Como sabes eu também sou humano e por vezes tenho dias menos. É raro porque tu sabes que eu sou um optimista por natureza. Se aguentei 9 meses dentro dum espaço tão limitado que nem me dava para me esticar eu não ia aguentar as esquinas cortantes da vida? Mas há dias e dias e nem todos os dias são iguais. Entornado por problemas e frustrações em diversos níveis e categorias, abarrotado por esperanças, umas vãs outras nem por isso antes pelo contrário, fiz o que qualquer homem sensato e tranquilo faria: perdi a compostura da tranquilidade, se apagou o sorriso que se me colou um dia na cara e não descolava nunca, ou quase e saí por aí de cara amarrada numa carranca velha e carcomida pelo tempo mostrado nos pelos brancos da barba por fazer vai para uns dias.
Transformei-me num sujeito tenso e descarrego o nervosismo em qualquer inocente que esteja por perto. Começo a gritar com os que se divertem jogando à bola na borda do zulmarinho, espezinhando-o ou saltitando por ele como se estivesse gelado, esquecendo que há mundo do outro lado da vida que vivem e estão para ali a divertir-se. Depois, passo a gritar com os outros que se esparramam na areia como querendo absorver numa forma egoísta o sol e ficarem assim com a pele que nem um bronze de estátua, esquecendo-se que pode aparecer algum pombo e fazer aquilo que os pombos gostam de fazer nas estátuas além de pousar para a foto. E, finalmente, grito com o nadador salvador, que a olhar pelo físico deve de ser mais nadador afundador.
Grito com os vizinhos que também caminham nesta borda do final do zulmarinho e que parecem também querem ouvir estórias para mais tarde recontar. Grito com boa parte da família e com vários amigos, daqueles que bem podes fazer cara de zangado e eles ainda se estão a rir dessa mesma cara.
Quando todos passam a evitar-me, afastando o seu olhar em cada passo meu, resta-me gritar contra o ar, contra o vazio de gente, contra a corrente, num grito para o vazio.
Um desses espreitadores da vida alheia que se escondem duma vista apurada mas vêem tudo, recomendou-me, em surdina não fosse eu descobrir onde ele estava escondido, procurar um psicanalista, pois não ficava bem eu, contador de estórias, andar assim a gritar ao deus dará num desconexo contexto de raiva descabida e incontrolada. Mesmo contrariado, segui o seu conselho: procurei na praia alguém que tivesse cara e aspecto de psicólogo e gritei com ele. Ele me escutou com a mesma cara de parvo que eu já vira nos jogadores de bola da beira do zulmarinho, nos que estavam deitados a egoisticamente absorver todo o sol do mundo. Não me senti melhor.
Chegou o fim de tarde e continuei a caminhar na beira deste zulmarinho, agarrado à minha garrafa âmbar de birra estupidamente gelada, como de costume, para me tranquilizar. A minha tradicional caminhada termina com o pôr-do-sol aqui que poderá corresponder a um acordar de sol noutro lugar qualquer. Não surtiu efeito e então gritei com a pedra que veio de encontro ao meu dedo grande do pé e me fez deitar água do zulmarinho pela cara como se fosse uma nascente dum rio de água salgada.
Agora, pareço outra pessoa. Não grito com mais ninguém - fiquei rouco!
Transformei-me num sujeito tenso e descarrego o nervosismo em qualquer inocente que esteja por perto. Começo a gritar com os que se divertem jogando à bola na borda do zulmarinho, espezinhando-o ou saltitando por ele como se estivesse gelado, esquecendo que há mundo do outro lado da vida que vivem e estão para ali a divertir-se. Depois, passo a gritar com os outros que se esparramam na areia como querendo absorver numa forma egoísta o sol e ficarem assim com a pele que nem um bronze de estátua, esquecendo-se que pode aparecer algum pombo e fazer aquilo que os pombos gostam de fazer nas estátuas além de pousar para a foto. E, finalmente, grito com o nadador salvador, que a olhar pelo físico deve de ser mais nadador afundador.
Grito com os vizinhos que também caminham nesta borda do final do zulmarinho e que parecem também querem ouvir estórias para mais tarde recontar. Grito com boa parte da família e com vários amigos, daqueles que bem podes fazer cara de zangado e eles ainda se estão a rir dessa mesma cara.
Quando todos passam a evitar-me, afastando o seu olhar em cada passo meu, resta-me gritar contra o ar, contra o vazio de gente, contra a corrente, num grito para o vazio.
Um desses espreitadores da vida alheia que se escondem duma vista apurada mas vêem tudo, recomendou-me, em surdina não fosse eu descobrir onde ele estava escondido, procurar um psicanalista, pois não ficava bem eu, contador de estórias, andar assim a gritar ao deus dará num desconexo contexto de raiva descabida e incontrolada. Mesmo contrariado, segui o seu conselho: procurei na praia alguém que tivesse cara e aspecto de psicólogo e gritei com ele. Ele me escutou com a mesma cara de parvo que eu já vira nos jogadores de bola da beira do zulmarinho, nos que estavam deitados a egoisticamente absorver todo o sol do mundo. Não me senti melhor.
Chegou o fim de tarde e continuei a caminhar na beira deste zulmarinho, agarrado à minha garrafa âmbar de birra estupidamente gelada, como de costume, para me tranquilizar. A minha tradicional caminhada termina com o pôr-do-sol aqui que poderá corresponder a um acordar de sol noutro lugar qualquer. Não surtiu efeito e então gritei com a pedra que veio de encontro ao meu dedo grande do pé e me fez deitar água do zulmarinho pela cara como se fosse uma nascente dum rio de água salgada.
Agora, pareço outra pessoa. Não grito com mais ninguém - fiquei rouco!
Sanzalando Angola
Serenamente, sento-me na tenda da Amizade. Hoje com um propósito...
ResponderEliminarFazer um Tchim! Tchim com o Fernando!
Amigo, o golfinho da amizade já ai está..olha bem para o final da barbatana.......
A birra tá bem geladinha...
Bj
Di
É melhor que voltes a gritar.
ResponderEliminarSerá sinal que estás melhor.
(da rouquidão, claro!)