Me perco de mim em passagens por imagens imaginadas. Arranco-me do passado em direcção a um futuro que idealizo e levo essas imagens como se elas fossem cópias da realidade. Vivo-as reinventando a nossa vida a dois como se nunca nada nos tivesse separado. Com os meus dentes e as minhas mãos inquietas percorro o teu virtual corpo, saboreio-te o perfume e me aqueço no teu calor. Faço da minha impaciência carnal um ritual que pode parecer uma dança ou uma histeria, mas a imagem imaginada me é real. Vivo-a e perco-me nessa vivência e mais uma vez me afogo nas palavras que ficaram por te dizer. A tua voz, sempre silenciosa, me transmite a incerteza de um dia tudo voltar-me a ser como dantes.
E eu, como sempre, me perco na cadeia de realidades que me inventei contigo. Sons, luzes e cores, odores e perfumes carregados, música alta abafando sofrimentos e eu, como sempre, perdido em imagens que te inventei. Sempre sem passado e com incerto futuro caminho vagabundeando pela imaginação colorida da insónia.
Talvez me diga que se saltar fronteiras eu me encontre e uma nova vida seja para mim reinventada. Talvez assim os meus olhos deixem de chorar e eu deixe de procurar na desarrumação da memória as imagens que te guardei.
Me perco sempre por aqui, sem norte e sem sul, com a alma nua e lágrima salgada correndo para o mar da desilusão.
Um dia, vou acordar e vão-me dizer que é tarde.
Aí tomarei conta da dança, reinvento-a e me dirão que fui copiar à realidade a minha vida. Chorarei, mas desta vez a céu aberto.
Sanzalando
Me sento no lugar comum de que Nunca é tarde! E descanso a minha desilusão. E renovo a força de acreditar...
ResponderEliminarHoje ganhei o dia lendo este texto lindíssimo. Obrigada por ser o " meu " escrevinhador poético preferido, poeta.
Não me leve a mal.
Gosto de comentar mas nem sempre sou contida como os comuns mortais; é África e a idade fazendo de mim abusada.
;-*