recomeça o futuro sem esquecer o passado

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31 de julho de 2009

Qualquer dia, um dia

Condenado ao esquecimento não conseguirei mudar o tempo para te olhar, sentir e recordar.

Qualquer dia, um dia, riremos feitos idiotas destes tempos de lágrimas e saudades, ausências e nostalgias. Um dia saltaremos palavras feitas de coração e sorriremos dos choros chorados.

Qualquer dia, um dia, nossos lábios não se calarão de defunto silêncio das amargas horas sofridas num quarto de vida.

Qualquer dia, um dia, olharemos nos olhos e vemos o que existe para além de nós e esperemos que não nos seja tarde.


Sanzalando

30 de julho de 2009

dá-me tempo


Me sento por aqui, num qualquer canto onde possa olhar o zulmarinho, onde lhe possa beber a calma que lhe vejo num preguiçar incapaz até de fazer uma ondinha. Me distraio nos reflexos como se tentasse adivinhar qual o que me vai fazer de flach, perdidamente me embalo nos sonhos de estar aqui e num quase te peço para me mentires, para que me escondas a verdade de não queres saber de mim faz tempo. Mais uns dias e deixa-me sonhar-te como se fosse um idiota, usar as tuas mentais recordações para me fortalecer a alma. Dá-me mais uns dias para eu fingir que vou procurar o teu corpo quente numa qualquer manhã de cacimbo, massajar a minha debilidade desta eterna paixão. Dá-me umas quantas horas mais como se eu fosse um condenado para poder imaginar-me calcorrear-te como num caminho de loucura.

Deixa-me olhar-te, trocar o meu sorriso num beijo teu. Deixa-me, dá-me tempo. Imploro-te um olhar, um sinal. Troco tudo por um beijo teu.

Não passo dum idiota que salta mal tu mexes um braço, mal tu esboças um sorriso, mal tu, distraidamente, atiras o olhar para este lado. Mas dá-me um tempo para eu fechar a caixa das recordações.


Sanzalando

29 de julho de 2009

Se fosse assim, era

Já é noite cerrada e eu aqui sem dormir. Há um odor dentro da minha cabeça que nem eu mesmo consigo desvendar a origem. Não sei se os remorsos fedem assim, nem se o ódio pode cheirar tão forte. Não sei se a nostalgia apodrecida pode ter este cheiro, mas penso que não. Levanto-me da cama e com os pés descalços calcorreio os ladrilhos gelados da madrugada. Segue-se-me o cheiro. Atiro os olhos num deus dará, como quem se quer distrair. Imagino um vestido curto duma qualquer jogadora de ténis dos anos setenta do passado século, sinto a textura dum biquíni azul do tempo em que os biquínis tinham tecido e não eram meras fitas. O odor segue-me.

Atiro a toalha ao chão. Pensei apenas é claro, que não sou pugilista para ter essas atitudes. Também não vai ser a esta hora que eu vou desistir. Sou forte e lembro-me dos teus lábios, da tua boca, dos teus olhos e reacendo a chama em mim. Mas como que por descuido recordo-me da tua voz autoritária, teu nariz empinado, tuas mãos em riste e lá se vai a minha bravura e se me chega o odor que até parece mais forte.

Volto a deitar-me num abraço à minha almofada desejando que o amanhã, hora de acordar, se adie num eternamente mais tarde possível como se fosse um remédio santo milagreiro.

Largo tudo. Vou zerar a minha vida numa inspiração divina. Comédia, pensarás tu. Sério sério acho que já faltou mais. Não dormir deixa-me assim. Sentir este odor desconhecido me piora. É noite o que se agrava. E ainda acho que deve estar sueste.

Lentamente as horas passam e os paralíticos ponteiros do relógio se colaram num estático ponto. Só para me irritar.

Hora de largar a almofada. Sentado na cama recapitulo. O odor só podia ter vindo da despaixão. Levanto-me vergado no cansaço e esqueço a máscara da simpatia. Acho mesmo que hoje vou só andar com a minha cara mesmo, vou deitar-me numa praia e sonhar que eu vivia nos anos 50 do passado século, um pouco antes de ter nascido.


Sanzalando

28 de julho de 2009

Simetria do desencanto

Calcorreio caminhos num desatinado destino como quem muda de estado de ânimo num ápice. Breves segundos em que desperto no doce dia duma vida ou no pesadelo dum sonho que não sonhei mas vivo. A rapidez em que um olhar sorridente se transforma num descolorido rosto sem expressão.

