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2 de maio de 2006

Papel em branco

Página em branco. Lápis novinho, acabado de ser comprado, assim como o bloco de notas. Estou de frente para o zulmarinho. Me deixo hipnotizar pela vai e vem das suas ondas. Olho a ver se delas sai alguma ideia. Silêncio só interrompido quando elas se espraiam na areia e marulham de reboliço. Eu continuo de página em branco. Silêncio barulhento que brota da ponta do lápis. Nem uma palavra. Nem um rabisco. Ainda bem que também não sei desenhar. Tal como a página, eu estou em branco. É mesmo melhor tirar uma férias na escrita, no rabisco, na tela em forma de letras. Acho que vos é mais saudável.
Eu ficarei aqui na beira-mar escutando as ondas a ver se vem alguma nova desde lá do início dele. Vais ver é o vento que não está de feição. É sueste. Afinal de que lado é mesmo o Sueste? Deve de ser do lado de fora de mim.
Página em branco e eu afónico. Contem-me estórias até que se passe o sueste de fora de mim!

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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