Vou só no caminho por aí, feito vagabundo de mim. Na minha cidade quadriculada, na minha cidade em altura de casas térreas, nos meus amigos da esquina, da esplanada do café ou do recreio do liceu, eu lhes recordo o meu sonho: poetizar o silêncio. Cada um de nós tem dentro um silêncio bem guardado, não é escondido, é mesmo só bem guardado. Esse silêncio pode ser poético porque ele é calma, é organização do caos, é esforço e transpiração. Desse silêncio, sem medo, é um bocado de nós e assim ele deve ser ritmado, melódico e rimado. O meu silêncio é poesia.
Rádio Portimão
Podcasts no Spotify
- podcast no spotify
- K'arranca às quartas
- Felizmente há luar
- Livro do Desassossego
- Dia Mundial da Poesia
- Caminhos Imperfeitos
- Os transparentes
- Jaime Bunda Pepetela
- Portugal e o Futuro
- Programa 14
- Amores e Saudades de um Português Arreliado
- A Bicicleta que Tinha Bigodes
- O Avesso - Graça de Sousa
- Conto dos Cães e Maus Lobos
- Chamas de Amor
- Trilogia de Anabela Quelhas
- Programa 24
- Tesourinho Musical
- Sarmento de Beires e sua obra
- Programa 25
- Crónica 15
- Miguel Torga
- Crónica 16
- Tesourinho Musical 2
- Programa 26
- Programa 27
- Crónica 17
- Tesourinos Musicais 4 os Ekos
- Programa 28
- Posso dar-te uma Palavra?
- Crónica 18
- Tesourinho Musical 5 - Chinchilas
- Programa 29
- Saramago no texto de Anabela Quelhas
- Tesourinho Musical 6 - Conjunto Mistério
- Programa 30
- Crónica 19
- Algarve em Transe
- Tesourinho Musical 7 Tony de Matos
- Programa 31
- Crónica 20
- Livro - Sangrada Família
- Tesourinho Musical 8 - Sheiks
- Programa 32
- Crónica 21
- Manuel da Fonseca
- Tesourinho Musical 9 - Night Stars
- Programa 33
- Crónica 22
- Mia Couto -Terra Sonâmbula
- Tesourinho Musical 10 - Conj. António Mafra
- Programa 34
- Crónica 23
- As três Vidas - João Tordo - Livro
- Tesourinho Musical 11
- Programa 35
- Crónica 24
- Guilherme de Melo - Autor
- Tesourinhos Musicais - Os Álamos
- Programa 36
- eu e a cidade
- Crónica 25
- A Casa dos Budas Ditosos - João Ubaldo
- Tesourinhos musicais - Os Gambuzinos
- Programa 37
- Ruy Duarte de Carvalho - Autor
- Crónica 26
- Microfone Livre 02
- Tesourinhos musicais 14 - Blusões Negros
- Programa 39
- Tesourinhos Musicais 16
- Crónica 28
- Bambino a Roma - o livro
- Programa 40
- Crónica 29
- Luís Fernando Veríssimo - 2 livros
- Tesourinhos Musicais - Madalena Iglésias
- Os Maias - Eça de Queiróz
- Crónica 30
- Microfone livre 05 - Graig Rogers
- Programa 41
- Tesourinho Musical 18 - Conjunto Académico João Paulo
- Programa 43
- Tesourinhos Musicais - Os Kiezos
- As Intermitências da Morte - Saramago
- Crónica 32
- Programa 44
- Circulando aos Quadrados por Anabela Quelhas
- Tesourinhos Musicais 20 - Os Ekos
- Crónica 33
- Programa 45
- Crónica 34
- Tesourinhos Musicais 21 - Conjunto Mistério
- Manuel Rui Monteiro - Quem me dera ser Onda
- Programa 46
- Crónica 35
- Tesourinhos musicais 22 - N'Gola Ritmos
- Anibalivro Rui Zink
- Programa 47
- Crónica 36
- Tesourinhos Musicais 23 - Os Joviais
- Manuel Teixeira Gomes - Gente Singular
- Programa 48
- Crónica 37
- Tesourinhos musicais 24 - Quarteto 1111
- Jamina Ann da Silva - Mensagens Encantadas
Programas K'arranca às Quartas no Blog
- Programa K'arranca às Quartas
- Programa 21
- Programa 22
- Programa 23
- Programa 24
- Programa 25
- Programa 26
- Programa 27
- Programa 28
- Programa 29
- Programa 30
- Programa 31
- Programa 32
- Programa 33
- Programa 34
- Programa 35
- Programa 36
- Programa 37
- Programa 39
- Programa 40
- Programa 41
- Programa 42
- Programa 43
- Programa 44
- Programa 45
- Programa 46
- Programa 47
- Programa 48
31 de agosto de 2022
30 de agosto de 2022
fim de tarde
É fim de tarde e como em todos os fins de tarde a minha alma se expande pelo meu corpo num preguiçar de sensibilidade, numa fragilidade de sentimentalismos, num recordar de saudades que não me levam ao choro porque o meu passado é a minha vida, são as minhas cicatrizes, os meu degraus, os meus amores por quem morri tantas vezes.