É assim um dia. Dúvidas. Confusões. Alegrias. Tristezas. Vai ser sempre assim um dia. Hoje ou outro qualquer. Se eu soubesse como ia ser o meu dia… Hoje acordei de forma inesperada alegre. Ao longo do dia fui mudando. Neste momento em que ouço o mar e que te segredo os meus pensamentos, nem eu sei como estou mas sinto-me os olhos tristes, reparo na falta de expressão do rosto e não encontro a boca em forma de sorriso.

É assim um dia. Este ou outro qualquer. Simetria do desencanto.


Sanzalando

27 de julho de 2009

Na areia da praia

Grão a grão se me forma um sapato de areia nos pés. É sapato ou é meia? Não sei mas que está no pé isso eu sei que está e é aí que eu fico arrepiado só de pensar que daqui a pouco eu me vou cocegar para lhos limpar. Mas cada passo mais grão se me cola num quase esvaziar a praia de areia. Se eu não parar um dia aqui só vai ficar o mar e depois eu não posso nem ouvir as mukandas nem o cantar das kiandas. Me disseram que o cantar não voa no vazio.
Assim, eu me sento nas pedras a olhar a areia que já não me cola nos pés e que um dia me vai dar o colorido de poder dar saltos na areia mole como quando era uma criança.

Sanzalando

26 de julho de 2009

48 - Estórias no Sofá - Zacarias morreu

Meus pés avançam no carreiro levantando uma nuvem de pó que faz séculos é levantada quando aqui passa gente. A gente passa, o pó levanta e paira uns segundos no ar e depois volta a se deitar. Sucessivamente assim quando passa gente aqui no carreiro. Quantas pessoas já passaram aqui? Este carreiro, me disseram, existe desde que a terra se arredondou.

Que vale mesmo é que eu nunca trago sapatos engraxados ou de verniz. Eles iam ficar bonitos, iam, iam, mas estes sapatos de tacão alto, assim da altura das circunstâncias, até que dão jeito, não fosse o buraco das meias solas já gastas faz mais que tempo. Bem, com isto já me esquecia que estava a dizer que caminho no carreiro que levanta pó quando alguém passa e, de cabeça baixa para esconder as lágrimas que os meus olhos deixam cair, já que vou a caminho dum enterro.

É pesado a gente ir assistir ao enterramento de um outro. No nosso a gente é obrigado a ir, mas no outro a gente vai e… Grande responsabilidade nos nossos ombros ser testemunha duma coisa dessas. Saltam à memória todo um conjunto de recordações, gargalhadas dadas nos momentos mais diversos e que apenas vão ficar na minha memória porque a dele já só é memória da memória que tinha. Ele já não vai levantar mais poeira quando passar neste carreiro nem vai mais me dizer que carrega nos ombros a responsabilidade de fazer parte do meu passado.

Mas porque é que eu estou a lacrimejar parece sou feito de manteiga? Ele não era assim nem gostava que eu fosse assim. Me levava a ver as coisas com o brilho que todas as coisas bonitas têm, mesmo as que ele embelezava para dar colorido na sua e na nossa vida. Ele morreu mas não me morreu a memória que eu vou continuar a ter dele. Prometo!

Era mais velho e estava cansado mas não é justo que se apague assim num sem avisar que de manhã não acordou mais do sono que dormiu durante a noite. A gente ainda tinha mais coisas para conversar, eu tinha mais caminhos para aprender. Mais velho não devia falecer. Devia mesmo só estar sentado num canto a nos esperar para ensinar quando a gente precisa.

Mas eu caminho no carreiro levantando o pó e escondendo as lágrimas que eu não queria chorar enquanto vou na casa do kota Zacarias lhe dizer o último adeus que ele não vai ver. O último que ele viu foi na semana passada quando nos sentamos debaixo da mangueira e ele me contou que as piores pulgas são as que picam e a gente não lhes consegue catar. Mas hoje é um adeus que ele não vai ver. Acho mesmo é só um adeus da minha parte para ele e não tem volta no regresso.

Me custa a acreditar que é o corpo fraco do mais velho Zacarias que está ali vestido de fato de é Domingo, deitado na cama a dormir um sono tão pesado que não vai dar nem para me dizer olá filho como ele sempre dizia quando eu chegava. Eu lhe faço uma vénia quando me apetecia era mesmo lhe abanar até ele acordar. Lhe pergunto de pensamento como é que ele está e a resposta se chegou da mesma forma não foi captada. Ele imovilmente está de olhos fechados a pensar. É que só pode. Quem é que mais me vai fazer recordar as estórias que eu não vivi quando ainda não era nascido? Me vão deixar aqui nesse mundo com os mais novos? É muita responsabilidade para um mais velho que ainda é novo que nem eu.

