibido. Mas se isso não tivesse acontecido não tinha piada pois até parecia que não tinha passado nenhum tempo. Camba, amiga mesmo do coração, que nunca nos havia visto nem mais gordos nem mais novos nos abriu a porta de casa, nos meteu lá dentro e ali ficámos até sermos contactados pelos nossos ansiosos salvadores. Quando eles nos ligaram perguntaram onde é que a gente estava e eu respondi que estava junto ao muro do referido Colégio porque queria matar saudades. A voz doce do outro lado da linha foi pronta a dizer então não saiam daí porque é perto. Ok, disse eu, escondendo uma enorme vontade de rir. Pouco depois novo toque telefónico. Onde estão vocês que já demos a volta toda e não vos vemos? Aí foi a minha vez de brilhar e dar as explicações que me tinham dado. Sacanas, me disseram do outro lado da linha. Estávamos mesmo na casa dela.

Fazendo aqui um parêntesis na viagem só para dizer que lhe conhecia
apenas da escrita no computador. Me lembro como que assim vagamente no kota dela
que morava lá no Namibe pertinho da casa de uma tia minha. Lhe havia visto em
tempos numa foto com amigos meus. De resto lhe desconhecia na totalidade. Ela, o
marido, o filho e a mãe são pessoas de muitas estrelas e quero desde já deixar
aqui o meu reconhecimento e dizer-lhes que me ficaram gravados no coração para
sempre.
Voltando ao novelo da meada que é como quem diz à confusão de letras seguidas para contar uma aventura.Fomos para a rua esperar a chegada dos ansiosos receptores destes pobres três aventureiros que viajavam ao sabor e combustão dos vapores do gasóleo. Mal saíram do carro eu parecia que lhes conhecia faz tempo. Abraço mais caloroso não podia ter recebido. Era mesmo calor de amizade que estava a sair daqueles corações. Olhámos bem no carro e dissemos bem que a gente vos viu passar. Mas sabíamos lá que eram vocês. Família boa mesmo que a gente veio de encontrar aqui no Lubango. Palavra puxa palavra, conversa afiada, piropos trocados e é que alguém apaga a luz e começa a cantar os parabéns a você. Nem mesmo tanta emoção deixou passar mais que um minuto da meia-noite. Um Maboke e uma vela. Melhor prenda de anos não podia ter recebido. Sei que ainda posso receber muitas, mas assim, na terra em que ficou uma parte de mim, a parte que me liga para sempre à terra, com um fruto que é um dos meus frutos preferidos, com gente assim à minha volta…será impossível de esquecer.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca