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1 de março de 2024

meus retalhos 25

Eram para aí umas 2 da madrugada duma noite quente de verão. Ainda não me tinha mudado para a cidade de praia, onde havia de me fixar de vez, era novo no ramo médico, dois ou três anos de experiência e muita garra e vontade, muita dúvida e poucas certezas. O mundo era novo e as noites de urgência eram aventuras que se tinha gosto de ter. Mas às duas da madrugada certeza não tinha nenhuma e sono já era algum. 
- Dr. temos aqui uma menina de 16 anos que vem com cólicas na barriga. 
- Põe ali no gabinete pequeno para eu ver. 
Lá veio a menina chorosa e dobrada sobre sim como que a dizer-me que lhe doía a barriga.
- Olá, sou o Dr. C e estou aqui para ajudar. Conta-me coisas para eu adivinhar o que tens. O Sr. Bombeiro pode esperar aqui à porta se faz favor.
- Dr. estava na praia d'El Rei e comecei a ter vómitos e dor de barriga assim como que a espaços largos.
- Que praia é essa? mostrando a minha ignorância de praias da região Oeste.
- Em Óbidos.
- Ok. Deita-te ali na marquesa e mostra-me a barriga. 
Ela deitou-se, menina de 16 anos a dar para o gordinho, com a barriga mal à mostra. 
- Vá lá, camisola para cima e calças para baixo, tenho de olhar e ver a barriga toda. Encolhe a barriga... faz inchar a barriga... - os movimentos dos músculos abdominais eram normais. Não temos peritonite, pensei eu aliviado de não ter que ir ao Bloco àquela hora.
Levantei-me da secretária e sentei-me ao lado dela naum banco para fazer o segundo gesto que era a palpação abdominal.
Comecei pelo epigástro, ali mesmo a meio onde acaba o tórax e começa a barriga. Curioso, faço pressão aqui e as calças ali mexem. 
- Baixa mais as calças e as cuecas - disse eu intrigado e sem saber o que estava a acontecer., longe daquilo que ia acontecer.
Volto a fazer pressão e mando um grito: Preciso dum enfermeiro aqui no gabinete.
Conforme eu fazia pressão no abdómen ia aparecendo a cabeça dum bébé lá no sítio por onde eles nascem. 
- Tens família ou vieste sozinha? 
- O bombeiro é o meu pai.
Acabámos de fazer ali o parto, chamámos o pessoal do bloco de partos para fazer o que ficou por fazer e eu dirigi-me ao bombeiro, pai e avô.
Contei-lhe o que se passou e ele incrédulo disse-me:
- Impossível ser a minha filha, ainda hoje estivemos na praia e ela não estava grávida.
- Pois, há milagres inexplicáveis. Mas pode vir comigo e se não saiu daqui da porta pode ver que não há mais nenhuma outra ou janela neste gabinete por onde tenha entrado a cegonha.

Sanzalando

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