Sento-me por aqui, num ouvir o marulhar. As ondas batendo nas rochas, noite escura que não deixa vê-lo com olhos de ver, apenas ouvir com ouvidos de atenção.
Apetecia, sob este marulhar ritmado, escrever uma carta em tinta permanente, para ser permanente mesmo, dirigida a ninguém e a falar de nenhures. Uma carta só, que levasse lá dentro o perfume da saudade, o vazio da nostalgia e a lágrima do abraço que não foi dado.
Apetecia, mas não vou escrever, porque ia dar num circulo vicioso, tal como os anos que começam sempre a 1 de Janeiro. Teria que escrever e repetir as mesmas queixas, falar dos mesmos tabus, das mesmas pessoas e dos mesmos espaços ainda não arejados.
Por isso, fico-me aqui sentado, bebendo nos olhares vazios o perfume das memórias alegres da vida.
Por isso, recordando a pitangueira que parece me morreu de pé, vou estando aqui.Sanzalando
Sem comentários:
Enviar um comentário