Todos os fins de tarde recordo que a noite me encobrirá até a um novo dia que me mostrará a importância de ser quem sou.
É com orgulho que ao fim da tarde olho para trás.
29 de agosto de 2022
o livro que sou
Hoje vou caminhar por mim adentro faz de conta eu sou um livro por escrever. No prefácio vou escrever o lugar onde fui concebido, onde minha mãe e pai se encontraram num amor cujo o fruto saiu este gajo que sonha acordado faz de conta caminha. Como não sei a verdade dos factos eu ia ter que inventar e esse não é o meu sonho de ser real. Deixo só esse prefácio em branco e sigo para o livro propriamente dito. Havia um jogo do Benfica contra o Sporting e quem ganhou foi o Benfica, foi o meu pai e perdi eu porque até acabar o relato ele não foi saber de mim. Por sorte eu não tenho nome de clube nem de jogador da bola. Páginas mais à frente eu cresci e passei a ser um caminhante de palavras inventadas e frases feitas, para além doutros defeitos que não me compete relatar ou constatar. Também não me ficava bem dourar um gajo de bonito.
28 de agosto de 2022
de lá aqui
Me deixo levar pelos passos descontados duma caminhada sem rumo definido ou calculado. Assim num modo vago acho já me dei duas ou três voltas ao mim, sem saber ao certo o que é que me define ou deforma. O que eu sei é que, olhando-me nesse olhar penetrante e concentrado, vejo que por trás deste meu amante coração existe um ou outro ponto fraco. Esse ponto fraco é a saudade. A intensa saudade desse amor incondicional ao momento em que nasci. Desse ponto ao até ao ponto hoje eu aprendi.
27 de agosto de 2022
26 de agosto de 2022
25 de agosto de 2022
nós no eu
Encostando-me por caminhos de sol e sal, pachorrentamente me deito na areia de muitas cores de uma praia deserta e navego por sonhos e ideias, memórias e raízes. Todos temos uma estória, uma qualquer coisa que nos marcou e nos fez únicos. Temos algo que nos fez especiais. Todos temos um eu dentro de nós.
24 de agosto de 2022
23 de agosto de 2022
num banco de jardim
Sentado num qualquer banco de jardim, dou por mim a pensar tanta coisa bela, ao ponto que a beleza por si deixou de ser subjectiva e passou a ser um concreto sentimento de olhar. Aquela flor é linda. Para quem gosta da cor, do formato e se calhar do perfume. E quem não gostar? Mas a flor é linda e não o deixa de ser se alguém não gostar. Eu sei que eu e o meu coração andamos sempre juntos e às vezes em desacordo. O coração ama e o cérebro diz não.
Sentado num qualquer banco de jardim me sento a pensar.
22 de agosto de 2022
trocas
Tem dias que parece que caminho em vão. Não no vão da escada, não no vão de um vazio mundo, mas no vão de todos para outra banda. O alinhamento das notícias está de tal modo colocado que de lágrima em lágrima acabamos numa lástima. Algo se esconde por trás de tanta mudança e alteração. Altera-se o estado de espírito, muda-se o modo de vida, altera-se o pensamento, muda-se a personalidade. Já dizia o poeta que o mundo era feito de mudança.
Mas eu mudo-me em vão. Vão ler para trás que para a frente não sei o que escreverei ou caminharei. O passado sei que fui.
