Tudo podia mudar e eu até podia dizer que estava isto e aquilo, porém eu até sinto-me vivo, mesmo sem a minha pequena Pitangueira que me ofereceu por uns dias as suas seis flores. Podia chorar todas as lágrimas em forma de palavras que mesmo assim ficariam lágrimas por dizer. Não pelas seis flores, não pela beleza nem pelo verde laranja da minha pequena Pitangueira, mas pelas recordações que só tenho de memória, e que a minha pequena Pitangueira era o palpável dos tempos de antanho.
Se calhar estou apenas a distorcer a realidade, borrar qualquer pintura imaginativa, trapezar num perigo qualquer sem rede, pelo gosto de ter recordações que não posso tocar, apenas e simplesmente recordar.
Se eu pudesse mudar, olhar e ver a minha pequena Pitangueira com as suas seis flores, se calhar eu teria que inventar outra forma de e para sofrer a falta de recordações palpáveis.
Quando em meados dos anos 80 atravessava o 6 de Maio, ao cair do dia, para ir dar formação a um grupo de adultos, sempre cruzava com o Tio Serafim. Sentado no degrau da entrada do kubico, cantarolando, enrolando cigarro e divagando. Sempre que podia ia mais cedo e sentava com ele escutando estórias do seu lá longe. Dizia que chupar mucua aliviava a tristeza e a saudade. Toda a família já voltou para a terra. De quando em quando recebo cartas ditadas por ele e pela Tia Alice. Lá dentro sempre encontro notícias boas e pedacinhos do fruto de imbondeiro (é fruto?) que guardo para os dias piores. Parece resulta de verdade.
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