Kota Zacarias vai virar pó que nem o pó do carreiro que me trouxe até aqui na casa dele? Não pode nem só para pensar quanto mais para ser verdade. Acorda só mais um bocado e me ensina a arte de sobreviver no tempo em que não há tempo para ouvir, me ensina que o meu presente é somatório dos meus passados corrigido com a previsão de futuro. Conta só para mim todas as estórias que sabes de memória que nunca existiram e que eu fico horas a te ouvir parecem eles são de verdade.


Sanzalando

25 de julho de 2009

memória

Num vai e vem como quem não tem mais nada para fazer do que queimar o tempo debaixo do sol que lhe torra o fervilhar de ideias, me dou comigo a dizer-me que a vida é uma continuidade e que não há um destino final. Há mesmo é só mais um ir como se fosse uma peregrinação, uma viagem sobre um si mesmo. A vida é um porto incerto num ponto certo do momento.
Neste ir e vir desocupado eu conclui que o melhor é estar sempre a dançar nesta peregrinação interminável que um dia acaba sem me preocupar com o destino, porque eu sei que nunca lhe chegarei, uma vez que ele é mutável na respostas de tantas perguntas já perguntadas.
Na verdade é que se eu chegar ao destino final eu acabei e perdi tudo o que ficou para trás.
Eu ainda quero ter memória.

Sanzalando

24 de julho de 2009

Era assim não é?

Nesta hora do fim da tarde se alguém me está a espreitar deve pensar eu enloquei de vez. O zulmarinho está ali, calado, pachorrento parece é uma lagoa dum ribeiro qualquer, e eu aqui a cantarolar uma velha canção do estilo Giro flé flé flá. Logo eu que naqueles tempos não só odiava essa música como também ainda hoje lhe acho de atraso mortal. Mas eu acho tenho uma qualquer explicação assim escondida num debrum dum sótão que qualquer dia eu lhe vou descobrir. Tentemos: regressar ao estado volátil da infância, ao tempo das coisas fáceis para mim mesmo que ao meu lado estivesse o esforço do Hércules. Hum… não me é habitual viver essas vivências, já que sempre eu vi cor de rosa tipo coração quando contava ver as princesas dos meus sonhos. Por aqui não vou lá.

Ora bem, será que agora é tudo tão igual que para ser diferente eu tenho que regredir em mim?

Não sei. Acho melhor arranjar algo mais útil para fazer num fim de tarde tão bonito que nem este do que estar para aqui a ressuscitar ideias e pescar sortes onde as sortes não abundam.

Sei lá. A gente pensa e depois fica no enrolanço das ideias e quer explicar o que não tem explicação.

Vá lá que não me deu para pensar numa equação elevada à segunda potência. É assim que se diz, não era?



Sanzalando

23 de julho de 2009

Até quando terei palavras de amor?

Vou caminhando ao longo do zulmarinho como a querer desafiar a me tocar, lhe olho de soslaio ao mesmo tempo que com os passos do pensamento eu corro por férteis campos da imaginação e consigo num fácil tempo reunir tantas palavras que significam amar-te, umas com sabor a terra, outras com o perfume da terra molhada, outras ainda quentes como o vento leste. Com estas palavras eu faço laços de fogo como se fossem uma corda que se me amarram-te num não largar nunca mais, espécie de solda. É por isso que me dizem que amor é fogo. Só pode quando o que a gente sente é fogueira ardida no silêncio da melhores palavras não ditas senão com o olhar.

Te exemplifico com os sons puro de amor nas frases que te gostaria de te dizer, assim do tipo, que calores me fases, sinto sede da tua água, esta noite sentir-te-ei no meu corpo nú. Assim coisas deste género, estás a ver?

Um onda mais atrevida me tentou molhar mas o meu soslaio estava atento e deu tempo para dar um salto sem esquecer que te falava de amor.

Até quando?


Sanzalando

22 de julho de 2009

tantas, às tantas

Sentado de olhos no zulmarinho, abrigado da brisa que sopra forte como que a me dizer que o Verão não é quando um homem quer, enrolado no meu próprio corpo como que a esconder-me da minha tristeza, braços cruzados como a tentar sufocar tanta nostalgia e com vontade de gritar que estou farto que o meu coração esteja constantemente a pensar em ti e a minha cabeça pulse vontade de viver outra vida que não a minha.

