Sentado a olhar o zulmarinho, nesta parte curva da baía, olhos postos no horizonte como que à espera de um abraço ou de um ar de sua graça, de sentir o seu calor ou arrefecer no seu cacimbo.
Já não consigo encontrar na minha memória o registo do teu rosto pois o tempo foi passando, as rugas te foram aparecendo e nesta que me resta ainda estás com aquela cara de jovem que não sorri, que não mostra o que sente apesar de saber que fez ferida no pobre vizinho da casa ao lado.
Como eu posso me lembrar de ti se passaram tantos anos que o cruzamento de olhar se evaporou na frieza do teu ver-me.
Lá, no início desta vida, onde faz calor ou cacimbo, dissemos um adeus que dura no até hoje, passado anos que já perdi a conta. O que a vida me deu nessa altura, a alegria e a felicidade ninguém me tira. Nem a música que ouvíamos vezes sem conta me faz esquecer que um dia dissemos adeus para sempre. Não fomos feitos para viver em primeira mão, para viver perto ou para sofrer longe. Desistimo-nos mas sem nos esquecer. Encontrar-nos-emos num breve dalgum lugar desconhecido em que olharás para o lado sem dizer que me viste.
Nem tu nem eu alguma vez sentiu um vazio no coração, a partida foi querida, desejada e um ao outro foi vendo a distancia a crescer num até hoje interminável.
Cumpriste a promessa de nunca me falar, de procurar ou dizer olá. E eu me obriguei contrariado a fazer o mesmo, olhando apenas para a memória, para as palavras escritas nas folhas soltas da recordação.
Sendo que é impossível voltar ao passado, rasgar o tratado não escrito porem assinado na razão mental de cada um, não consigo esquecer que antes de adormecer te recordo, que nas minhas palavras soltas o teu ar de não sorriso, os teu porte altivo e o teu desejo de crescer e ser gente me acompanha. Vou fazer mais como sem faltar respeito a um tratado assinado e consentido, por ambas as partes aceite?
Na marginal o zulmarinho se estende calmo, no meu íntimo transparece tranquilidade vivo contente e feliz mesmo depois desse tal adeus eterno que um dia dissemos.
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