Ai minha nossa senhora dos aflitos e desamparados, os ananases se cozeram neste calor que parece é tropicalmente fabricado e europamente plantado. Os putos da minha rua têm os chinelos colados no alcatrão que se derrete, parece é cérebro de adulto feito mau feitio. Eu já sou assim como mais crescido porem em embalagem parece é nova. Digo eu que já me falta a vista para temperar a imagem que tenho de mim. Com este calor transpirei e não sei se foi desse calor se foi da esperar dum sinal da saudade que tu ias dizer sentes por mim. Passou a manhã, chegou a tarde e rompeu a noite e a esperança morreu vã, para não dizer virgem e saloia. Não foi por falta de aviso, mas eu até ver para crer não acredito. Minha mãe sempre me avisou. Tira a cabeça do sol, miúdo teimoso. Tira o corpo desse calor, reguila duma figa. Na verdade não perdi a esperança de num fim de tarde de calor assim, chinelo colado no chão, te ver chegar no teu ar minado de deixa andar com qualidade, sorriso difícil mas sincero, chinelo moderno e cabelos esvoaçados. Sou assim que nem feito de vertiginosas fantasias de pessoa boa que te espera ver caminhar na minha direcção com olhos de ternura e infinitamente carregados de carícias.
Afinal de contas era apenas mais um texto dos meus, daqueles que não acontecem senão na minha imaginação, daqueles que são peitos de primavera morena numa praia de muitas cores, voando palavras pintalgadas de maresia e olhos de zulmarinho entrando oceano a dentro.
Bolas. era domingo de manhã e não voltei a sonhar com medo que na segunda, no trabalho, iam ver os meus sonhos se derreter num corredor uniformemente acelerado pelo frenesim dum trabalho nunca acabado.
Tenho medo das noites sem amanhã para nós.
Tenho medo das noites sem amanhã para nós.
Sanzalando