Tantas horas que não me sais da cabeça que às vezes até parece que tu és a minha cabeça a bater num desritmado ritmo afagado nos ais e uis duma relação que te senta agarrar a uma bóia furada dum qualquer naufrágio.

Tantas horas de coração a sonhar-te com paixão.

Porquê?

Os olhos fixados na tua imagem que sei de cor invento novelas sem cor que não a transparência das lágrimas.

Um dia vai ser necessário dizer basta. Ou tu ou eu o vai dizer. Ou não!

Seja como for, um dia vou curar-me de ti. Nem que seja vou um dia. Não vou pensar-te. Nem fumar-te no ar que respiro. Nem beber-te na imaginação. Sofrerei do síndrome de abstinência? Desconsigo por adivinhação.



Sanzalando

21 de julho de 2009

Se eu pudesse

Se eu pudesse levitar, deixava-me ir para além do meu olhar. Não sei que horas são, apenas sei que estou aqui dedilhando um desafinado piano imaginário e com umas ganas de deixar-me levar num por aí fora.

Sei que não te consigo explicar, é preciso viver-se na pele, sentir todos os sentidos como se um monitor cardíaco nos registasse o ritmo.

Se eu pudesse levitar, dava gritos de liberdade, até que a minha cabeça, atormentada, desse com um lugar que fosse o dela.

Se eu pudesse levitar, estou certo, perdia o medo e atirava-me por ti.


Sanzalando

19 de julho de 2009

aos Domingos ou não

Para aqui estou sentado de frente ao mar. Se ele tivesse olhos eu te dizia que estava de olhos nos olhos do mar. Mas os meus olhos estão mar. Mas o meu pensamento está para além dele.

Ao pé de mim passa um casal em alegres gargalhadas. Devem-se ter injectado com uma boa dose de alegria e loucura matinal, contrastando com a minha inspiração overdósica de sal da vida.

Mas mesmo assim o mundo gira e nada cai ao chão.

Lá está ele de cara pesada. Deve estar a esconder qualquer dor. Nada disso. Afinal de contas apenas descobri que o mundo perfeito não existe, que os Homens são egoístas e se já tivessem tudo exigiriam ainda mais.

Afinal de contas hoje é Domingo e aos Domingos eu fico assim, tal e qual nos outros dias.


Sanzalando

18 de julho de 2009

podes crer

Podes crer que mesmo na noite mais escura de todas as noites de trevas imagináveis, a luz do meu olhar é brilhante quando se cruza com a tua imagem imaginada na minha cabeça, o meu sorriso é um riso de felicidade com os lábios a quererem-te beijar nas palavras que sussurro.

Podes crer que rejuvenesço só de pensar que um dia te poderei amar.

Podes crer que enquanto não te tiver, estarei na encruzilhada do sem sentido, formas triste e aparência desaparecida, olhos postos no chão como que a negar ver para além da coisas feias da vida.

Podes crer.



Sanzalando
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17 de julho de 2009

se

Consegues ouvir o marulhar? Sentes a maresia a te entrar no cérebro e remexer as recordações?

Eu aqui, com umas ganas de te falar, se esta é a minha maneira de conversar contigo, e tu aí, muda, sem me olhares com olhos de quem não me quer ver num disfarçado adiar de um até qualquer dia. Mas é este o meu mundo real em que ouço o marulhar e sinto a maresia que me chegam vindo desde ti. A minha realidade feita de sonhos em que fecho os olhos para te ver melhor e em que me encerro na minha quietude para te sentir como se fosse sempre a primeira vez de nós os dois. Olhando o zulmarinho percebo a cor dos teus brilhantes olhos de morena, a brancura do teu sorriso africano, o perfume do teu corpo rolado no tempo.

Se consegues ouvir o marulhar e sentir a maresia é porque tu sabes que eu te olho desde aqui com o olhar de estar aí.


Sanzalando

15 de julho de 2009

enigmas.

Não me canso de olhar-te.
Enigma.
A minha atracção parece que não se desgasta.
Outro enigma.
Na escuridão parece que te vejo mais radiantemente luminosa.
Mais outro enigma.
Hoje mais uma vez te quero tanto como sempre te quis.
Enigmaticamente enigmo-me no teu desejo!

