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6 de fevereiro de 2006

Uma estória verdadeira(54)


Lá regressámos nós até pertinho do Colégio da Madres. Pensava eu ter uma refeição assim que ligeira mas qual mesmo o quê! Ai, Tico, que vais sofrer muito para levar estes três marraficos de regresso. Mas eu já disse que isso é outra estória. Vem um gajo para a terra onde há fome e sai gordo?
Fome mesmo que não há nas zonas todas que visitei. Pode ser que tenha lá nos interiores, nos campos de refugiados e coisas que eu não tive possibilidade para ver porque o tempo não é assim como eu de elástico. Mas na linha litoral só mesmo tem fome quem quer, quem não tem inteligência ou possibilidade de se mexer. Mas isso hoje aqui não importa pois eu não fui fazer esse levantamento e não posso falar de ouvir falar. Vi eu conto, não vi eu não conto porque já te disse que as estórias comigo são mesmo verdadeiras mesmo que não tenham acontecido.Mas retomemos o carreiro se não a gente se perde e nunca mais almoça que é a hora que eu te estou a contar. Senhora Dona Fernanda é mesmo mãos de fada. Se comeu e se repetiu. Todos que não fui só eu, como já estavam aí a pensar. Claro que também bebi e foi mesmo N’Gola que é daqui e está melhor que nunca. Acabado o repasto fomos mesmo na SISTEC, não só ver as montras e novidades, também gastámos lá combu porque comprámos duas daquelas coisas que guarda a memória do computador, não a minha que essa já deu o que tinha a dar, e além do mais dá também para gravar umas duzentas músicas que chamam de mp3. Pois que o Tico não dá música e há que lhe ligar qualquer coisa pois se não ainda acabo mesmo por cantar e lá vamos nós sem vidros. No caso de ele não se recusar a andar com esta voz de parvalhoti em dia de vento num caniçal. Lá mesmo na SISTEC me deixaram sentar e escrever uma carta de duas ou três linhas sem destinatário. Só mesmo para dizer que estava sem palavras porque as estava a guardar para agora poder te contar todas as aventuras e coisas boas e más que tive a felicidade de estar a viver com gente que merece um apartamento apalaçado no meu coração, que é coisa que eu também tenho. Gente boa ali encontrámos a bulir e ver a gente que estava ali para ver o tempo passar e filmar na memória as vidas que tínhamos vividos e a as vidas que ainda queremos viver. Vamos na Huíla? Mas a gente não está na Huíla? Perguntou a caluanda que não tem GPS na carola. Filha, tem Huíla que é a província que é onde que a gente está e tem Huíla que é uma aldeia onde parece que foi que nasceu a minha avó.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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