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28 de maio de 2006

Não te quero para mim, te quero para te viver


Caminho vagarosamente, carregando o peso de ser o detentor da verdade suprema, única, de cada instante. Só deste instante, do outro instante que vem a seguir, mesmo que a verdade seja diferente. O perfume deste zulmarinho que me ilumina na escuridão da vida, cego de ver mas não de sentir, caminho a caminhada diária vertendo umas e outras, como quem verte a sede de viver. Tás-me a ver todos os dias a fazer a caminhada, é o meu treino diário para mais tarde fazer a maratona de descer este zulmarinho até no início dele. Vais dizer ou pensar, só com a vergonha de dizer, que vivo na angústia. Mas eu te respondo sem te dizer que vivo na dualidade da dúvida de ter a certeza que sou o detentor dessa verdade suprema deste instante. Vivo a capacidade de viver para hoje e de guardar em frágeis frascos de pó das estrelas todo o ontem e o amanhã. Pós de cores que foram tudo e que, como um arco-íris, nunca são iguais. Postos lado a lado na prateleira da minha vida a tornam tão colorida que me permitem estar aqui a conversar contigo, a dialogar num monologo com os teus olhos neste ouvler que temos diariamente na testemunha presencial deste zulmarinho, umas vezes chão, outras vezes rebelde que nem quando eu era noutras idades mais irreflectidas. Caminho sempre com os olhos postos em ti, mesmo não te vendo já que estás escondida por detrás dessa linha recta que é curva, traçada com uma régua em T, num estirador de Arquitecto que me quer testar na maneira de ser e ver até onde aguento a dor de ser dono da minha verdade instantânea. Deste-me muito de ti, para viver. Não te tenho tentado levar mais nada. Talvez seja medo. Talvez seja defesa. Talvez escolha. Não me culpo. Amo-te em cada instante. Amo-te na eternidade. Por aquilo que me permiti viver. Escolhi. Não me terias escolhido mas escolhi-te. Gosto de ti. Tudo é hoje e eu fui tudo o que fui porque sim. Porque não quis! Nos teus braços estive indefeso, incoerente, apaixonado, alegre, choroso. Tu mandaste-me o destino sem sabres que estavas a traçar um linha tracejada. As tuas cores fortes me prenderam ao sonho que sonho acordado. As tuas costas geométricas me mantiveram à tona, me trouxeram sempre à superfície da escuridão, à clareza da nitidez por vezes desfocada, no caminhar do arame gráfico. Os teus perfumes, as tuas formas me vergaram e me envenenaram sem veneno. Foi bom! Não te quero para mim, te quero para te viver. Não me quero como tu me queres porque te quero mais do que tu me queres a mim. É bom saber que pode ser assim. Gosto de mim por te ter vivido, por ter sabido aguentar a espera de ter esperança. Chega mais um pouco para mim, assim como tu estás em ti, também eu quero estar em ti.
Sanzalando Angola

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