Sanzalando

14 de julho de 2009

estico-me

Me estendo na areia num esticar de corpo, membros e cabeça, como quisesse crescer nessa horizontal posição para todos os lados. Olho o céu que está uniformemente azul sonorizado de marulhar surdo, calmo, e desperto em mim sentimentos quem nem mil palavras conseguem descrever.

Salivo numa selvagem montra de pensamentos que se não me conhecesse eu ia dizer que a loucura tinha batido à porta duma maneira proibida e impuramente possível. Me desfaço em ideias duma irracional forma de expressar, desconstruo frases num linguajar desconhecido.

Mais me estico tentando domesticar a minha existência no plausível momento de ser eu, uma vez na vida.


Sanzalando

13 de julho de 2009

Eu e Mia Couto




Sanzalando
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me fico e me vou

Me sento de cerveja na mão, ouvidos colados no marulhar como a querer escutar alguma mukanda que vem desde o outro lado da linha recta que lhe chamaram de horizonte.

Assim num quem me vê de longe ainda está a pensar que eu fui derrotado em batalhas inúteis e que as minhas armas se gastaram num inutilmente tempo perdido. Mas não, o meu coração ainda não foi enterrado mesmo que ele de vez em quando grite de dor.

Assim num quem me vê e pensa eu sou uma flor em Outono, murcha, devendo dias à morte, viuvado na solidão do silêncio não se deixe iludir pois a minha voz, sussurrada, ainda se faz ouvir.

Bebo um golo e de olhos perdidos no além mar crio enredos, troco sentidos num caminhar azul, diálogos calados numa qualquer canção de amor.

Me fico no mar como se o mar fosse as tuas carícias que me acariciam num sorriso teu.


Sanzalando

11 de julho de 2009

Invariavemente

Me sento na areia e me deixo levar num navegar de sonhos e fantasias. Tudo acaba em ti que até parece é doença pegajosa que não tem cura. Mas aqui na areia, num sem dar de conta, começo a pensar no que poderia estar a fazer contigo agora, como estará o teu respirar neste exacto momento.

Me sento na areia e sob o murmúrio do marulhar das ondas que não existem me deixo levar no prazer de sofrer por ti. A cores ou a preto e branco, em filme ou em foto parada eu te sinto num ver de imaginação. Passo pelas minhas inocências, paixões, deslumbramentos. Páro em ti. Invariavelmente. Me encanta. Acho que o que me encanta mesmo é o parar em ti. Acho que faço tudo mesmo só para parar em ti.

Aqui na areia me petecia trocar de nuvens contigo!


Sanzalando

10 de julho de 2009

47 - Estórias no Sofá - É a vida

Começou o frio. De manhã tem cacimbo e de tarde está que nem apetece continuar com o que não se fez de manhã. Mas por causa disso eu te vou contar assim numa de boca na orelha que é segredo e ai de ti se contas em alguém. Te mato de cortar o pescoço e mais não te digo nem bom dia na vida.

Foi no Sábado eu decidi ir na farra. Tu sabes que faz mais de três anos que eu não ouço dizer e não digo as palavras te quero. Mas no Sábado me apeteceu mais que não sei explicar. Encontrei um garino que faz tempo anda aqui parece está a fazer ronda que nem polícia. Me deixei levar assim como que nem uma pena é levada pela brisa deste tempo de cacimbo. Imagina só, esta tua amiga, Josefa Sofia, se deixar levar numa atracção física. Mas na verdade é que ele me surpreendeu. Um senhor cavalheiro que eu até me senti uma princesa. Mas são esses gajos assim, maravilhosos, que nos recordam que somos mulheres e nos fazem esquecer as decepções e desconfianças de relações raladas de outros tempos. Ele fez com que eu mostrasse o meu coração grande que parecia fazia muito tempo estava aqui preso no peito. Me senti valiosa e importante. Senti que ele me queria num querer de quer mesmo.

Sorrimos, rimos e até gragalhámos. Acho a minha cara se desenrugou para uns anos atrás. Estás a ver aqui a Josefa Sofia, corpo roliço e cara de adolescente que tem o primeiro amor? Foi mesmo assim que eu me senti. Até que consegui esconder uma certa tristeza quando me lembrei que fazia meses que ele fazia a ronda e eu armada em esperta lhe desligava. Me arrependo sim, mas não lhe disse e acho não lhe mostrei. Lhe mantive à distancia do meu corpo esse tempo que agora acho foi perdido mas na altura eu não tinha essa ideia e por isso não lhe disse nem lhe mostrei, assim como não lhe disse que tinha aceitado o convite apenas por gratidão e porque o cacimbo me deixa triste fechada em casa.