21 de agosto de 2022
como
Vou caminhando por palavras, sempre num certo sentido, umas vezes indo e outras voltando. Como posso não dizer o que sinto, ignorar ou esconder quando estou cansado e me apetece sentar a um canto de mim e admirar, apenas olhar. Há erros que viraram consequências, há cicatrizes que se recordam e outras que se esquecem.
Tudo vem à memória e não me posso calar. Sentado no caminho ou caminhando um dia eu vou deixar de ser palavras soltas, cruzadas ou paralelas, seguidas ou salteadas e num meio duma multidão de frases se ouvirá o meu silencio repleto de sentimentos.
Afinal de contas eu sou humano
20 de agosto de 2022
arrastarei
O meu caminhar já não levanta o pó de outrora. Os meus passos são mais calmos, vagarosos e suaves. Um dia arrastarei os pés e para lá da poeira o trajecto será curto e confuso. A marca não serão pegadas mas sim um trilho paralelo de confusas indecisões, um desencontro mental e físico, um verso e reverso existencial, finitos temporais de acalmia mental. Mas até esse dia eu caminharei como caminho agora, lentificando-me a cada instante até ao instante que pararei de caminhar.
O tempo não para mesmo quando o zulmarinho continua no seu ondular pachorrento de calmaria de um dia de verão, os meus olhos se atiram em olhar para lá da linha horizontalmente curva e o meu pensamento vagueia por memórias percorridas.
Sanzalando
19 de agosto de 2022
retrato
Vou caminhar solitariamente por mim. Não há forma de conhecer-me sem me saber inteiro, complecto e quem sabe complementado. Deve haver uma forma de me kitar como aos fazem carros e motas. Assim eu ia parecer mais qualquer coisa fictícia, conforme os gostos. Me olha eu kitado. No cabelo feito implante ou peruca de tom avermelhado de cor que vem lá das Indias. Olha-me eu de músculos definidos parece é jogador da bola. Olha eu a andar parece flutuar em vez de arrastar os pés no peso da idade.
Brrrr
Não é a mesma coisa. Vou deskitar e ser eu na sua esplendorosa forma de ter vivido.
18 de agosto de 2022
de memória
Do alto da minha memória, seguindo as pegadas que deixei numa das vezes que por aqui passei, vou seguindo caminho, umas vezes contra e outras a favor do vento, que sopra indelicado, uma vezes vindo do deserto, outra do leste, sendo este quente e aziago para as pessoas segundo dizia a minha avó. Neste meu caminhar, sobrando tempo chegam as ideias, recupero memória, desalinho o pó que sempre fica nos bibelôs da recordação, construo os meus castelos e deposito neles as minhas princesas, rainhas e demais concubinas.
Pelo caminho sonho ao ponto de já não conseguir distinguir a realidade do sonhado, o sonho do pesadelo e da memória ténue dum tempo qualquer.
Ela tinha tranças? O meu caminho é tão entrançado que já não me lembro. Lembro-me sim que o seu olhar tinha sabor. Sabia-me a pouco
Sanzalando
17 de agosto de 2022
eternamente tua
Quantas vezes ouvi o eternamente tua?!
Na minha cidade, lugar de meia dúzia, dum hoje que já não existe mais, porque passaram muitos quotidianos desde o tempo em que a meia dúzia se conhecia e se cumprimentava, sendo que hoje estão espalhados por tantos aís, para além dos que foram mais além da vida, que o lugar pode existir geograficamente, mas não o lugar da minha memória. Mas eu dizia que na minha cidade, quadriculada para que ninguém se perdesse, plana, para que ninguém de cansasse, eu tive os meus primeiros amores. Os amores perfeitos e eternos. Hoje sinto que dói o passado não ser presente, o somatório dos quotidianos não ter futuro porque amanhã a gente não sabe se existe. Mas eu diziam como dói eu não ser mais o miúdo adolescente da minha cidadezinha. Terá sido uma benção amaldiçoada ou uma maldição abençoada? Como dói hoje o ardor da minha juventude, a inconsciência das minhas memórias afectivas, os beijos que não dei, as palavras que não proferi, o medo de ver o tempo sem ter tempo para o gastar.
Quantas vezes ouvi o eternamente tua?! Tantos eternamente que se subtraíram ao meu presente de então.
