Começou o frio. De manhã tem cacimbo e de tarde está que nem apetece continuar com o que não se fez de manhã. Mas por causa disso eu te vou contar assim numa de boca na orelha que é segredo e ai de ti se contas em alguém. Te mato de cortar o pescoço e mais não te digo nem bom dia na vida.
Foi no Sábado eu decidi ir na farra. Tu sabes que faz mais de três anos que eu não ouço dizer e não digo as palavras te quero. Mas no Sábado me apeteceu mais que não sei explicar. Encontrei um garino que faz tempo anda aqui parece está a fazer ronda que nem polícia. Me deixei levar assim como que nem uma pena é levada pela brisa deste tempo de cacimbo. Imagina só, esta tua amiga, Josefa Sofia, se deixar levar numa atracção física. Mas na verdade é que ele me surpreendeu. Um senhor cavalheiro que eu até me senti uma princesa. Mas são esses gajos assim, maravilhosos, que nos recordam que somos mulheres e nos fazem esquecer as decepções e desconfianças de relações raladas de outros tempos. Ele fez com que eu mostrasse o meu coração grande que parecia fazia muito tempo estava aqui preso no peito. Me senti valiosa e importante. Senti que ele me queria num querer de quer mesmo.
Sorrimos, rimos e até gragalhámos. Acho a minha cara se desenrugou para uns anos atrás. Estás a ver aqui a Josefa Sofia, corpo roliço e cara de adolescente que tem o primeiro amor? Foi mesmo assim que eu me senti. Até que consegui esconder uma certa tristeza quando me lembrei que fazia meses que ele fazia a ronda e eu armada em esperta lhe desligava. Me arrependo sim, mas não lhe disse e acho não lhe mostrei. Lhe mantive à distancia do meu corpo esse tempo que agora acho foi perdido mas na altura eu não tinha essa ideia e por isso não lhe disse nem lhe mostrei, assim como não lhe disse que tinha aceitado o convite apenas por gratidão e porque o cacimbo me deixa triste fechada em casa.
Farrámos num farrar sem parar. Lhe senti o respirar dele no meu pescoço quando a música era assim de dançar bem agarrados. Me custou reabituar mas depois fui na embalagem e não queria mais a música acabava. Tanto tempo perdido, de vez em quando me vinha à cabeça. De verdade me apetecia sair dali com ele e ir assim num encontro com o destino de roupas tiradas. Acho senti que ia começar uma nova temporada na minha vida. Uma boa temporada. O tempo da estupidez estava definitivamente enterrado e a Josefa Sofia fechada em casa tinha acabado. Esse garino mais novo fez uma revolução na minha cabeça que nem eu sei como entrei nela e nem sei como vou sair se me apetecer. Eu sei que tem partes de mim vão parecer estar enferrujadas mas acho que é como dizem do andar de bicicleta.
Não sei como aconteceu, mas a verdade é que até parece foi magia ou cegueira duma paixão, me encontrei enrolada e sem roupa no corpo dele ali para trás dum muro que eu nem sabia ele estava ali construído.
Te posso dizer porque sei és meu amigo, foi até fastidiar. Não sei onde é que ele foi arranjar tanta energia. Vais ver se andou a guardar todo este tempo assim para mim. Olha se estava frio eu nem senti. Acho só senti gostar. Eu sei que fazia muito tempo mas eu lhe gritei ao ouvido que lhe queria. Vezes sem conta. Aquilo é que foi ganas.
Tás a ver como é que é a vida? Enlutei quando o outro malvado disse ia lá a e já vinha que até hoje ainda podia estar sentada à espera. Tempo perdido esse que eu deixei escapar com esse aqui a fazer a ronda que eu nem lhe olhava para não lhe ver a cara e afinal acabamos atrás do muro num enrolar parecia só um.
Quando me fui para casa eu acho só fui a sonhar e ele me acompanhava que parecia um cavalheiro sim senhor. Me beijou na boca perto da porta e se retirou um silêncio interrompido com um olhar que parecia dizer adeus meu amor que te quero.
Esqueci todas as normas e só sei que esse garino me fez nascer outra vez com ganas de viver. Olha, não te sei dizer ele é bonito ou é feio. Antes eu te ia dizer que ele é horrível, hoje acho ele o mais lindo do mundo. Não sei. É a vida!
Josefa desinquietou cabeças e corações adormecidos. Sempre acredito que é bom sonhar, ainda que baixinho e quase a medo. Beijo
ResponderEliminarEsta é a continuação daquela estória do arnaldo ou do jacinto fujão, que foi na venda comprar cigarros? parece-me que sim.
ResponderEliminarSJB