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2 de junho de 2006

Silêncio de Tocar e fazer Sombra

Anda cá! Senta aqui mesmo no meu lado. Tanto faz seja esquerdo como direito que isso aqui não tem importância. Senta só e escuta comigo esse silêncio que faz vibrar a alma. É um silêncio tão assim de grande que até lhe apetece tocar. Até parece que faz sombra. Uma sombra mesmo acolhedora que torna este zulmarinho aconchegante, que até parece tem olhos de azul mar, que dá até para ver as muitas cores que ele transporta. Vais ver essas cores são recados que chegam desde o lado de lá, desde o início dele. Olha-lhe nos olhos e vês a calma, a docilidade dos sonhos, a ternura dos desejos, o gemer do gosto. Olha-lhe no intimo e absorve os gestos parcimoniosos de quem parece estar a acordar de uma noite bem dormida.
Abre as nossa birras loiras estupidamente geladas e vamo-nos oleando de gosto e prazer.
Deixa mesmo que os braços dele que se espraiam aqui na areia te acariciem, te contornem o corpo. Deixa-te levar nesse sonho acordado, dessa carícia intermitente que ele te quer fazer. Sente o toque dessa areia de muitas cores, move as tuas mãos lentamente, as centenas de pontos de atrito que sentes e se renovam em cada teu gesto levam-te a um sentimento de comodidade que nem as palavras escritas com a água desse zulmarinho não são suficientes para as descrever no seu todo. Este contacto simultâneo de zulmarinho e areia é tão envolvente que parece não faz distinção entre o teu corpo e esse mar que nos trás os recados das kiandas, as mucandas das sereias, o carinho das gentes, o perfume e o calor de desde lá do início dele. Olha bem nesse grão de cor vermelha, tenho a certeza vem desde lá. É um sinal que nos chega de lá.
Abre aí outra birra.
Jamais em lado nenhum tu consegues sentir esta sensação que sentes aqui. Aqui, sentado ou caminhado nesta praia que é baía, tu consegues sentir cada teu milímetro e consegues ver que existe, do lá de lá da linha recta que é curva, o que amas. Aqui, mermão, consegues libertar-te dessa letargia que te invade despercebidamente. Aqui vibras com um conjunto de sensações que parece te têm estado tristemente adormecidas desde que nasceste aqui no final do zulmarinho. Esqueceste que tiveste dois nascimentos, o lá onde começa ele e o cá onde estás agora assim nessa cara triste, nessa duvida de existência. Vê só que só agora pareces estar a sair do teu nevoeiro. Só agora parece que estás a ver uns raios de sol que até parece aqueles santinhos de antigamente com o Espírito Santo a descer na terra, descrevendo assim rios de sol por entre a neblina.
Agora, aqui, a meu lado no meio deste silencio marulhado até que pareces o centro do mundo. Não te parece que o universo foi construído só para ti?
Agarrados nessas birras, sentindo os sentidos que nos faz sentir esta paz interior que de modo assim ilusionisticamente a gente põe no exterior cate parece gente nova que acaba de renascer.
Deixa-te levar neste sonho, faz as malas e caminha na levitação sobre este zulmarinho que estremunhadamente parece acordar duma noite bem dormida.




Sanzalando

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