Ao longo da minha vida acho fui dizendo que perdi amigos, quando sabia eles tinham ido para parte incerta e sem maneira de lhes contactar. Hoje, sem me sentar na falésia ou na marginal, sem percorrer as ruas quadriculadas da cidade, sem me sentar na esplanada dos ricos ou na dos pobres, sem saber de que clube é que eram, eu acabo por me dizer que afinal eu não os perdi porque eles me deixaram memória. É essa memória que me faz ser quem sou.
Se me sentasse na secretária do liceu e ouvisse PICA A BURRA numa equação do terceiro grau eu sabia exactamente quem estava a me dar chutos no cérebro, a me fazer pensar e a desejar que a vida terminasse naquele instante. Lhe gostava? Muito! O Dr. Vasco Coutinho era uma espécie rara, era assim uma máquina calculadora de comunicação intrincada na incógnita do conhecimento. E quando a gente saia da aula e o Sr. Portela vinha barafustar com a gente porque isto e porque aquilo e era sou picles e trouxa lavada que a gente estava a brincar. Chefe máximo do pessoal menor. Todos me complicaram a vida, deixando uma memória que me faz sorrir num depois do verão vivido.
E o Charles Bronson a filosofar nas aulas parecia era fácil dizer de Aristoteles e Sócratees. Despecebi o português dele. Jean-Jacques Rousseau, Satre, Marx, Engels, tudo se falou naquelas aulas. Compreendi sem saber bem porquê. Uma mágoa na altura, um sorriso agora.
Assim sendo numa perdi ninguém, lhes fiquei de memória.
Sem comentários:
Enviar um comentário