16 de agosto de 2022
paixões antigas
Sentado no caramanchão da avenida, sob uma buganvília na sua mais cor de rosa flor, ao som dum mar que a brisa imita ao fazer tangente nas folhas, me deixo levar pelos amores que amei. Eu me lembro que houve paixões que me mataram um pouco cada dia da sua duração. Eu mergulhava na dor dessa doce ilusão de amar perdidamente, sempre com medo que amanhã não chegasse mais, sempre receoso que amanhã eu ficasse mais feio e ela desolhasse-me para todo o sempre. Na verdade eu não tocava viola, eu não sabia cantar e era assim um artolas sem sal debaixo duma cabeleira que nem bem nem mal me ficava. A minha paixão era o instante. Aquele instante.
Felizmente, para memória futura, nenhuma paixão me matou de morte morrida e concretizada.
Todas as minhas paixões podiam ter dado certo. Ou não. Duraram o máximo de todos os mínimos para hoje as recordar. Em todas fui feliz e ri com vontade, mesmo que à minha volta o mundo girasse ao contrário. Amei sempre sem saber que tanto amor podia terminar amanhã dum dia seguinte qualquer.
À sombra do caramanchão de buganvília, recordo as paixões cor de rosa da flor do meu coração, sem saber de há encadernações novas em vidas futuras.
15 de agosto de 2022
deve ser, deve
Deve estar a chegar a altura de me sentar à beira do caminho e ver passar os caminhantes que têm muito para percorrer. Ainda tenho muitos caminhos que gostava de fazer, mas tenho de ser selectivo porque o tempo se gasta num gastar solitário e silencioso. Se eu me sentar e caminhar na memória sei que vou sentir-me frágil e ao mesmo tempo vitima dos caminhos que não percorri, das travessas por onde não passeei, das pessoas que não abracei e dos olhares que desviei.
Deve estar a chegar a altura de me sentar e rever o meu bater de coração, deixá-lo tranquilo revivendo futuros imaginados, curar os desassossegos nas noites calmas dum verão eterno.
14 de agosto de 2022
nos meus caminhos
Nas minhas caminhadas não posso fazer sempre o mesmo caminho. Na verdade se o fizer eu nunca me perderei, porém também nunca me acharei, nunca me reencontrarei, nunca evoluirei. Nesta minha mente que quero inquieta, neste meu corpo que vai dando de si, serei sempre um cativeiro de mim, mesmo que o meu cativo seja um livre estar, pensar e agir, porque jamais conseguirei romper as amarras que me amarro a mim. Assim sendo os meus caminhos, livres, aleatórios, são sempre um pouco de mim.
13 de agosto de 2022
o nosso dia
Como sempre há dias bons e dias como que assim. Não posso dizer que são maus porque isso seria atirar para o mesmo saco os momentos bons que sempre os há e esquecê-los. Tomos como exemplo aquele momento de silêncio que veio acompanhado por um sorriso. Num dia menos bom o silêncio pode parecer ensurdecedor, carregado de medos, porém se salpicado de sorriso... enche a alma. Tem dias, que por parecer menos bons, queremos mudar tanto até deixamo-nos de reconhecer. Deixava de ter piada olhar no espelho e nem saber quem estava ali reflectido. Outras vezes desejamos tanto estar num paraíso que até esquecemos de viver a vida.
Em resumo e para poupar palavras que me possam fazer falta para outros momentos, nós precisamos encarar cada dia como o nosso dia.
12 de agosto de 2022
uma estória de desamor
Meu nome é Jota e sou, acho eu, um gajo normal. Tenho sonhos, tenho qualidades, tenho defeitos, alegrias e tristezas. Meu horizonte é curto na minha curta cidade. Desejo trabalhar, casar e viver feliz para sempre como nos filmes do Eurico, nas matinés de domingo à tarde.
O nome dela é Maria, é mulher linda ainda a se fazer. Tem sonhos, muitos sonhos, é perfeita e me olha pouco.
Eu, Jota de nome completo, todos os dias falo com Maria de nome mais comprido parece é rainha, sei que ela me presta pouca atenção porque está assim mais focada nos seus sonhos, nas suas qualidades, na sua perfeição. Nos amamos, mesmo que ela não saiba o que sente por mim, embora muitos pensem como eu. Eu acho nascemos um para o outro, mesmo que ela não faça a mínima ideia do que é que eu acho.