Farrámos num farrar sem parar. Lhe senti o respirar dele no meu pescoço quando a música era assim de dançar bem agarrados. Me custou reabituar mas depois fui na embalagem e não queria mais a música acabava. Tanto tempo perdido, de vez em quando me vinha à cabeça. De verdade me apetecia sair dali com ele e ir assim num encontro com o destino de roupas tiradas. Acho senti que ia começar uma nova temporada na minha vida. Uma boa temporada. O tempo da estupidez estava definitivamente enterrado e a Josefa Sofia fechada em casa tinha acabado. Esse garino mais novo fez uma revolução na minha cabeça que nem eu sei como entrei nela e nem sei como vou sair se me apetecer. Eu sei que tem partes de mim vão parecer estar enferrujadas mas acho que é como dizem do andar de bicicleta.

Não sei como aconteceu, mas a verdade é que até parece foi magia ou cegueira duma paixão, me encontrei enrolada e sem roupa no corpo dele ali para trás dum muro que eu nem sabia ele estava ali construído.

Te posso dizer porque sei és meu amigo, foi até fastidiar. Não sei onde é que ele foi arranjar tanta energia. Vais ver se andou a guardar todo este tempo assim para mim. Olha se estava frio eu nem senti. Acho só senti gostar. Eu sei que fazia muito tempo mas eu lhe gritei ao ouvido que lhe queria. Vezes sem conta. Aquilo é que foi ganas.

Tás a ver como é que é a vida? Enlutei quando o outro malvado disse ia lá a e já vinha que até hoje ainda podia estar sentada à espera. Tempo perdido esse que eu deixei escapar com esse aqui a fazer a ronda que eu nem lhe olhava para não lhe ver a cara e afinal acabamos atrás do muro num enrolar parecia só um.

Quando me fui para casa eu acho só fui a sonhar e ele me acompanhava que parecia um cavalheiro sim senhor. Me beijou na boca perto da porta e se retirou um silêncio interrompido com um olhar que parecia dizer adeus meu amor que te quero.

Esqueci todas as normas e só sei que esse garino me fez nascer outra vez com ganas de viver. Olha, não te sei dizer ele é bonito ou é feio. Antes eu te ia dizer que ele é horrível, hoje acho ele o mais lindo do mundo. Não sei. É a vida!



Sanzalando

9 de julho de 2009

Interessa é a ideia de ter a ideia que não perdi a ideia que um dia idealizei.

Aqui estou eu sentado fazendo tricot de pensamentos num crochet de ideias. Quem tem tempo de ouvir o zulmarinho a lhe contar os seus segredos assim numa surdina que quase meio mundo já ouviu, tem tempo para desconstruir palavras das ideias ou antes pelo contrário.
Me disseram que o sol ainda pode nascer. Eu acredito porque quero acreditar e também porque quem me disse é capaz de rasgar as nuvens para o sol me brilhar. Mas enquanto esse sol não me brilha eu continuo aqui sentado a ouvir os recados todos que o zulmarinho me quer dar ou eu lhe forço a dar. Tanto faz a ordem desde que a desordem das parcelas dê um total igual tal e qual. Mas aprendi a não fazer festa antes de qualquer tempo, não vá o galináceo da minha amiga saltar de cima da televisão e desatar a cantar de galo que até parece é o Benfica ganhou alguma coisa.
De verdade verdadeira é que eu já não sei quando começou tudo, como tudo começou e nem quem é que começou. Só sei mesmo é que a minha cabeça estoira de loucura louca no tempo transcorrido em que lhe apoio com ambas mãos. Meus dedos dormentes sentem o fervilhar das ideias, o borbulhar das emoções na centrifugadora das recordações. Já só me resta pensar com o coração.
Afinal de contas até onde é que eu posso ir? Todos os caminhos que eu já escolhi deram num precipício que por sorte ou acasos da vida me segurei nu recuo sem canhão.
Qual o caminho que não me leva ao precipício?
O do amor? Já tentei. Apaixonadamente me senti uma borboleta leve no vento que era brisa e num záz se tornou ciclone que até deu volta ao estômago. Ficou a recordação dum beijo.
O do desamor? Já senti arrepios nos lábios no balbuciar silêncios, distâncias nas aproximações e portas que se fecham num automatismo desengenhocado de aproximação.
Vale mesmo a pena estar a ouvir o zulmarinho e tricotear tantas ideias e crochetar tantos sonhos? Não foi assim que falei?
Interessa é a ideia de ter a ideia que não perdi a ideia que um dia idealizei.
Sanzalando

