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19 de maio de 2006

Não me percas, AMOR



Ouves aí o marulhar? Senta só aqui um bocado comigo e me trás o teu calor. Senta aqui e me deixa sentir o antigamente da vida ou ouvir as velhas estórias. Senta aqui e olha comigo esse zulmarinho que tem o início dele lá do outro lado e chega aqui carregado do seu perfume. Anda e trás contigo as birra loiras estupidamente geladas para a gente navegar nos nossos mares, ao sabor da brisa da imaginação.
Sabes, eu hoje acordei com aquela sensação de vazio. De estar assim sem ninguém num mundo de gente. De um sentimento de solidão mais profundo que a profundidade desse zulmarinho salgado que tás a ver na tua frente. É daqueles casos em que se olha para o horizonte e se encontra resposta vazia no fim de onde a vista alcança.
As sobrancelhas franzem, a cara se fecha numa redoma de chumbo, impenetrável e invisível, as palavras não saem e a voz não se ouve. Resta um pensamento quase vazio e num olhar à beira do mar vês a alegria das águas na sua revolução se atirando na areia e se perdendo dentro dela.
Preciso rever alguns dos meus somatórios de tempo, modificar uns conceitos e preconceitos, seguir um rumo mesmo que no pólo norte eu não consiga ir mais a norte. Já agora me diz só o que faz a bússula lá no pólo norte?
Bom, deixa-me voltar à minha válvula de escape: afundar-me na caminhada nessa beira-mar em que eu caminho muitas vezes só com os olhos e os pensamentos.
Não me percas, por favor, não me percas e conta-me as tuas certezas e incertezas. Não deixes que se afaste de mim este lugar incerto e vago que substitui o meu corpo quando penso no teu, esse que está aí no início do zulmarinho, esse que transporta com cicatrizes, feridas por cicatrizar e que não vemos porque não queres mostrar ou porque não queremos ver. Não percas os meus olhos, ou a minha boca, ou as minhas formas. Não permitas que eu me desprenda dos teus cabelos, que o teu nome seja um silêncio triste na minha boca, que os meus dedos se esqueçam da medida do teu tamanho. Não me percas, por favor, não me percas de mim.

Sanzalando Angola

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