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15 de maio de 2006

Vice-versa


Caminho num vice-versa. Hoje o zulmarinho começa do lado direito e quando eu voltar ele vai estar do lado esquerdo. Já sei que vais pensar que é por causa do coração e coisas de superstição. Mas não é. Hoje me apetece andar mesmo ao contrário nesta areia de mil cores que me liga ao zulmarinho que teima em estar ali no seu baloiçar de ir e vir e sem ondas para me salpicar como se fossem as lágrimas que eu deixo correr na cara como se não parasse de chorar. Mas os homens não choram e portanto é só umas gotas de zulmarinho que às vezes teimam em escorrer na cara. Nesta caminhada, feita com gosto e sorriso gravado na cara não vá alguém parar para pensar no que eu estou a pensar e depois vem dizer que o gajo é doido porque anda para aqui a inventar estórias de embalar e o que ele tem é nostalgia. Mas isso é doença que pega? Se não é não pode ter problema a não ser para mim e por isso há que estar na divisão dos mundos, lá naquela linha recta que é curva e num equilíbrio desequilibrado mais para um lado lá se vai andando no cá para lá e vice-versa.
Mas afinal para que servem os amigos? Os dos outros não sei, mas os meus servem para tanta coisa, algumas até inusitadas que não dá nem para imaginar. Parece mentira, mas é mesmo verdade verdadeira. Estou, neste exacto momento, nada mais do que a pensar nos meus amigos todos para tentar descobrir o que me virá resgatar desta terrível prisão em que se tornou este digníssimo e maravilhoso local no qual caminho ao ritmo das ondas do zulamrinho sereno. É tão cómico, mas ao mesmo tempo é tão absurdo que é melhor caminhar devagar. Olha só a situação em que me encontro: Mudei agora para o versa-vice e o mar está do lado esquerdo mas a paisagem olhando o zulmarinho é mesmo igual que nem no vice-versa e no lado direito o vazio que se estava a estender pelo areal se estendeu por completo. Se tirassem agora uma fotografia se viria a cor dourada enorme, um ponto de interrogação perdido nessa cor de ouro e depois o azul do zulmarinho nos seus minúsculos reflexos. Para ter uma ideia, imagina só se me dá um treco, que a idade não é para aqui chamada e os azares sempre estão à espera de quem não espera nem está desesperado. O que é que poderia acontecer? Ficar preso aqui no meia da liberdade total à espera que um amanhã alguém aparecesse e desse com o ponto de interrogação estendido no areal parecido com um croquete? Me deu que nem um arrepio só de pensar que estou engradeado no vazio, na imensidão de liberdade, só interrompido agora por um rasto de um avião que na altura que está nem imagina que eu estou aqui debaixo dele.Portanto é mesmo melhor chamar um amigo para estar aqui a me olhar enquanto eu caminho de lá para cá ou vice-versa

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos

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