"Fio": Um café na Esplanada
carranca
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Uma estória verdadeira (11) Hoje, 21:58
Forum: Conversas de Café
Se segue para a Ilha. Se estaciona mesmo que na porta, só não se sabe mesmo é de quem. Repartição está só assim cheia de gente que até parece trânsito numa rua qualquer de Luanda. Se espera a vez. Vem de fora e pensa que passa assim na frente. Mas que não, nem pensei nisso. Se fala com o senhor que toma conta da porta. Não, não é com medo que levem ela. É mesmo para ter ordem no subir, tal é a desordem ordenada da fila que mais é multidão. Se fala com o senhor X que recomenda falar com a senhora Y e assim tá feita a coisa. Se preenche os papéis que tem de ser, se regista num livro maior que um mapa da Africa e se recebe um papel para depois mais tarde servir de prova. Tudo feito no tempo necessário para ser feito. Terminado já que é mesmo hora de almoço. Vamos mesmo ter que fazer pausa para isso, que andar neste trânsito abre o apetite. Se regressa ao ponto de partida. Calor que aperta dá sede que tem mesmo que verter uma loira antes de chegar à mesa. Cozinha boa que até dá vontade que nem repetir mais que uma vez. Vergonha impede, mas vá lá que não é cerimónia e se repete uma vez só mais. Faz-se a sesta. Também quem comeu assim não podia fazer de outra maneira. À tarde há mais coisas para fazer mas também se pode adiar para outro dia. É opção de quem está de férias. Mas não. Vamos ter mesmo que voltar à circulação vertiginosa de quem não tem pressa para chegar a lado nenhum. Mas o que tem de ser tem mesmo muita força. Novamente se reentra na António Barroso de antigamente que se teima em manter, se passa no largo da Maianga. Se dá uma curva para a direita e se vê a mulemba que lembra a infância de alguém. Se procura a casa de outrem. Deve ser esta ou aquela. Ou a outra ainda. Tantas indicações decoradas que afinal não serviram de nada, pois a cabeça esta cheia de coisas novas e não dá para lembrar pormenores de conversas tidas faz tempo. Se segue para novo rumo. Se anuncia a chegada. Espera é feita num ampla sala vazia. Se aguarda em pé. Mas aqui o tempo passa a correr e tudo se resolve. Mais uma coisa feita. Tou mesmo com sorte. Posso voltar ao sofá do meu contentamento. Se agarra um computador. Ver se há correspondência e coisas e tais. Tudo perfeito. Calor continua a dizer que está mesmo ali só para me abraçar. Ar convencionado na forma de ar fresco dá uma frescura na sala que nem dá vontade de migrar dali. Se lê toda a imprensa da semana que passou e que foi religiosamente guardada para mim. Posição e oposição ali em papel que deixam os dedos pretos da tinta. Mas se fica a saber o que se tem para saber, as várias formas do mesmo ver. Com este calor que deve estar a fazer lá fora atiro uma pergunta no ar de que vamos mesmo dar uma volta a pé aqui nas redondezas? Vamos, me respondem como a querer dizer que aqui se está tão bem. Mas eu cá que sou esperto, faço de conta que não entendi e lanço o vamos da ordem. E lá entramos agora nas tuas artérias, só que desta vez feitos peão. Se anda mais que aquele carrão que vai ali mais parado que um stop. Se entra em ruas e ruelas. Se cumprimenta e se é cumprimentado. Gente que nem te olha pois estão a olhar para dentro deles antes de cair nalgum raro buraco dos passeios novos. Se entra num outro bairro que nome já não tenho na memória, pois se entrou assim como quem vai em destino sem termo. Quando voltámos nos disseram, então vocês entraram mesmo lá, lhe viram as ruas mais estreitas que a finura de uma pessoa elegante? Que lhe respondemos que sim. Íamos dizer mesmo mais o quê?Assim foi mesmo o meu primeiro dia de trabalho vagabundo dentro de ti, ó Luanda.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
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