Quantas ruas tem a cidade? Nunca lhes contei e agora seria batota porque ela cresceu sem meu conhecimento. Eu já não tenho a cidade que era minha e que eu a percorria com as minhas sandálias feitas pelo Estregildo, com os meus calções feitos pelo sr. Lucas. Eu não apaguei nenhum registo mas não me apetece agora acrescentar os novos registos. Prefiro ficar mesmo parado naquele tempo em que eu conhecia a minha cidade. Se ia no carro com o Bacharel, se ficava na esquina a ver se o boca de sapo ia passar, se ia na praia com os chinelos de pneu feitos pelo Acácio, o empregado doméstico do Sr..Eng. Armand Martins, e que ele diz serem Nonkakos e eu assim decorei. É essa cidade que eu gosto que tinha os pastei de nata da Oásis, os gelados do Lã, os cachorros quentes do sr. Ferrão, a ginguba do Camonano, as ferragens do Passa Fome, os remédios da farmácia do Teles ou os aviados pelo Figueira. Da cidade dos versos do Zé Côco no semanário da cidade, a lotaria do Bauleth, os rebuçados da Mercearia do Sr. Jorge ou o pão do PapoSêco, os livros da Mirabilis ou os da Regina, as canetas do Couto ou da Drogaria do Rosa.
Quantas casas tinha a cidade? Nunca lhas contei e não é agora que as vou contar.
Meu amigo vai dizer que eu vivia no mato e ele na cidade, mas eu gosto é da minha cidade que tem três carreiras de autocarro, não tem engarrafamentos e ninguém se atrasa por causa do trânsito.
Se calhar a culpa é minha por ter visto amor nesta cidade.
Sanzalando
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