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6 de maio de 2006

Imprevistos


A praia onde me encontro a contar estórias, aqui no fim do zulmarinho, onde que parece que tem menos sal, onde que a espuma parece menos assim com espuma de praia, tem a forma assim de um segmento de círculo. Já sei que vem aqui um matemático dizer que não é assim que se diz, um arquitecto dizer que não é assim que se descreve. Bem mas eu não sou nem um nem outro pelo que, mais garrafa menos garrafa, é assim que eu digo. Nessa sua forma de ser ela parece que está aqui para me enrolar e me deixar no seu centro. Me deixar aqui confinado na forma de contador de estórias mais ou menos verdadeiras mas sempre reais nem que sejam dentro da minha tola. Também que é aí o centro do mundo e seus arredores e eu não tenho dúvidas.
Mas nem tudo na vida sai como previsto. Isso é um facto insuflável, que tem outra palavra para dizer mas que até custa só de soletrar pelo que me fico por esta que é mais simples, assim como nada é por acaso. Tanto que, depois de me cansar de falar aconteceu alguma que não estava previsto e então resolveram criar a palavra imprevisto. Tem gente aqui que se prende a tantos detalhes que é capaz de dizer que tudo deu errado só por causa de um pequeno imprevisto. Quando no final tudo terminou bem.
Eu mesmo, apesar de na maiorias das vezes ser guiado por impulsos, que não telefónicos, gosto de planear tudo. Planeio até o que não está ao meu alcance, para saber o que fazer caso um dia consiga alcançar. Mas até os mais elaborados planos estão sujeitos à uma infinidade de variáveis que não temos controle nenhum. E isso assim mais que nem porquê, pode pôr tudo a perder. Por isso temos que estar preparados para tudo.
O que isto tem a ver com esta beira-mar? Nada. Mas por causa de outro imprevisto, tudo o que eu tenho no momento em que escrevo é um computador rápido, com bastante memória RAM que me dá acesso completo... Ao bloco de notas!

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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