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7 de julho de 2009

46 - Estórias no Sofá - Domingo é futebol

Simão Tibério estava rodeado de buliço, misturado entre gritos e insultos, cores garridas e muitas iguais, porque era Domingo e ele estava a ver o seu habitual jogo de futebol. O jogo era entre os militares e os aviadores, sendo que nem uns nem os outros o eram propriamente isso, mas na gíria era assim que lhes chamavam e não era ele quem lhes ia dizer que era do 1º de Agosto. Era militar e estava tudo dito, mesmo que ele nunca tenha lombado com os costados na tropa que já tinha tido vários nomes. Ele era Agosto, logo era militar.
Ele também gritou no momento que o senhor árbitro, que durante os jogos ia tendo vários nomes, marcou a pena máxima contra o seu 1º de Agosto. Neste momento esse gajo do apito levou com um apelido que até fez corar as palavras. Simão Tibério puxou da culatra para trás e lhe bombardeou com tudo que era palavrão que não vem em ordinário nenhum, muito menos em dicionário decente e revisto em novos acordos ortográficos. Toda a gente viu que aquela marcação era injusta, quanto mais não seja porque o jogo era em casa dos militares e os aviadores de bancada se esqueceram de ir ver o jogo. Com um resultado assim os militares ficam sem hipóteses de chegar perto dos petrolíferos. Petrolífero ganhar o campeonato outra vez é que nem pensar, pensou Simão Tibério. Agosto é que sim!
Assim, carregando na azia lá se passou o Domingo de Simão Tibério, sem motivo de festa nem de verter umas e outras na comemoração, só mesmo no esquecimento. Mas Simão Tibério não podia se dar nesse luxo, amanhã é dia de tomar conta do importante arquivo. A vida não se ganha nas bancadas dum jogo de futebol nem ao balcão dum caféco qualquer.
Uma coisa Simão Tibério tem a certeza. Amanhã no chegar ao serviço lhe vão imitar avião a aterrar na cabeça dele. Tem sempre quem se lembra dessas coisas mesmo que não entenda essa coisa da paixão do futebol. Como sempre acontece quando os militares perdem ou empatam, Simão Tibério só lhes dá os bons dias e lhes responde com movimentos silenciosos de cabeça. Na hora do almoço vão lhe insistir com mais força porque mais gente vai ficar a saber os resultados e ele, como sempre nessas condições, lhes vai abanando a cabeça até que eles se vão calar de cansados e monotonamente isolados. Foi a experiência que ensinou este truque em Simão Tibério.
Verdade verdadeira é que quando os militares ganham ele não só não se cala um segundo na Segunda-feira, como também não tem tempo para tomar conta do arquivo no tempo que perde a xingar os conhecidos adversários que nada percebem de futebol e só sabem os resultados do Agosto para lhe implicarem.
Mas hoje não tinha comemoração, era só um copo para esquecimento. Novo Domingo há de chegar, novas palavras hão de ser gritadas, abraços a desconhecidos irão ser dados. O futebol era a sua missa dominical e o padre nosso era substituído pelos muitos apelidos do senhor do apito. Até a música alê alê ele sabia de cor se é que alê quer dizer alguma coisa. Mas no estádio não tinha inibições e era uma festa, desde que o d’Agosto ganhasse, está claro. Ele, um introvertido, submergia no meio daquela multidão, era prémio semanal. Simão Tibério em Domingo de futebol era o rei que desfrutava o poder das massas ou o fúnebre caixão da derrota.





Sanzalando

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