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11 de dezembro de 2006

A areia do meu desejo


Procuro o teu lugar.
Esse lugar de onde tu vens, de onde estás, de onde és.
Procuro-te, nas areias da minha desilusão, um sentido adequado para dizer-te desta angústia desconectada do conteúdo de um disco rígido.
Estranhos medos dos silêncios que me devolves.
Caminho nesta areia das mil cores neste verão do meu interior, procurando o teu lugar.
Que lugar ocupas em mim?
Alucino-me na textura das tuas imagens, das tuas recordações, dos teus amigos. Tu tão terrena e para mim tão celestial.
Tento encontrar o caminho nas horas que passam, de modo a aprender a voltar para o teu encadeado silêncio.
Silencio-me também? Sabes que eu jamais conseguiria ser o teu silêncio, a tua boca fechada. És tu a minha lágrima.
Afinal somos feitos de areia, maleável e despretensiosa, mas ao mesmo tempo firme e serena.
Caminho ouvindo o marulhar arritmado das ondas do zulmarinho tentando abafar os teus silêncios.
Alucino-me!
As nossas partes infinitesimais sabem levar uma mensagem. Nostalgia, angustia, saudade.
Caminho de um lado para outro. De areia em areia à procura do teu lugar dentro de mim.
Se calhar era mesmo ao contrário o que eu devia procurar, o meu lugar dentro de ti.
Olho-te na minha imaginação. Subo os teus montes, desço as tuas colinas. Saboreio-te com a vontade de te possuir de uma forma frenética. Não encontro nada mais belo que o teu contexto. Não há nada mais belo em mim se não o caminhar-te nos pensamentos, procurar-te nos meus lugares comuns. Vivo-te ausente.
Eu sei que vou descobrir-te, um lugar novo onde possamos ser tu e eu num alucinado ritmo de utilidades reciprocaras.
O que eu sempre devia ter descoberto é que não te devia ter perdido nunca. Hoje não teria que te procurar, não estaria na dúvida dos nossos lugares em cada um do outro.
Te esculpo, em cada segundo de mim, numa imagem real de todas as dimensões e calores.
Procuro-te na minha desilusão cobardemente disfarçada de medos.
Construo-te na perfeição imperfeita de um ser perfeito.
Construo-te nas minhas cores e paladares.
Construo-te castelo de cartas enfadadas de sonhos.
Bebo à tua saúde.
Na nau da minha imaginação recolho as velas e deliro-me nas tuas areias, beijo-te a alma.
És a areia do meu desejo.


Sanzalando

4 comentários:

  1. Viva:

    Por agora quero desejar-te uma óptima semana.
    Um abraço,

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  2. Só ... EXCELENTE! Obrigada!! Fico mesmo sem palavras para expressar o que sinto quando leio algumas das coisas que escreve ...

    Deixo um beijinho

    NC

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  3. Gostei imenso. Lindo. Li e reli.
    Tirei o som à "Rádio Cotonete" e estava a ouvir a "Linha Africana" na RDPÀfrica, que nem de propósito estava a transmitir uma morna de Cabo Verde, que cabia no texto....
    W

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  4. Palavras tão doces, ternas e cheias de sentimentos. Que encanto!
    Me fez viajar na mesma a emoção.
    Muito lindo! Um sonho.

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