8 de julho de 2009

Meus Sermões aos Peixes do Meu Aquário

Me sento aqui e me deixo levar nas ondas do zulmarinho como que a navegar por ideias feitas e outras por fazer. È que a vida dum ser humano comum, assim que nem eu ou tu, é regulado, como se pode constatar nos efeitos científicos dum estudo ainda por realizar, por causas e consequências. Daqui eu concluir numa conclusão pacientemente elaborada que, quanto maior o nosso esforço para conseguir alguma coisa, maior probabilidade teremos de conseguir. Se não for assim passa assim a ser, que é ordem minha e não me posso gastar em profundos pensamentos quando estou a desfrutar o horizonte curvo da minha recta visão.

Assim é o que acontece também com o talento e igualmente com a inveja. Aqueles que nascem com talento lhes custa menos em esforço atingir os objectivos. Acho que, desde esta rocha onde me sento em profundos pensamentos, esta é a normal teoria dos mortais. Mas não o é para aqueles que têm jogo de cintura em vez de talento, vontade ou vocação.

Mas tu me estás a perguntar o que é que o zulmarinho tem a haver com isto que eu estou aqui a falar? É que custa ver que aqueles que facilmente chegam ao seu limite, como num passe da magia estão lá no alto dum pedestal, sem talento, vontades ou vocações.

Como vês, o zulmarinho me dá para tanta coisa que um dia ainda vou descobrir um talento qualquer e refaço os Meus Sermões aos Peixes do Meu Aquário.



Sanzalando

7 de julho de 2009

46 - Estórias no Sofá - Domingo é futebol

Simão Tibério estava rodeado de buliço, misturado entre gritos e insultos, cores garridas e muitas iguais, porque era Domingo e ele estava a ver o seu habitual jogo de futebol. O jogo era entre os militares e os aviadores, sendo que nem uns nem os outros o eram propriamente isso, mas na gíria era assim que lhes chamavam e não era ele quem lhes ia dizer que era do 1º de Agosto. Era militar e estava tudo dito, mesmo que ele nunca tenha lombado com os costados na tropa que já tinha tido vários nomes. Ele era Agosto, logo era militar.
Ele também gritou no momento que o senhor árbitro, que durante os jogos ia tendo vários nomes, marcou a pena máxima contra o seu 1º de Agosto. Neste momento esse gajo do apito levou com um apelido que até fez corar as palavras. Simão Tibério puxou da culatra para trás e lhe bombardeou com tudo que era palavrão que não vem em ordinário nenhum, muito menos em dicionário decente e revisto em novos acordos ortográficos. Toda a gente viu que aquela marcação era injusta, quanto mais não seja porque o jogo era em casa dos militares e os aviadores de bancada se esqueceram de ir ver o jogo. Com um resultado assim os militares ficam sem hipóteses de chegar perto dos petrolíferos. Petrolífero ganhar o campeonato outra vez é que nem pensar, pensou Simão Tibério. Agosto é que sim!
Assim, carregando na azia lá se passou o Domingo de Simão Tibério, sem motivo de festa nem de verter umas e outras na comemoração, só mesmo no esquecimento. Mas Simão Tibério não podia se dar nesse luxo, amanhã é dia de tomar conta do importante arquivo. A vida não se ganha nas bancadas dum jogo de futebol nem ao balcão dum caféco qualquer.
Uma coisa Simão Tibério tem a certeza. Amanhã no chegar ao serviço lhe vão imitar avião a aterrar na cabeça dele. Tem sempre quem se lembra dessas coisas mesmo que não entenda essa coisa da paixão do futebol. Como sempre acontece quando os militares perdem ou empatam, Simão Tibério só lhes dá os bons dias e lhes responde com movimentos silenciosos de cabeça. Na hora do almoço vão lhe insistir com mais força porque mais gente vai ficar a saber os resultados e ele, como sempre nessas condições, lhes vai abanando a cabeça até que eles se vão calar de cansados e monotonamente isolados. Foi a experiência que ensinou este truque em Simão Tibério.
Verdade verdadeira é que quando os militares ganham ele não só não se cala um segundo na Segunda-feira, como também não tem tempo para tomar conta do arquivo no tempo que perde a xingar os conhecidos adversários que nada percebem de futebol e só sabem os resultados do Agosto para lhe implicarem.
Mas hoje não tinha comemoração, era só um copo para esquecimento. Novo Domingo há de chegar, novas palavras hão de ser gritadas, abraços a desconhecidos irão ser dados. O futebol era a sua missa dominical e o padre nosso era substituído pelos muitos apelidos do senhor do apito. Até a música alê alê ele sabia de cor se é que alê quer dizer alguma coisa. Mas no estádio não tinha inibições e era uma festa, desde que o d’Agosto ganhasse, está claro. Ele, um introvertido, submergia no meio daquela multidão, era prémio semanal. Simão Tibério em Domingo de futebol era o rei que desfrutava o poder das massas ou o fúnebre caixão da derrota.





