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18 de dezembro de 2005

Uma estória verdadeira (20)


"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Uma estória verdadeira (20) Hoje, 19:16
Forum: Conversas de Café
Parámos no Caribe. O nome não lhe fica por ser nome. Estou caté parece noutra face do planeta, penso. Falta ainda muita gente chegar. Um aperitivo. Para não variar bebo a minha birra geladinha enquanto outros foram nas caipiras e caipiroscas. Eu é mesmo naturalmente a cevada estupidamente gelada. E vão chegando os convidados. Me levanto e lhes vou conhecendo na apresentação. Prendas daqui e dali, beijos e apertos de mão. Coisas giras de gente gira. Agora é hora de ir na mesa que é comprida. Eu fico mesmo na beirinha do zulmarinho que devido à hora está escuro que nem breu. Mas lhe aprecio o cheiro salgado que me chega, a maresia do início da noite. Lhe ouço o marulhar ritmado. Adormeço acordado em sonhos de navegações.
Me apresentam a ementa. Tanta coisa que eu mesmo nem sei onde é que devo olhar. Me decidem que devo experimentar a carne grelhada. Feito depois de dito. Mais uma e outra geladinha para animar a conversa. À minha frente se senta mesmo um que é engenheiro. Conversa puxa palavra e não é que o referido conhece minha família? Logo ali arranja número de telefone e já está.
Primo estás bom? Onde estás? Aqui em Luanda. E blá blá. Mais um encontro agendado. Será mesmo que agenda tem tantas folhas assim? Já estou a ver que tenho que prolongar a estadia aqui no teu regaço, ó Luanda. Vai faltar dia num outro lugar qualquer. Ou então está na hora de eu virar ubíquo.
Me trouxeram a comida. Quer dizer, me trouxeram uma travessa de carne crua. Eu olho só. Vou fazer pergunta e depois vão dizer o gajo é burro e coisas parecidas? Não. Fico mesmo só a olhar. Acertei, pois depressa me tiraram as dúvidas. Trouxeram um fogareiro com carvão e sou eu mesmo quem vai ter de cozinhar. Estes restaurantes modernos ainda vão fazer com que eu ainda vá lavar a loiça que sujar. Aí deixo de comer fora. Como mesmo só comida caseira que tem máquina que lava por mim. Mas afinal é divertido. Se põe a carne e se vai falando. O engenheiro não é que conhece um camba meu amigo lá no fim do zulmarinho e até tiveram uns anitos na mesma solidão de má memória? Saco do telemóvel como nos filmes de cóbois e lhes ponho na conversa. Foi bonito, mesmo eu só ouvindo a deste lado de cá. Tem aí um outro convidado que conheceu meu pai nos tempos de estudante do Liceu Salvador Correia noutras eras mais antigas do que eu era nascido. Falou coisas bonitas. Meu ego ficou assim como que cheio de satisfação. Já estava cheio na barriga e agora também no ego. Estou satisfeito. Mais umas loiras geladinhas e fico então pertinho do paraíso. Se gargalha, se conta estórias, se fala de bola. As horas passam mas parece que não estão a incomodar mesmo ninguém. Eu a pé não vou por isso alinho nas conversas, mais na parte de ouvir, mais na parte de rir. No meu relógio só estão a marcar 2 horas. Vais ver que ainda é hoje que eu vou ver o sol nascer na Ilha.
Afinal não. Se começam as despedidas.
Gostei deste sítio. Assim que possa é aqui que vou entrar de corpo e alma nesse mar e depois venho aqui verter uma ou outra bem geladinha.
Afinal tá mesmo na hora de voltar.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

2 comentários:

  1. Huummm conterra conta só a tua verdade, foste tu mesmo que puseste carne a grelhar no fogareiro?!!!!! Tá custar acreditar nessa...não terá sido alguem que estás a aproveitar porque lhe viste querer viver na Mapunda?
    Tamos juntos
    Armanda

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  2. Te juro conterra que foi eu mesmo quem teve que pôr a carne no fogareiro... mas adivinhaste quem me ajudou LOLOLOLOLOL

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