Sento-me na cadeira de baloiço do meu avô, olho o quintalão e a casa da vizinha e me embalo em sonhos de adolescente apaixonado faz de conta é uma revista de Corin Tellado, uma fotonovela que eu lia quando ia com a minha mãe à Cabeleireira dela, à D. Carlota. Eu era paixão que via em cada fotografia daquele tempo que ali estava. Entretanto passaram-se anos desde essas leituras românticas, tantos foram eles que eu cá penso que foram dias. Mais ou menos assim como que o tempo não passou. Parou na memória e gravou os fotogramas dos tempos idos. Muita vida passou na minha vida, tanto que eu tenho uma vida antes de e outra depois de e elas não se misturam, embora eu as viva em simultâneo. A paixão de então é a paixão de então e nada tem a haver com as novas paixões. Não desconstruo para reconstruir, vivo-as. Impossível esquecer pelo que é melhor vivê-las. O tempo não as apaga e o baloiço suave da cadeira do meu avô não me esmorece nem entristece, suaviza-me o recordar e ameniza-me o reviver.
A vida não é simples, nem fácil. É vida ela própria. Eu sentado na cadeira a ver a minha mãe com rolos na cabeça e esta enfiada no ovo do secador, ensurdecendo com o sopro do vento quente e eu a ler Corin Tellado. Quantas vezes eu já peguei nesta revista? Tantas quantas as que acompanhei a minha mãe à D. Carlota. Quantas vezes eu me agarrei à estória e colei nesta minha adolescência a olhar para a vizinha que mora para lá do quintalão?
É, a leitura tem destas coisas, nos influência, nos molda culturalmente, e hoje revivo essa estória do antes de, como se ela fosse dum agora.
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