Acordei em alvoroço, ainda era madrugada. Sentia um misto de solidão que se misturou com a habitual matinal confusão e fiquei a saber que se remeto palavras soltas ao deus dará é porque consigo viver e morrer ao mesmo tempo, assim num misto de castigo e recompensa, assim num desejo incerto de ficar para sempre.
Porque isto é o escrever, falar sozinho, desenhar textos. Sei lá mesmo o que faço.
Estou a ver assim um rio de palavras, onde pego uma a uma como se fossem gotas até encher o copo sem entornar para não ter desperdício e conseguir traduzir o tanto amor com indiferença, a saudade com nostalgia e pé ante pé manter a mágoa com lembranças agradáveis.
Nas minhas palavras encontro o saber mesclado na ignorância, a simplicidade de versos que nunca declamei e me chamo escritor, com pavor e se calhar por humor em falta.
Agarro palavras que se misturaram nos chinelos e tento com elas desenhar o tempo incomum, a vida feita morte numa eternidade caracterizada por imortais caracteres.
Escrever é um tentar descobrir ao mesmo tempo que tenho a certeza que não sei.
Acordei em alvoroço e com as letras me visto, esperando não ter de almoçar uma só sopa de letras.
Sanzalando
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