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21 de dezembro de 2005

Uma estória verdadeira(22)


"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Uma estória verdadeira (22) Hoje, 18:16
Forum: Conversas de Café
Amanheceu novo dia para mim quando já passam das 10 de manhã. Hoje é mesmo dia de férias. Descompromissos é o que tenho para hoje. Relatórios a fazer e outros para corrigir. Rever dados. Pensar coisas. Tem de haver um dia para estas coisas pois os planos não nascem de geração espontânea e não podem ser gerados na pressão do tempo. Hoje é dia de sentar no computador, ler, escrever, rever, apagar e rescrever.
Mas a vontade é quase que nem uma. Mas se tem de ser que seja. Sacrifícios têm de ser feitos para que os degraus da escadaria sejam transformados em escada.
Aproveitando o ar concessionado agarro na lista telefónica nacional e começo por ver nomes que eu sei existem porém lhes desconheço a morada. Surpresas são várias. Se disca automaticamente para todo o lado. Já não precisa dizer para a senhora do outro lado da linha faxavor me ligue para a casa do X. Vais ver tem aqui mão mesmo da SISTEC. Não pode ser, este funciona mesmo que nem bem oleado. Pronto, confesso que é uma piada de mau gosto. Mas nem todos os dias o humor acorda comigo (irritei-te né? Foi como que mesmo de propósito, sra directora). Outra surpresa, minha tia-avó ainda está lá no sul. Vais ver na mesma casa, vais ver tá igual que nem antes, vais ver ainda faz a mesma coisa que nem antes. Lhe copio o número e me prometo fazer-lhe uma surpresa, quando tomar o rumo da Antárctida, assim com certo exagero, pois nem chego nem a metade do caminho.
Mas afinal eu vou ter de ficar aqui fechado? Não é que esteja mal, mas o peso da consciência de estar sem ver algo novo começa a fazer peso demasiado no pescoço pelo que opto por sair. Então turista vai ficar mesmo só assim fechado, agarrado no teclado e tocar piano nas letras? Nem é saudável só de pensar. Chá de Caxinde é o destino. É um dos sítios onde se pode conhecer de perto as novidades literárias de Angola. Ele fica mesmo no Cinema Nacional, que se vê ainda foi construído no tempo das obras todas iguais que marcaram uma época de má memória, mas isso não vem para aqui nem gritado nem chamado. Se mexe em muitos livros mas se compra apenas um livro, O Planalto dos Pássaros de Jorge Arrimar. Vejo e sinto no ar o perfume da cultura. Livro daqui, peça dali e se passa algum tempo que é tempo ganho. A visita foi mais curta que a esperada. A paciência hoje não era muita. O almarear de ontem está a fazer das suas. Volto para o sofá, se liga o portátil e me ponho a olhar para o monitor. Vais ver vai aparecer alguma ideia. Vai sair verborreia escrita que tudo vai terminar num instante. Mas se olha para o monitor e o vazio ideal está fixo. Paraliticamente tenho o cérebro congestionado. Hoje é mesmo mau dia para ideias, para coisas sérias. Se volta na Esplanada habitual mas se varia no pedido. Uma água das pedras e uma fanta nacional de laranja. Tem de ser nacional porque é bem melhor ca importada. Despreguntem porque ficarão sem resposta se o fizerem. É melhor e pronto.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

2 comentários:

  1. Caro Carranca,

    Tenho andado afastado da Sanzala, mas venho por aqui muitas vezes ler seus escritos que aprecio.

    Tenha um Natal cheio de Paz e saúde!

    Grande abraço
    Nelsinho

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  2. Obrigado Nelsinho pelas palavras amigas e estimulantes.
    Um bom Natal e um ano de 2006 cheio de felicidade para ti e para os que te são queridos

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