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20 de outubro de 2010

É apenas hoje

Hoje não ouço o mar e mal dou por mim e estou num ofegante respirar. Me disseram que era ansiedade, eu digo que é só mesmo cansaço de correr atrás da imaginação, pular memória atrás de memória, ver corações bater como se num desenho animado vivesse. Me disseram era nervosismo e eu digo é apenas saudadismo. Olho à volta e não vejo mais as caras com que eu cresci, não ouço mais as vozes que me habituei a ouvir. Uns partiram e outros nem faço ideia onde é que estão. Meto conversa com estranhos e me entranho num mimesmo que nem deu para conhecer.
Hoje não ouço o mar nem lhe sinto o frio salpico duma maresia com que me perfumo.
Hoje não estou aqui, nem ali, nem acolá. Acho hoje eu não existo ou apenas porque desisto ou porque não é dia de existir.
Hoje não ouço o mar nem lhe vejo de lá longe.
Eu hoje não acordei, me desrisquei-me do calendário. É apenas hoje!

Sanzalando

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