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20 de novembro de 2005

Eu queria não pensar

Tundavala
foto by me

"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Eu queria não pensar Hoje, 18:51
Forum: Conversas de Café
Sento-me na Esplanada, a coberto da chuva e do vento frio que sopra dum lado qualquer. Nada trago comigo além de mim. Nem um livro para ler, nem um lápis para escrever. Nada! Eu e o zulmarinho num combate de silêncios.
O meu maior problema é pensar. Não é que eu pense coisas que prestem. Penso algumas que realmente valem a pena e outro caixote de coisas sem o menor sentido. O meu pensamento domina-me por completo, agride-me pelo seu constante martelar, condiciona-me na alegria de estar, faz-me escravo e refém. Eu queria não pensar tanto! Pouparia na dor crónica da gastrite, nos ansiolíticos, no ranger de dentes e nos murros virtuais.Eu queria não pensar tanto em dinheiro, pois eu me contento com o pouco que tenho e com o pensar na remota possibilidade de ganhar bastante. Eu queria não pensar tanto em linha, colesteróis e provas de função hepática, pois assim eu poderia beber as birras loiras e estupidamente geladas sem remorsos e sentimentos de culpa. Eu queria não pensar tanto no futuro, assim eu dançaria despreocupado em frente ao espelho, como antigamente. Eu queria não pensar tanto nas coisas que não dão certo, pois assim eu nunca mais ficaria deprimido. Eu queria tanto não pensar no risco de apanhar uma pneumonia, pois assim eu tomaria banho de chuva numa trovoada. Eu queria não pensar tanto em fazer o que os outros esperam que eu faça, pois assim a esta hora eu estaria a morar num morro pacato para lá da linha recta que é curva, mesmo que fosse numa casa de pau-a-pique, adobe ou coisa que o valha. E sem culpa, o que seria infinitamente melhor.
Como eu queria!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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