Se eu tivesse estudos eu ia dizer que de futuro ia sofrer de depressão por não ser correspondido, mas como eu só ando na escola porque minha família me obriga, eu acho é só ela ainda não descobriu o eu de ser Jota de nome completo, nos meus sonhos e qualidades. Um dia Maria vai acordar para o mundo real e me vai olhar e o seu olhar vai brilhar parece é estrela decadente, caindo na realidade e ver o quanto seu Jota é o perfeito para ela. Um dia ela vai saborear o meu passar, vai dançar o meu olhar, vai sorrir o meu sorriso e vai dizer que o Jota dela é o cúmulo da perfeição e vai ser só para ela no resto das nossas vidas.
Bem, um dia a cidade curta das nossas vidas se mudou para outra latitude e longitude, cresceu a olhos extraviados e nomes enviesados, seus horizontes, seus desejos e qualidades, seus sonhos e defeitos se modificaram, o perfume a terra molhada se alterou na radicalidade dum crescimento exponencial ao estudo e fervilhar da mudança que o que era um corpo uno e indivisível se deixou de ver, se alterou na substância e circunstância, que nunca mais se puderam olhar nem de frente nem de lado.
Eu de Jota fui perdendo aqueles sonhos e ganhando outros e ela de Maria foi ganhando outras raízes, outros ramos e ambos se perderam de um amor para toda a vida.
11 de agosto de 2022
irando
Um dia, que pode ser de noite ou tarde, pararei de caminhar. Desconheço o tempo e o modo. Desimporto-me totalmente porque caminho com olhos no futuro, sem tropeçar em passados mas desfrutando o presente. Assim como poderei recear o caminho que me levo nas palavras, no silencio e no olhar?
10 de agosto de 2022
caminhos
Já não dou conta dos passos que dou, dos caminhos que percorro, dos lugares que fui e dos que por acaso recuso. Tempos muitos me levam a memória que até fazem que me pergunte se sou quem eu penso ser. Nos meus caminhos, por vezes tão imperfeitos, idealizo a imagem da perfeição, o crescimento sustentado nas idades novas duma adolescência feliz, nos exemplos sagrados dos mais velhos, nas estórias ouvidas, contadas ou inventadas, no meu passado em geral.
Já não dou conta das palavras, dos silêncios e dos gritos intersticiais da minha existência. Perdi-me por aqui, por ali e sei lá por onde, mas chegar aqui foi uma bela caminhada, foi o sentir da encruzilhada que se chama vida.
A vida é o caminho e nem sempre o mais fácil mas sempre o mais bonito.
9 de agosto de 2022
vou vagabundar-me
Vou só caminhar por um qualquer aí. Pode ser uma visita ao passado ou ao presente já que o futuro me está vedado por imprecisão.
Desde faz muito tempo os homens precisaram marcar posição mesmo que isso pudesse levar a um conflito de dúvida entre o colectivo e o pessoal. Assim eu não sei precisar a diferença entre o meu passado e o eu de hoje. Não tem essa linha e se a há ela é-me totalmente invisível. Eu sei que o nascer dá cabo da saúde, o viver leva na morte certa e o hoje é euforia. Só se eu vivesse noutra galáxia podia ser diferente.
Se eu sou assim vou fazer mais como então?
Sou o logotipo da minha pessoal marca de vida, sou o punhal e sou a ferida, bem como o penso e o que penso.
Por isso hoje me vagabundo por ruas e ruelas de mim como se passeasse na projecção explosiva, na minha existência que só tem passado e futuro depois se saberá.
8 de agosto de 2022
silêncios
Às vezes o silêncio parece fazer um barulho que atormenta a alma. Às vezes, quando acordas feliz e num ápice te embrulhas no silêncio alheio e quando dás por ela perdeste a tua felicidade. Às vezes só por um assim que nem sentiste ficaste num escuro silêncio que passas o dia parece atropelado pelos barulhos de dentro.
Às vezes é só silêncio que se conecta com o intimo e perdes um bom bocado irrecuperável de ti.
Às vezes nem o teu optimismo e positivismo conseguem ultrapassar a tristeza desses silêncios. Tem silêncios que são dor, tem os que são ferida e tem os que são só silêncios irremediavelmente maus.
Gosto dos meus silêncios, desde que eles não interfiram nos silêncios dos outros.
7 de agosto de 2022
pé ante pé
Pé ante pé caminho muitas vezes em direcção a lado nenhum. Não por distracção nem desorientação, apenas porque não me apetece traçar rumo e à deriva tem outro sabor, por vezes salgado e outras insonso ou mesmo sabor a nada.