Sanzalando

6 de julho de 2009

Preguiça


Preguiça dá para esta coisas, recopiar um mail e escarrapachar aqui que até parece ser diversão



É motivo para estar atento e comemorar
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ATENÇÃO

No próximo dia 7 de Agosto de 2009, às 12 horas 34 minutos e 56 segundos, a data e a hora serão


12:34:56 07/08/09

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Isto nunca mais vai acontecer de novo nas vossas vidas!!!!



Sanzalando

4 de julho de 2009

Recordando textos velhos

Vamos mandar pela goela abaixo umas e outras birras mais que geladas, ouvindo o zulmarinho no seu maraulhar cantar baixinho as rosas de que lhe dei, o infinito amor, o eterno amor. As músicas do Minguito que ele as canta como ninguém. ouve só com atenção. Ainda não as ouves? Mermão manda vir outras e te deixa embalar neste jogo de imaginação para conseguires ouvir neste silêncio da noite de lua cheia todas as canções do zulmarinho.Ai esse tango esse tango, o tango da minha vida.Puxa do acordeão e vais ver se ele não te canta as músicas todas e sem desafinações.
Esse zulmarinho que nos separa unindo como cabo submarino tem encantos que só ele mesmo sabe encantar. O cheiro da terra molhada, os salpicos do sal, tudo vem desde o início dele, lhe está na alma.Vês, mermão, de vez enquando vem onda maior, assim como onda de raiva, que se espraia mais longe nessa praia que lhe tenta travar, mas não tem nada que lhe trava, é mesmo ele a dar uma de rock, a imitar os stone dos tempos de antigamente.
Manda vir só mais uma geladinha para mim. Quero beber até esquecer que estou deste lado do zulmarinho. Quero esquecer apenas que estou.


8-12-2004


Sanzalando

2 de julho de 2009

fim de tarde noite adentro

Vejo o mar de fim de tarde que durante o dia o tempo livre está preso e fico longe dele. Mas neste agora também serve para eu sentir que eu era capaz de prever acontecimentos e factos. Mas o mais extraordinário era que eu acho sentia os sentimentos de gente que eu não via faz muito tempo. Acho que podia tentar fazer aqui uma lista que quase seria um rolo como os pergaminhos de antigamente. Mas não vou fazer porque ainda chamam a santa inquisição que de santa não tinha nada mas isso é assunto doutros quinhentos que não os meus.
Mas acho que com o tempo essas, vamos chamar de intuições, se foram limitando à minha existência e aos meus sentimentos. Agora por qualquer coisa a gente tem telefone, e-mail e tecnologias que faz de conta a gente nem precisa nem pensar. Faz, apenas.
Enfim, acho que o sol de fim de tarde queimou os fusíveis que ainda estavam direitos. Acho melhor passar a ver o mar só noite dentro, bem entrada.

Sanzalando

1 de julho de 2009

queria

Queria entrar na tua alma e caminhar no teu imaginário horizonte, despir-me de preconceitos e ver-me através dos teus olhos. Ouvir-me nos teus ouvidos como uma guitarra que chora acordes de saudade e de nostalgia. Queria entrar no labirinto da tua imaginação, ver o teu amor sem medo e sem pressa e olhar-me com os teus olhos e saber quem sou para ti.
Ouço o mar, eu sei que o mar me embriaga, mas é com ele que eu navego nas ondas férteis do sentir-me num abraço com o mundo que se limita a ti numa redenção medonha. Queria fundir-me contigo num ser inseparável duma eternidade de momentos.
Veio uma onda maior e lá voltei à realidade da eternidade de agora.

Sanzalando