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9 de junho de 2006

Queria dominar a rima

Hoje nem caminho nem estou sentado na beira-mar desse zulmarinho que está aqui no seu tom de azul mar mesmo debaixo dos meus pés. Hoje estou mesmo no pontão que entra dentro dele e me faz ficar mais perto de ti. 50 metros, 60? Que me importa, desde que eu esteja mesmo mais perto de ti? Eu trouxe o meu saco cheio de birras geladinhas para ficar aqui esvaziando, lenta e docemente como quem chama por ti. Onde foi mesmo que eu já ouvi qualquer coisa assim? Mas eu vim para aqui para te poder dizer coisas bonitas, saídas do meu coração, para ti. Queria conseguir traduzir este descompasso, essa fixação, esse meu desespero em palavras devidamente encadernadas e audíveis de modo a te provar que neste mundo inteiro há pelos menos um ser que te gosta mesmo na força do gosto. Queria assim como que dominar a rima perfeita para criar declarações de amor tão coerentes que fossem capaz de convencer-te que eu sinto um sentimento tão profundo por ti que a tua falta é capaz de me matar num qualquer dia. Eu queria contar para ti os meus dilemas, de forma que não te cansasses, antes pelo contrário, te provasse que são todos de fácil solução, especialmente se tu estiveres por perto do ar que eu respiro um respirar de serenidade. Queria saber palavrear e depois colocar num papel todos os meus choros, todas as minhas lágrimas e soluços, todos os meus sonhos e as minhas esperanças. Então tu poderias ver que nem sempre eu choro de tristeza, nem sempre eu lastimo por mágoa, nem sempre me deprimo por ansiedade. Eu choro porque é linda a vida e porque todo sentimento me atrai-te. Eu choro sempre movido por sentimento. Não é ser sensível. É ser de verdade. É não ser de pedra. Se eu tivesse capacidade para te dizer direito estas coisas, tu entenderias que se a gente juntasse nossos corpos e alma ia dar uma coisa a valer. Eu queria saber quantificar a falta, a saudade, o querer e então eu te diria detalhadamente num recado, porque os recados são mais sucintos e mais charmosos do que cartas longas. Mas eu também te escreveria cartas. Monografias. Teses. Queria fazer do amor equações, de modo que fizesse sentido e assim eu poderia, usando de uma ou duas fórmulas, dominá-lo em resultados redondos.
Queria dizer-te tanta coisa, que se eu soubesse como dizer-te, talvez uma vida fosse curta. Acabei as birras pelo que tenho de voltar atrás e voltar a encher o saco para voltar aqui e um dia poder-te recadar com as palavras simples que brotam na minha boca mas tem a nascente lá dentro do coração.
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