Às vezes quero caminhar sobre mim e não há mais que silêncio. Calo-me e ouço-me respirar.
Às vezes quero caminhar contigo e olho para o lado e nada vejo para além duma sombra que me acompanha silenciosamente e deformando-se nos obstáculos. Tantas vezes é apenas a sombra deste meu corpo.
Pé ante pé lá vou eu caminhando por aí.
6 de agosto de 2022
de passado ao presente é vida
Lá, no lugar que ficou a placenta que me ligava na mãe, hoje vai haver festa com corridas de carros e tudo o que a festa dá direito. Eu continuo jovem, mesmo com o tempo passando veloz sobre o meu tempo e decidi que o meu lugar é lá, na memória. Nas minhas estórias há lugar para a minha história, para as minhas personagens, para os meus amores, meus horrores, meus segredos e meus medos.
Não vivo no sonho de um desejo que não voltará. Vivo no hoje com essa memória de toda a minha história na estória de cada dia. Da minha pena, faz conta sou de antes do tempo de terem inventado a esferográfica e o computador, saem palavras que passam pela refrescante memória até ao calor de cada momento. Tudo me é real, mesmo o que inventei, apenas sonhei ou desejei. Mas essa realidade, esses 3 D, me faz sentir, ver e ouvir cada silêncio como um agora mesmo constante.
A minha estória da histórica vida que vivo é uma realidade que eu construo em cada instante.
5 de agosto de 2022
estorinha
Eu desenho caminhos, uns em papel, outros na imaginação e outros ainda busco na memória. Pelo menos tento ter sempre um caminho à mão. Não me importo se a paisagem é monótona ou luxuriante. Tem de ter a paisagem desde a minha adolescência até aos dias de hoje. Rabisco um e outro caminho. Uma porta que bati e fugi a me esconder e rir de ver a cara da D. Maria Guedes a ver que não estava ninguém. Uma chamada telefónica a perguntar ao sr. Orlando se tinha ginguba com casca e ele ouvir quase de seguida para sacudir e não ser porco. O Sr. Reis a ficar vermelho por causa dos pasteis de nata. Tudo rabiscado no silêncio do meu passado.
Fui chamado para ir jantar e assim acabei este caminho por hoje que a mãe não gosta de esperar por mim na hora de comer.
3 de agosto de 2022
calor, interiormente
Sobe a temperatura. Nem o zulmarinho me arrefece o corpo que arde. É assim um arder de saudade incandescente, um queimar fluorescente, uma borboleta esvoaçando na minha cabeça numa catadupa de ideias ferventes.
O zulmarinho marulha numa perfumada maresia enquanto eu me desculpo de ser como sou e não outra personagem da minha qualquer estória, enquanto eu me desconto nos desgostos que causei nas frustrações de antanho.
Sobe a temperatura e eu desenterro-me de emoções, sonhos e do melhor que há de mim em mim. Tento ficar sem nada para mim. Sonhos e sentimentos.
Dou-os enquanto o calor me ferve o corpo que o zulmarinho me arrefecerá num dia de outros invernos.
Um dia eu vou conseguir tirar a armadura de mim e vou ser esse assim, a outra personagem de mim, mergulhado no zulmarinho purificando-me em banho-maria.
2 de agosto de 2022
simples
Se eu caminhasse com os meus demónios, alimentasse as minhas ansiedades e entornasse pecados na minha alma eu estaria há muito fora deste corpinho que me envolve e me dá forma. Se eu vivesse na inocência e desconhecesse o desassossego, há muito estaria apenas nalguma memória ou num rabisco informático desactualizado.
Desesperado, vazio e lacrimejante são palavras que procuro não soletrar nos passos que dou pelos meus caminhos, nas minha meditações ou recordações. Não porque me façam mal, não porque seja um optimista nato, apenas porque os meus sonhos são coisas bem mais simples de sonhar ou caminhar.
É tão fácil ser simples, pensar simples e simples viver.
1 de agosto de 2022
silêncio de olhar.
Como é que eu vou usar as palavras se nem me apetece mexer as pálpebras? Vou usar mesmo o silencio e transferir o meu diálogo para o olhar. Acho o olhar engana menos que as palavras. Acho percebo melhor pelo olhar. Acho ouço melhor através do olhar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)