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15 de dezembro de 2005

Uma estória verdadeira(18)



"Fio": Um café na Esplanada

carranca
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Uma estória verdadeira (18) Hoje, 21:27
Forum: Conversas de Café
Vou mesmo voltar para a António Barroso, me sentar no sofá e pensar.
No meio de um nada, não lhe vi donde chegou, boleia amiga arranjada na última hora, me leva mesmo a ir ver o Posto de Saúde de Viana. Prontos, mais uma catrefada de carros envolvendo-me, como a querer dizer que não posso ir em velocidade cruzeiro. Vai-se num pára arranca intercalado. Dá para ver tanta coisa, corpos numa azáfama bulindo nas mais que muitas maneiras de fazer pela vida. Roboteiros transportam cargas mais diferentes em equilíbrios desanimantes da força da gravidade. Vende-se tudo à beira da estrada. Mais visto é mesmo a camisola do Mantorras. A t-shirt dos 30 anos junto a boné comemorativo, se vê também ferramentas das mais variadas formas e feitios, candeeiros de mesa ou sala, tapetes e carpetes. Não vi foi nenhum avião à venda. Mas também não lhe procurei.
Chego ao Posto de Saúde quando já são 16 horas, fora de horas pensava eu. Mais um problema que vejo e lhe reconheço, multidão sentada em qualquer sítio passível de ser sentado, Duas pessoas tentam resolver os problemas que ali tem de sobra, até para exportação. Sei que desconseguem mas também lhes vejo que não são de desistir. Hoje estes dois são os meus heróis, aqueles que não vão receber medalha nem diploma de louvou, mas recebem os possíveis sorrisos de agradecimento, recebem os obrigados sentidos no fundo na alma, recebem a paz na consciência que lhes afoga a mágoa de não poderem fazer mais. Mas fazem mesmo muito. São os meus heróis anónimos. Lhes perguntei coisas, me responderam sem nunca parar de fazer coisas. Corria atrás deles como num labirinto de gente. Têm olho para ver mesmo de longe quem é que está mesmo à frente, que não quer dizer que tenha chegado primeiro, precisam ser atendidos primeiro. As suas vozes não se alteram. Os seus nervos são de aço. Muito tenho que aprender que nem eles. Me fazia bem uns tempos com esses dois meus heróis.
Hoje foi mesmo dia de ver e ficar a saber de problemas que são de resolver a curto prazo que não tem tempo definido.
Conversei com A e B. Soube disto e daquilo. Não foi visita guiada, foi mesmo visita inesperada, visita de ver e tomar consciência com o mundo que a cidade real também tem. Nota bem que eu te falo que TAMBÉM tem. Não vais agora dizer que estou só a falar mal de ti e coisas de ciúmes. Te estou a dizer que fiquei a saber um pouco mais de ti.Te digo mais, eu perdi em não te conhecer em todos os teus degraus, em todos os teus altos e baixos, nestes anos que passaram. Não te sei dizer se hoje estás melhor que ontem ou que antes de anteontem. Me convenço que deveria ser feita uma peregrinação periódica comparativa, de modo que a minha consciência das coisas se vá aprimorando e não me deixe enrolar no que disseram o que lhes disse o que lhes contaram. Versão acrescentada e aumentada duma imagem desilustrada da realidade. Só sei mesmo como estás hoje e só isso hoje me interessa.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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