Imagina só eu sou uma folha dum árvore que não caiu no outono mas não aguenta o inverno e que o vento me leva a quilómetros de mim. Mesmo que as minhas raízes tenham ficado lá no tronco, mesmo que a minha alma esteja presa num ramo esquelético da despida minha árvore donde caí eu vou continuar a ser a velha folha da árvore.
Poderei já não saber com toda a certeza qual a minha árvore, mas terei um vagamente bem definido e vincado saber que sou a folha da árvore que não caiu no outono mas não aguentou o inverno. Assim, como se eu já esperasse, toda a minha vida seria um estonteante fruto do acaso ou surto de circunstâncias aglomeradas num rótulo imaginário das minhas veias que um dia se desprenderiam da árvore e seriam soprados pelo vento frio em direcção ao ponto mais difícil da vida que é o esquecimento.
Imagina só, eu folha, perdidamente vagabundeando pelo mundo ao sabor de ventos sem ter a noção que a noite é uma hora longa da curta vida.
Imagina só, eu folha, ser beijado constantemente pelo vento que me leva ao colo até cair numa parte nenhuma.
Imagina só, eu folha, ser beijado constantemente pelo vento que me leva ao colo até cair numa parte nenhuma.
Sanzalando
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