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10 de junho de 2006

O olhar na gravidade

Me mantenho aqui firme na ponta do pontão. Umas vezes vou olhar a linha recta que é curva e que me parece está na mesma distância de quando lhe olho desde lá da areia da muitas cores. Vais ver o peso do olhar cai com a gravidade e assim aquilo que devia estar daqui mais perto está na mesma distância de desde a beira do zulmarinho. Ou então é por este pedaço que ocupo no espaço é mesmo como uma bola e eu estou para aqui sempre na mesma distância, quer de um lado quer do outro. E me lembrei de que bola pode fazer heróis ou criar mercenários. Tudo depende mesmo do chuto mais certeiro, da sorte e do azar, do estar ali no sítio certo no momento certo e fazer o gesto certo. Para mim já está ganho mesmo que o ganho seja só o estar lá, bandeira ao vento e hora de festa ser festa. Mas não vim para aqui para falar dessas coisas mais mundanas e como que mais terrenas como que o mundo estivese em dia feriado.
Eu aqui me sinto um ser, daqueles espíritos tagarelas, que se enchem de palavras que tomarão outra forma para além do túmulo.
Se eu soubesse dizer tudo aquilo que sinto vontade de dizer talvez eu pudesse convence-te dos meus pontos de vista e das causa de cada um dos meus nãos. Eu pouparia algumas das tuas lágrimas, aquelas poucas que eu vi caindo dos teus olhos naquela tarde já noite de Outubro. Eu te digo que a única coisa que me dói nesta vida é ter sido a causa daquelas poucas lágrimas que vi cair do teu céu, é ter sido a causa dalguns traços traços tristes que te vi nas tuas faces. Se eu soubesse falar as palavras certas eu encerraria toda esta tristeza magoada que transporto na minha alma, no meu suor, no meu corpo cicatrizado de dor, com um pedido de desculpas. Se eu soubesse falar tudo isto que eu te queria dizer, tudo isso, meu bem, eu te falaria. Acredita.
Sanzalando

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