Me enrolo na areia brincando como quando era criança. Faz conta eu assim não vou chegar a mais idade, àquela idade em que a gente pensa que sabe tudo e resmunga e teima e ainda por cima pensa que tem sempre razão. Eu não quero ser amigo da idade. Eu não vou querer ouvir dizer aquele senhor de idade quando estão a falar de mim, eu não vou querer ser o resistente das ideias novas que julga que me vão atirar para um canto como quem pega um jornal velho para limpar uma janela.
Me enrolo na areia com a mesma gargalhada que descobri faz tempo nos filmes de 8 mm dum cinema de antigamente que era em mudo e a preto e branco. Me atiro na água da mesma forma, mas mais volume como fazia quando pensava era homem pássaro a entrar nesse de zulmarinho a dar para o frio.
Me enrolo na areia como que a relaxar dum dia de descanso mesmo que tenha trabalhado que nem um escravo, que me doa o corpo do reumático, a cabeça da falta de vista, a respiração seja ofegante como se estivesse corrido centenas de quilómetros sentado numa secretária a atirar postas de pescada.
Me enrolo na areia, apenasmente porque desisti de envelhecer como os outros da minha idade.
Sanzalando
Boa! À 6ª feira ao fim da tarde também eu quero ser candengue e fazer até o que não fiz enquanto candengue. Desistir de envelhecer, SEMPRE!
ResponderEliminarO pior é que vamos lá nós para Angola e ouvimos os kanukos nos chamarem de mãe, pai, tio(a) e percebemos bem qual é a nossa idade.
Olhe, darem-me lugar nos autocarros ou no metro acaba comigo e de repente desforro-me dando o lugar a velhinhos da minha idade. Ora bem...
Há gente que nunca será
a velha, sabe? Sabe concerteza.
Porque a Alma pode atravessar vários corpos mas mantêm-se intocável, inabalável e Superior a essa coisa pouca e mesquinha como sendo a sacana da idade a somar tempo.
Belo texto.Irreverente, inquieto e optimista.
Abraço e ;-*