De maneira inconsciente e de alguma forma imprecisa, comecei a sentir a tua presença em todos os meus lados. Onde quer que fosse eu senti-te ali a censurar-me ou pelo menos a inibir-me. O inferno se me ardia na consciência e qualquer sítio me fazia recordar de ti e como o mundo é pequeno, todos os lugares que eu inventava julgando poder fugir-te da minha imaginação eu te sentia, pelo que estávamos juntos mesmo quando eu não te queria por perto. Um inferno que, num ritual de sofrimento diário, se foi esfumando, transformando-se num ritual de geografia em que, em vez de ti, eu ia encontrando semelhanças com os meus lugares de criança. Se eu antes queria saber o que lias, passei a querer saber como era a vida lá. Se eu queria sentir o teu perfume, passei a sonhar com o perfume da terra molhada. Tudo mudança lenta, como que um carro de bois carregado de toros de madeira numa íngreme subida me passasse por cima, rangia em cada salto do meu pensamento, baralhava-me o sangue com a carne numa mistura de dor e paixão. Só te digo que a minha cabeça era como um tornado permanente, turbina duma qualquer barragem hidroeléctrica.
Se eu antes pensava estar contigo, a dada altura eu só queria estar nela. Em cada instante eu imaginava a minha despedida desta consciência sobressaltada para a serenidade do estar nela. Em cada instante eu sonhava um aeroporto, dezenas de amigos de lenço no ar a me desejar um regresso às origens como eu tanto imaginava.
E a vida ia correndo à velocidade certa de 24 horas por dia.
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