Caminho de lá para cá na beira do zulmarinho, deixando pegadas bem vincadas na areia húmida que parece ser toda castanha em contraste com as mil cores da areia seca, que sendo a mesma só porque se molhou com as lágrimas do zulmarinho até perece que estou noutro lugar. Caminho e não falo nem penso. Hoje me limito a caminhar como se fosse possível eu estar sem contar uma estória à minha pessoa. Mas hoje não falo nem penso. Não falo nem penso porque pode alguém ouvir e vai logo pensar que eu estou a fazer estiga, a querer passar rasteira, fazer bassula ou outra coisa por aí a cima ou abaixo, dependendo do jogo de cintura. Caminho num passo vazio com a sensação de cheio de nada. Não dá. Não me fica bem comigo mesmo caminhar parece é fantasma em noite de lua cheia. Dou um mergulho no zulmarinho num encarpado perfeito, pelo menos eu penso que foi assim, sacudo a cabeça num respingar de lágrimas para longe, esfrego os olhos e não só vejo melhor como também penso e falo bem melhor ainda. O campo de visão. Consigo ver coisas que não via com aqueles olhos arranhados de tentar não ver, não falar e não ouvir nada.
Agora que vejo direito mesmo por cima de linhas curvas que são rectas, linhas paralelas que se cruzam nalguns cruzamentos de canto, percebi uns detalhes que não havia percebido antes.
Por exemplo, eu pensava que trabalhava numa fábrica de bustos de Neptuno, quando na verdade trabalho num escritório de importação e exportação de jogos da memória, numa fábrica de sonhos sonhados e vividos de vida fácil.
Também descobri que durante estes anos errei na casa quando voltava do trabalho árduo de embustar, as pessoas que eu pensava era família na verdade era gente que nem conhecia, dormia num quarto que, na verdade, era um posto de transformação e via TV no que afinal era uma aquário de peixes dourados e olhos esbugalhados.
Só agora, com olhos lavados como novos, vejo que o carro que pensei que tinha comprado era, na verdade, uma caixa de sabão com rodas de cortiça. Isso explica o eu nunca ter conseguido encontrar o botão do ar consagrado que refresca as ideias.Chega a ser espantoso como nestes anos eu consegui conversar comigo pensando que estava a conversar com os outros.
Agora que vejo direito mesmo por cima de linhas curvas que são rectas, linhas paralelas que se cruzam nalguns cruzamentos de canto, percebi uns detalhes que não havia percebido antes.
Por exemplo, eu pensava que trabalhava numa fábrica de bustos de Neptuno, quando na verdade trabalho num escritório de importação e exportação de jogos da memória, numa fábrica de sonhos sonhados e vividos de vida fácil.
Também descobri que durante estes anos errei na casa quando voltava do trabalho árduo de embustar, as pessoas que eu pensava era família na verdade era gente que nem conhecia, dormia num quarto que, na verdade, era um posto de transformação e via TV no que afinal era uma aquário de peixes dourados e olhos esbugalhados.
Só agora, com olhos lavados como novos, vejo que o carro que pensei que tinha comprado era, na verdade, uma caixa de sabão com rodas de cortiça. Isso explica o eu nunca ter conseguido encontrar o botão do ar consagrado que refresca as ideias.Chega a ser espantoso como nestes anos eu consegui conversar comigo pensando que estava a conversar com os outros.
Lindo texto! Adorei! Te linkei também.
ResponderEliminarMil beijos,
Emanuelle.