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4 de junho de 2006

Neste caminhar encontrei certezas

Me vens dizer que aqui a areia está molhada, gruda nos pés, faz impressão nos dedos e coisas e tal. Que praia é para outras gentes, que o zulmarinho isto e aquilo, te causa arrepio que até faz tremer a coluna mais vertical. Mas aqui não tens a têvê que te faz grudar os olhos, te arrepia e te mostra as coisas mais cinzas da vida que está a passar tão rápido que a gente está aqui e está a dar os pêsames a ela num ápice. Tu aqui, na ajuda do silêncio marulhar do zulmarinho se espreguiçando na areia podes cantar e podes sorrir, podes sonhar e navegar, podes ser as tuas fantasias. Guarda esse fato velho num sótão, atira para o lixo essa carranca triste e enrugada em que se tornou a tua cara. Anda sentar aqui, falar mesmo que seja no silêncio dos lábios. Vem porque aqui tu és mesmo tu, o teu eu que está lá dentro à espera de um dia ser largado e no teu rosto martirizado pelo tempo volta a aparecer o sorriso, a criança que nunca deixaste de ser porque dentro da gente existe sempre, muitas vezes bem escondido o nosso lado infantil. Só de olhar na tua cara eu estou a ver as perguntas que estás a fazer dentro de ti. Esse gajo loucou de vez, cacimbou, fundiu os fusíveis visíveis e invisíveis. Mermão, eu simplesmente libertei prisões, elevei-me num patamar de sensibilidades, numa palete de cores vivas. Tudo, mermão foi nas minhas caminhadas aqui ao lado do zulmarinho, tudo foi aqui nas estórias que conto e ouço. Sabes que dá arrepio só de lembrar que nesta vida que vivo, posso passar ao lado das muitas coisas que eu gostava de saber, só mesmo por falta de tempo eu não as vou saber. A nossa vida, quando vivida empoeirada, está só mesmo à espera de um empurrãozinho para se desequilibrar perigosamente para o lado falso da encarnação. Tá na tua cara mais uma pergunta se é que eu virei filósofo. Quem sabe, mermão. Neste caminhar encontrei certezas, descobri dúvidas que procuro tirar a limpo como que a fazer os trabalhos de casa dos tempos de infância. Tas a ver como aqui se encontra o equilíbrio do mim e do eu?
Aqui não tens a pressão de ver se a novela vai começar, se o golo foi ou não foi. Aqui vertes umas e outras, falas, calas e ouves, nos respeitos dos silêncios, nos olhos trocados, esboço de sorriso. Aqui, mermão, foges do fingimento de fingires que és outro. Aqui, no perfume da maresia, podes ser tu que ninguém tem nada com isso. Fazer mesmo mais como? Sendo só mesmo tu!Tas cansado? Senta aí um pouco, verte mais uma para te olear as ideias. Respira o ar que vem desde lá do início dele
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3 comentários:

  1. Será ? Os filósofos não encontram certezas. Apenas as procuram.Só isso. Vai , mermão, vai nessa do procurar...

    "Respira o ar que vem desde lá do início dele "

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  2. É esse ar mesmo de lá que me está a faltar... e que espero em breve reencontrar.

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  3. Me manda depois um respiro daquele nosso ar.
    Pode, então, acontecer que eu passe a respirar melhor (mais puro)

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