José Chibante pensou que tudo ia ser diferente. Nova paixão, novo brilho nos olhos, sorriso ensaiado e palavras soletradas em bem perceber. Agora vamos começar do princípio e rever a vida de José Chibante.
Ele sempre se tinha sentido um gajo sozinho nesse mundo. José Chibante o solitário, dizia ele nos seus pensamentos. O ermita diziamos nós desconfiados dele. Ele, dizia, sempre se encontrava sozinho quando precisava de ajuda nos seus monólogos de ocasião.
Burrié, seu cão de estimação, adorava dar banho nele, fazer festas, dar comida, brincar de rebolar no chão e mesmo assim, ingrato Burrié, um dia foi embora e nunca mais voltou. José Chibante era gostado, dizia ele, só pela D. Maria, senhora sua mãe e minha tia. Toda a gente gostava de D. Maria assim como D. Maria gostava de toda a gente, desde que tivesse dinheiro para lhe dar. Chibante lhe defendia de unhas e dentes quando ouvia estórias que ele jurava não podiam nunca ser verdadeiras. José Chibante, primeiro muito educadamente e depois com violência lhe defendia mesmo sabendo que ia ficar com mais dores que dormir sobre pau. D. Maria chorava e lhe pedia desculpa e dizia nunca mais vai haver outra vez que só durava até outra vez. D. Maria um dia também partiu e não deixou nem um bilhete a lhe dizer que lhe gostava muito. José Chibante chorou a noite inteira, todas as noites de seguida até que as lágrimas secaram.
José Chibante passou a sonhar acordado com a namorada de infância que diz ter tido mas que ela não sabia e a gente nem conhecia ou tinha ouvido falar. Seu primeiro e único amor. Não lhe deu beijo nem abraço, mas lhe mandou muitas cartas escritas que nunca entregou. Imaginava o seu beijo e o calor do abraço e traduzia em palavras esses sabores.
Um dia eu li, de esguelha, uma carta dele que ele esqueceu de esconder quando lhe visitei. Consegui ler que 'o teu sorriso é tão lindo quanto o sabor do teu beijo'. Letra desenhada de quem escreve com amor puro. Desisti de ler mais, pois ainda eu chorava ou instigava ele. Não era correcto e não fazia sentido. Eu ficava nervoso nesses indelicadezas e ia sair asneira. Não aguentei a pressão e lhe perguntei para quem era aquela carta. Me respondeu secamente: ninguém!
Depois, José Chibante, cresceu. Não lhe conheci companheira, amiga ou amigos. Era independente, me dizia ele sempre em tom de antipatia quando eu lhe instigava a solidão. Ele me dizia que não queria viver que nem cão e gato como via nos vizinhos que sempre estavam na guerra.
Um dia, depois de muitos dias sem lhe ver, já meu cabelo estava cinzento do tempo, lhe vi com donzela de corpo perfeito. Eu amarrado num andar reumático e ele sorrindo para mim como nunca lhe tinha visto os dentes.
José Chibante que estava à minha frente não podia ser o José Chibante que eu conhecia faz tempo de muito tempo eu nascera.
Donzela lhe punha a cabeça no ombro e ele parecia derretia de fazer inveja. Primo doidou, me perguntei eu. Ele ria enquanto eu, por dentro chorava, as vezes todas lhe instiguei de brincadeira de criança que não sabe mais que fazer para parecer é o mais importante.
Me explicou com todas as letras: te lembras a carta que tu leste uma vez? lhe disse que sim. Pois eu estava a guardar para ela que eu sabia ela ia aparecer tal e qual eu sonhei desde criança. O beijo sabe que nem o sorriso e alegria tudo misturado.
José Chibante acompanhado e eu ali solitariamente independente.
A gente fica com as sementes que guardou.
Sanzalando
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